A arte do desapego necessária para iniciar novos ciclos exige a postura da inação-ação. Mas Rose, que raios é isso? Eu não inventei nada, foram os grandes mestres. Vamos iniciar com um exercício simples (de inação) para você compreender como funciona a conexão com a alma.
Sente-se confortavelmente em um lugar onde ninguém possa lhe incomodar por pelo menos meia hora. Se for preciso, troque as roupas por outras mais leves e frouxas. Tire os sapatos. Ajeite-se bem. Desligue o celular, a televisão ou qualquer coisa que possa distraí-lo.
Se morar com outras pessoas, peça que naquele período ninguém fale com você. Apague a luz, feche a janela, respire profundamente. Agora você pode ou não fechar os olhos. O importante é se sentir totalmente relaxado (mas sem dormir!). Fique atento ao som do silêncio.
“Caminhar pela “noite escura da alma” significa adentrar neste lugar ainda inexplorado que tanto fugimos para ter esse diálogo verdadeiro conosco, deixando coração e mente trabalharem juntos”
Pode ser que neste momento sua mente comece a querer divagar, mil coisas podem surgir fazendo barulho interno. Mas persista, concentre-se. Olhe ao seu redor, olhe para você e mantenha-se no momento presente. Mexa suas mãos e seus dedos lentamente, observe o quanto seu corpo é perfeito... sinta-se feliz por estar vivo. Sinta-se vivo.
Agora, com a mente calma e tranquila, visualize um momento verdadeiramente feliz. Pode ser qualquer coisa. Um copo d’água que sacia a sua sede. O abraço de uma criança (pode ser seu filho ou filha). O reencontro com alguém que ama. Uma viagem, um filme ou livro. Volte sua atenção ao seu coração. Sinta que ele está se expandindo de amor.
Parabéns, você acabou de abrir os olhos da alma! Agora que a sua luz interior está acesa... Talvez a claridade fira os seus olhos e você não consiga enxergar imediatamente nada, apenas borrões. Existem muitas coisas indefinidas, você não sabe onde está, nem para onde vai. Apenas sente que seu coração bate mais forte, ritmado, é um lugar quente, aconchegante. Ainda que não compreenda o que está acontecendo, persista no exercício. Deixe as emoções fluírem.
Com o passar do tempo você perceberá que estar em silêncio (e sem fazer nada) parece uma eternidade. No entanto, estar conectado com seu “eu interior” lhe dá acesso a um outro nível de compreensão. Você vai iniciar um diálogo interno importante:
- Oi, você ainda está aí? Venha, entre, você é bem-vindo!
Sua alma carinhosa logo lhe dirá:
- Há quanto tempo!
O poeta Mario Quintana dizia que “a alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe”. Ela se sente feliz com as suas vitórias, sabe que independente do que aconteceu, tudo, absolutamente tudo lhe trouxe até este momento de conexão. Mas o convite, agora, é ficar de frente com a sua própria jornada e “sentir” o que estava por trás das suas decisões.
Eram motivações meramente racionais e materiais? Estávamos tomados pela raiva ou pela paixão? Envergonhados, obscurecidos pela ambição ou pelo egoísmo? Erramos e persistimos no erro por ingenuidade e despreparo? Persistimos no erro por comodismo? Por falta de autoconhecimento? O lugar da vítima é confortável?
Caminhar pela “noite escura da alma” significa adentrar neste lugar ainda inexplorado que tanto fugimos para ter esse diálogo verdadeiro conosco, deixando coração e mente trabalharem juntos. Assim, vamos parar de ouvir apenas as vozes externas (que estão dentro e fora de nós) para que essa pessoa que mora dentro de nós tenha sua própria voz.
Rose Domingues é jornalista, escritora no RD Comunicação e escreve exclusivamente nesta coluna às segundas-feiras. E-mail: rose.rdcomunicacao@gmail.com