A decisão da presidência da Câmara de Cáceres, em construir prédio próprio para o legislativo provoca resistência, principalmente, de setores do comércio, que veem a iniciativa como “prejudicial” tanto para a categoria quanto para o Centro Histórico Municipal. A direção da Câmara, no entanto, diz que a construção de um novo prédio para o parlamento é necessária.
Presidente do Legislativo Municipal, vereador Domingos Oliveira dos Santos, diz que irá apresentar, nas próximas horas, através do site Expressão Notícias, um documento em que elenca sobre as deficiências do prédio e que comprova a necessidade urgente de mudanças.
De acordo com o projeto, o novo prédio será construído na área do Centro Operacional de Cáceres (COC) – onde se localizada a prefeitura e órgãos governamentais, como Empaer, MPF, Justiça do Trabalho, Indea, Justiça Eleitoral, Polícia Ambiental, Força Tática, Escola Técnica Federal, entre outros.
Os lojistas argumentam que, além da desvalorização do Patrimônio Histórico Municipal, a mudança irá contribuir ainda mais para enfraquecimento do comércio na área central da cidade.
“Somos uma cidade histórica, com potencial turístico enorme, inclusive, de turismo cultural. Falar em desativar ou mudar o prédio da atual Câmara é um mal exemplo de valorização do nosso Centro Histórico Municipal, sem falar nos prejuízos que podem causar aos estabelecimentos da região central” afirma o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Cáceres (ACEC), Thiago de Lucas Pereira Pinto. Assinala que “temos que analisar o aspecto econômico e cultural do projeto, antes da mudança” e justifica “estamos vivenciando um cenário econômico assustador, a desvalorização do real, o baixo poder de compra do cidadão brasileiro e os reflexos econômicos da pandemia são responsáveis pela falência de milhares de empresas e em Cáceres não é diferente”.
Ex-presidente e membro da Câmara de Dirigentes de Cáceres (CDL), o comerciante Faustino Natal tem a mesma linha de raciocínio. “A área central de Cáceres que já foi destaque do comércio em toda região, hoje está enfraquecida. E, falar em mudar a Câmara é querer acabar de vez com a vida dos comerciantes”.
Faustino aconselha: “ao invés de propor essa mudança, o que os nossos vereadores deveriam fazer é encontrar, junto à prefeitura, meios alternativos para incentivar e aquecer o nosso comércio. Nosso ramo, emprega milhares de pessoas direta e indiretamente. Gera renda para o município. Creio que devemos avaliar melhor essa proposta”.
Para o comerciante Gilson Spindola, a saída da Câmara da área central da cidade, irá enfraquecer o movimento do comércio. “Não que os nossos vereadores não mereçam. Mas sou de opinião que a saída da Câmara do centro da cidade vai diminuir ainda mais o movimento do comércio local. As pessoas vão à Câmara, conversar com os vereadores e logo já aproveitam para fazer compras”.
Gilson Spindola diz ainda que “sem contar que o prédio se tornará mais um elefante branco, como muitos outros que já existem em Cáceres, como o clube Humaitá e até o prédio da antiga Câmara que ficou anos abandonado e só agora começa a ser reformado”.“Filme vai se repetir” diz historiador
Um historiador da Unemat que não quis se identificar lembrou que ao construir o novo prédio na Cavalhada, para funcionar o Museu de Cáceres, inaugurado em 03 de outubro de 2018, o ex-prefeito Francis Maris Cruz, não mensurou o tamanho do prejuízo cultural que causou ao abandonar por completo o casarão onde funcionava o Museu Histórico de Cáceres.
E, pelo que vemos, com essa iniciativa da direção da Câmara, o filme vai se repetir, tendo o mesmo roteiro, porém com cenário diferente. “O prédio do antigo museu ficou abandonado até hoje. E o atual prédio dos vereadores será mais um abandono caso eles construam outra sede”, disse acrescentando que “todos sabemos, essa mudança vai ruir de vez um dos atrativos turísticos que são os casarões históricos”.
Histórico
O prédio que abriga atualmente as atividades dos vereadores, foi construído em 1893 pela família do ex-governador de Mato Grosso, Dr. Joaquim Augusto da Costa Marques e, nas últimas décadas funcionou o Banco Comind, Bradesco, Banco do Estado de Mato Grosso e por último, numa gestão do ex-deputado federal Pedro Henry, o governador Dante Martins de Oliveira fez a doação ao Legislativo Cacerense para ter sua sede própria.