Trago assunto por causa das campanhas político-eleitorais deste ano. Nas eleições anteriores a abordagem sobre os temas sociais sempre foi muito superficial. E quando existiu, foi assistencialista.
De 2003 em diante elas se resumiram em puro assistencialismo. E não constroem perspectivas futuras sustentáveis. Foram assentadas em bases puramente do assistencialismo imediatista. Nada de futuro. É como se as pessoas carentes não passassem de ponte pra obter votos e assegurar o poder de grupos políticos. Não mudou e tem cara de que não vai mudar.
Nas eleições de 2022 é preciso mudar esse olhar, cínico e improdutivo. Maligno mesmo.
Vamos aos fatos. Quero ater-me hoje à chamada agricultura familiar. No Brasil coexistem duas grandes pontas. Uma, a agropecuária de alta escala. É econômica e produz ativos para exportação e para a agroindústria. Tem acesso a crédito, tecnologias e mercados. É importante para a macroeconomia do país. E tem a agropecuária familiar. É uma herança do Brasil rural. Pequenas propriedades com produção limitada. Falta-lhes crédito, tecnologia e mercados. São importantes para o abastecimento interno do país. Em Mato Grosso estima-se em 142 mil famílias vivendo nesse nicho. Representam próximo de 45% da população estadual.
Agora falando de política e das eleições. O desemprego nas cidades é estrutural. Tem vagas novas, mas não tem gente preparada em quantidade. Imagine-se gente vinda do campo. Mal preparados porque a educação rural é precaríssima. No entanto, o mundo rural guarda a memória da maiorias das tradições da cultura brasileira. Sabe sobre o cultivo tradicional, sobre plantas, sobre remédios da flora, sobre a religiosidade, sobre a conexão homem-natureza, domina a memória do clima e conhece os segredos da natureza aprendidos ao longo de milhares de anos. Guarda uma fé não religiosa e conectada com os poderes da natureza.
Esse é um aspecto do novo social. Não adianta entregar máquinas, sem entregar tecnologias e nem conhecimento. Não adianta falar em empregos sem dar condições de permanência no campo. Conhecimento hoje vem da assistência técnica e da internet. Não se pode falar em economia agrícola familiar sem falar em internet. Sem falar em plataformas de tecnologia. Sem falar em projetos. Sem falar em crédito estruturado. Sem falar em comercialização. Sem falar em mercados. Sem instruir as pessoas para o mundo novo dos negócios efetivos.
Tratores e máquinas sozinhas são só ferramentas. A agricultura familiar precisa de um vasto conjunto de ferramentas. Em 2013 os cálculo de então mostravam que Mato Grosso importava cerca de R$ 300 milhões por ano em verduras e hortifrutigrangeiros de outros estados. dentro de um mercado de R$ 521 milhões/ano. Hoje se aproximaria de R$ 1 bilhão.
É um vasto universo coletivo de pessoas facilmente enganáveis por discursos irresponsáveis de políticos em busca de votos.
Essa é a nova cara do social no rural familiar. Ideal que os filhos ficassem no campo e não viessem pras cidades se frustrarem e se marginalizarem. Mesmo com o imenso potencial cultural histórico e consolidado ao longo do tempo que trazem do campo.
Seria ótimo que o tema preocupasse governantes e detentores de mandatos. Muitos deles vem de lá. Afinal, 45% dos mato-grossenses merecem atenção.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso