Prêmio 25 Mulheres na Ciência América Latina, da 3M, reconheceu trabalho de professora da Faculdade de Odontologia
Fortalecer e valorizar a presença latina e feminina na comunidade científica. Esse é o objetivo do prêmio 25 Mulheres na Ciência América Latina, promovido pela 3M, que, em sua terceira edição, trouxe mais um reconhecimento para a pesquisa pelotense. Natural de Belo Horizonte, mas com toda a formação feita em Pelotas, a professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e atual coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGO), Giana Lima, 42, faz parte das oito brasileiras que integram a lista de vencedoras do prêmio.
A conquista veio através de um projeto na área de materiais odontológicos, linha em que a pesquisadora dedica seus estudos. O trabalho, que já recebeu patente nacional e internacional, também conta com lista de inventores majoritariamente feminina. A tendência, no entanto, não é comum, já que as mulheres representam menos de 30% dos pesquisadores na área de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).
"A Odontologia é uma área de saúde, mas a área de materiais odontológicos está bem relacionada com os STEMs, que a gente sabe que a maioria são homens. Aqui na faculdade há muitas mulheres estudando, mas na universidade como um todo a gente percebe que ainda é preciso avançar na equidade", avalia.
A necessidade de mais representação também se reflete na coordenação do PPGO, considerado um dos melhores do País. Em mais de 45 anos de existência, Giana é apenas a segunda mulher a assumir o cargo de coordenadora. "Torço para que, depois de mim, outras mulheres estejam aqui também. É importante a gente ir ocupando esses espaços e mostrando que, apesar dos desafios maiores que a gente enfrenta, a gente tem que lutar pela equidade de gênero."
Sobre o projeto vencedor
Desenvolvida na UFPel, a invenção que rendeu este e outros prêmios propõe uma alternativa inovadora de composições odontológicas antimicrobianas, que podem ser utilizadas em materiais com diversos fins, como restaurações, selamentos, tratamentos endodônticos e outros. "Muitas vezes a gente tem problemas na odontologia que precisam ser contornados por alguma infecção microbiológica, então a ideia foi de produzir um material com agentes antimicrobianos, que são os metacrilatos metálicos", explica Giana.
Outros produtos com a mesma ideia já existem no mercado. No entanto, ao contrário destes, a criação do grupo garante mais durabilidade ao efeito antibacteriano e oferece alternativa nacional e acessível. "Em alguns materiais [que já existem] precisa ser adicionado um componente, que pode ser perdido ou tem efeito temporário. No nosso caso é um componente do próprio material que vai tornar o ambiente inóspito para a contaminação e dar mais durabilidade ao efeito antimicrobiano", detalha.
Segundo Giana, o trabalho é um resultado de mais de dez anos de pesquisas realizadas por vários professores e alunos. "Essa patente traz dissertações de mestrado, teses de doutorado e trabalhos de conclusão de curso. Tem toda uma equipe que trabalhou por muitos anos para que a gente chegasse na satisfação de ter o nosso invento registrado nacional e internacionalmente."
Inspiração, família e força feminina
A relação de Giana com a faculdade de Odontologia da UFPel vai além dos laços profissionais e também foi uma das motivações para se inscrever no prêmio da 3M. "Fui motivada pela minha história. Minha mãe se formou aqui nessa escola, eu comecei a graduação grávida da minha primeira filha e hoje ela está no último semestre e vai se formar aqui também. A faculdade não é só trabalho para mim, é família", reflete.
Giana é filha da dentista Ana Maria da Silveira Lima e do empresário Joaquim José de Lima Filho , que todos conhecem como Kincas. O casal mora em Cáceres-Mato Grosso-nota da redação do site Diário de Cáceres.
Mãe de três filhas, a pesquisadora reconhece as dificuldades de ser mulher na ciência e busca inspirar meninas e mulheres a ocuparem esse espaço também. "Sei das dificuldades e das tantas funções e atribuições não remuneradas que a gente tem, então essa é uma oportunidade de incentivar outras meninas e mulheres e mostrar que não foi fácil chegar até aqui, mas que é possível."
Outros projetos
Para além do projeto que rendeu o prêmio 3M, a pesquisadora também destaca outros projetos recentes em que também está envolvida. O principal deles é o Observatório Global do Cuidado Odontológico (Godec), desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde, que busca aproximar os avanços científicos do SUS através da elaboração de diretrizes para a prática clínica. "É um grupo bem grande de pesquisadores que tem o objetivo de disseminar evidências científicas para as práticas de saúde pública. A ideia é colocar a ciência lá no SUS e permitir que os pacientes tenham o melhor atendimento possível de acordo com a evidência disponível", resume Giana.
Na área de materiais odontológicos, ela também destaca a premiada tese de doutorado publicada recentemente que apresenta proposta de autorreparo para restaurações dentárias. A ideia, na prática, diminuiria a necessidade de substituições de restaurações e intervenções clínicas, uma vez que o material evitaria possíveis fraturas da restauração.