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Henrique Maluf, o músico cacerense que mistura ritmos e encanta o público
Por Leia Agora
29/10/2023 - 12:00

Foto: reprodução

Henrique Maluf é um nome que muitos mato-grossenses conhecem das baladas e shows dançantes que fazem sucesso em todo o estado. O músico de 36 anos embala as pistas de dança com shows de black music, pop, latinidades, samba, MPB, rock e acaba lançar a coletânea de Rasqueados Cacerenses, projeto que teve show gravado em agosto em um super show realizado no Teatro Zulmira Canavarros em parceria com a Orquestra Cirando Mundo em Cuiabá.

Cantor Henrique Maluf divide palco com Orquestra Sesi neste sábado em  Cuiabá | RDNEWS - Portal de notícias de MT



A História por Trás do Artista desta semana convidou Henrique Maluf para conhecer um pouco mais da vida deste Cacerense que aos 18 anos se mudou para a Capital de Mato Grosso para estudar música. Além de construir uma carreira de sucesso, Henrique também constituiu família e hoje é casado com a também artista Isa e é pai do pequeno Venâncio.

Ele tem 22 anos de carreira, contados desde o dia em recebeu o seu primeiro cachê na cidade de Cáceres quando aos 14 anos de idade recebeu R$ 20 para tocar violão em um barzinho, já rodou o Brasil e o mundo por meio da música e hoje é uma das referências do novo rasqueado mato-grossense.

Com muito bom humor e um cafezinho com bolo de queijo feitos com carinho pela Dona Chica, mãe orgulhosa que adora contar histórias do artista, Henrique recebeu a equipe de reportagem do Entretê em sua casa e contou um pouco da sua história, desde a época de infância em Cáceres, passando pelas aventuras na faculdade de música da Universidade Federal de Mato Grosso e ainda falou sobre os dotes artísticos que vão muito além da música.

Entretê - Vamos começar do básico. Todo mundo conhece o Henrique, que faz shows em todo Mato Grosso, já fez shows na Europa, mas quem é o Henrique Maluf?

Henrique Maluf - É um menino, ainda com pensamento de menino para algumas coisas que sonhava em ser juiz, advogado, mas que se perdeu no caminho porque desde sempre esteve envolvido com a música. Desde as primeiras recordações, as primeiras peripécias na escola sempre esteve envolvido com música. Eu não sei quando que essa chave virou, de entender a música na minha vida, mas eu nasci sempre muito envolvido com a música, desde muito pequeno, então isso foi tomando conta de mim até o ponto que eu falei: “Não tem como voltar atrás”, e foi quando decidi seguir o caminho artístico, me profissionalizar, estudar, buscar um curso superior, enfim. Mas é um jovem senhor de quase 40 anos que ainda sonha em viver da arte, dos palcos pelo resto da vida.

ntretê – Como foi a sua infância em Cáceres ? Você disse que desde pequeno teve esse contato com a música. Como que foi esse contato com a música na infância?

Henrique Maluf - Eu cresci num lar onde eu ouvia muita música, muita bossa nova, MPB, samba. Minha mãe é muito musical, apesar de não ser musicista, não tocar nenhum instrumento, não cantar, ela é muito musical e me influenciou muito. Então, como eu cresci nesse lar ouvindo muita música boa, aos finais de semana eu ia pra casa da minha avó e lá ouvia-se muita música de fronteira, muita polca, guarana, músicas em castelhano, coisas em arpas paraguaias. Essa foi a identidade que eu construí, uma mistura de música mundial com a música brasileira, com essa linguagem e roupagem mundial com a música tradicional mato-grossense influenciada por essa região de fronteira, então eu cresci ouvindo esse tipo de música, foi o que mais me influenciou realmente.

Henrique Maluf, Orquestra e convidados fazem concerto dia 24 - YouTube



Entretê - Quando você disse que ouvia muita música, era música no som ou tinha roda de violão, o pessoal tocando?

Henrique Maluf - Eu ouvia muita música enquanto ouvinte mesmo, não tinha muitas práticas musicais onde eu participei enquanto criança, mas eu tive um tio, irmão da minha mãe, que mora em Campo Grande há muitos anos e vive de música também. Ele que me deu o primeiro instrumento, me ensinou os primeiros acordes. Vivenciei algumas rodinhas de violão nas chácaras por aí, na beira do rio ouvindo com a minha mãe. A gente ia em festa de santo, sempre esbarrava com o professor Arivaldo, com Adãozinho da Harpa, Santos e Amarildo, desde muito pequenininho ouvindo esses nomes que eram referências em Cáceres.

Entretê - Qual foi o primeiro instrumento musical que você tocou e quantos anos você tinha?

Henrique Maluf - O primeiro instrumento musical que eu toquei deve ter sido uma timba em um grupinho de pagode que eu tinha na escola, eu devia ter uns 10 ou 11 anos de idade por aí no União e Força. Eu era uma criança muito bagunceira, sempre fui uma criança muito bagunceira. Eu lembro da primeira série, eu estudava no Colégio dos Freis e eles eram muito rígidos com a educação e como eu era uma criança muito bagunceira, eu não tinha recreio. Eu ia para as salas dos professores e ficava de castigo, e lá eles me botavam pra cantar. Eu ficava cantando nas salas dos professores. Essa memória está muito fresca isso na minha cabeça também, eu cantando nas salas dos professores.

Entretê - Em Cáceres você também tocou muito rock. Como que era esse Henrique roqueiro?

Henrique Maluf - Na minha adolescência eu fui picado pelo rock and roll digamos assim e eu tive alguns parceiros lá que eu sou amigo de vida, amigo de infância que é o Adriano, que era de Vilhena e fazia universidade lá em Cáceres e acabou sendo um grande amigo. O Rafinha, filho do Cido Batera e o Douglas Vanini, meu compadre, meu amigo, irmão. E nós tínhamos uma banda que chamava-se Banda Hard, que era igual KLB, as iniciais dos nomes, Henrique Adriano, Rafael e Douglas. Nós tocávamos muito na praça, ali no Casarão, nos restaurantes da cidade, muito MPB, pop rock. Eu era mais voltado para MPB, para o samba e o Adriano cantava mais os pop rock como Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, Pitty. Nós caímos na graça da Unemat e começamos a tocar nos eventos de lá, foi aí que a gente começou a tocar rock um pouco mais pesados como Guns N’ Roses, Red Hot Chili Peppers, Pink Floyd. Aí nós fomos para o hard rock mais antigo com Deep Purple, Led Zeppelin. Esses clássicos do rock são deliciosos de tocar, ainda mais eu, guitarrista, era uma maravilha, era uma criança no parque, solando tudo errado, mas feliz da vida, era muito divertido. Até hoje eu tenho um show de rock que eu faço de vez em quando. Agora tá bem parado, mas eu tive uma banda chamada The Bugres, que era eu, o Marcos Tubarão na bateria e Roberto Viana no baixo. A gente fazia alguns shows nos bares da cidade, tocamos em outras cidades também como Cáceres, Alta Floresta, Sorriso, Rondonópolis. É uma banda totalmente de cover, mas com essa pegada de rocks clássicos. Quando eu estou muito sobrecarregado, estressado, eu arrumo um show de rock pra fazer.

Entretê - Um tema em que você se dedicou é o rasqueado cacerense, fala para gente como surgiu essa paixão e o que significa este ritmo para você.



Entretê - Vamos falar de você vindo pra Cuiabá e fazendo a faculdade de música. Você disse que seu sonho era ser advogado, mas como veio a faculdade de música?

Henrique Maluf - Pois é, meu sonho era ser juiz, ser advogado, mas nunca tive coragem de fazer esse vestibular. Eu saí de Cáceres com 18 anos. Eu comecei vindo pra Cuiabá fazer cursinho pra fazer direito, prestar lá na Unemat, ir pra UFMT. Ao mesmo tempo que eu fazia o cursinho, era bolsista, também consegui uma bolsa na universidade aqui em Cuiabá, eu fazia administração e cheguei a fazer um ano e aí na hora de fazer vestibular pra direito na UFMT eu me inscrevi para história. Passei e comecei a fazer história. No ano seguinte, na hora de fazer a matrícula pro vestibular de direito, “sem querer, eu apertei em música” e eu passei. Minha de 2008 era a última que poderia fazer dois cursos simultâneos no mesmo campus. Então eu fiz por um ano história e música, porcamente os dois. São duas áreas de conhecimento muito grandes, então não dá pra fazer duas faculdades ao mesmo tempo. Eu larguei história e em 2008 eu entrei pra música e fiquei exatos 10 anos fazendo música. Peguei algumas greves, fui pro exterior duas vezes e me formei em 2018. Foi uma fase da minha vida e foi muito importante porque eu construí laços para a eternidade. Tive relacionamentos importantíssimos como o professor Abel, a maestrina Doroty Collin, que se tornou uma amiga pessoal, orientadora e amiga. Tive relação com a Pró-Reitoria de Cultura, através do maestro Fabrício, tornamos bons amigos, companheiros de trabalho. Hoje eu faço mestrado na UFMT em História.

Entretê - Você aprendeu a tocar violão praticamente sozinho, com alguém te ensinando. Como foi chegar na universidade e ver tantas regras, tantas normas. Teve um choque?

Henrique Maluf - Quando eu entrei na universidade eu tocava guitarra muito bem. Eu entrei na universidade achando que eu me tornaria o Jimi Handrix, o Steve Vai da vida, sei lá. Eu fiz o exame de violão e não sabia ler partitura, foi um amigo meu que lia partitura lá em casa. Falei assim: “Cara, lê essa música aí pelo amor de Deus, me ensina a tocar”, e que tocou e eu falei: “Ah, é isso?” e aí aprendi a tocar uma peça de Fernando Tárrega, que é um dos grandes nomes do violão mundial. Aprendi a fazer aquela música, toquei e passei no vestibular, nas duas provas. Quando eu cheguei na universidade eu me deparei com o mundo acadêmico, com o eruditismo que eu não tinha. E hoje eu consigo entender o quão importante foi para mim, porque eu não fui um bom aluno, eu fiquei 10 anos na universidade porque eu não fazia as disciplinas que me interessavam, ia deixando para o próximo semestre. Deixei os estágios tudo por último, foi o que me pegou, mas eu gostava muito do violão. A professora Tereza Prado, uma monstra do violão, me falou: “Henrique, você toca bem, mas você é sujo, você precisa treinar a sua mão direita”. Eu não usava unhas, eu achava horrível unha. Comecei a deixar crescer, hoje eu não consigo tocar se uma unha quebra. Então eu aprendi a técnica, fiz cursos também. Só que eu nunca me enxerguei enquanto um exímio instrumentista. Eu sempre fui equilibrando o cantor. Eu comecei a cantar pela necessidade de ganhar dinheiro, porque violonista não ganhava. Quem acompanhava não fechava o contrato. Comecei a entender a importância de gerir o Henrique violonista ou guitarrista, cantor e empresário, dono da sua carreira. Mas a universidade me trouxe muita bagagem, o coral da UFMT me trouxe muita bagagem, eu fiquei muitos anos no coral, as aulas de violão, as aulas de teoria, de harmonia. Hoje o que eu faço é sofisticado, eu tenho total consciência que a universidade tem uma parcela significativa nisso. Muitas coisas eu conheci através de lá. Hoje, fazendo mestrado e tendo um nível superior, eu tenho uma crítica à universidade, não ao curso de história ou curso de música, mas eu acho que nós precisamos entender que o conhecimento científico precisa ser uma ponte e não um muro. A universidade, por mais que existam projetos de extensões para a comunidade, que é essa tentativa de trazer a comunidade para a universidade e vice-versa, eu ainda acho que a ciência ela gourmetiza o conhecimento. A gente precisa encurtar esse caminho entre conhecimento e a cultura.

Entretê - Você se sente uma pessoa privilegiada por ter tido essa oportunidade de fazer uma faculdade enquanto outros colegas que tocam na noite não tem um curso superior de música?

Henrique Maluf - Eu sou completamente privilegiado. Primeiro tem o privilégio de poder viver de música, de arte. Segundo, o privilégio de ter acesso a uma universidade, poder ter feito um nível superior. Hoje eu sou concursado público do município, professor de artes. São privilégios que um nível superior me trouxe, não tenho a mínima dúvida disso.

Entretê - Fora da música, você tem um hobby artístico?

Henrique Maluf – Marcenaria. Enquanto eu morava numa kitnet no Boa Esperança eu chamei um amigo pra dividir, pra morar na kitnet, o Ló Ferreira. Quando a gente era vizinho ele trabalhava em restauração de instrumentos, ele é velejador, já construiu iates, veleiros, ele é um cara que entende muito de madeira, ele fazia muito trabalho de restauração, principalmente de pianos. E aí eu comecei a ficar fascinado em ir lá ajudar ele, ficava bisbilhotando. Aprendi muita coisa com ele e fui atrás de outros conhecimentos da marcenaria. Construí algumas coisas, fiz móveis, camas. Na casa da minha mãe, agora na pandemia, eu fui pra Cáceres e fiquei 10 meses. Construí uns negócios pra ela. Você construir, a manufatura é algo impressionante cara, você fazer algo que você vá utilizar, sabe, isso é muito legal, entender o trato que cada madeira precisa ter, o tipo de ferramenta, o tipo de produto que você vai passar nela, se vai ser um verniz, se vai ser uma laca se você vai fazer um acabamento com tupia ou um acabamento mais grosseiro, mais rústico. Já fui procurado: “Faz um desse pra mim, eu pago até R$6.000”, falei: “Vou fazer, mas não fiz”.

Entretê – Vamos agora falar de algo muito importante na sua vida que é a Dona Chica. Quem é Dona Chica na vida do Henrique?

Henrique Maluf - Dona Chica é uma mulher “muito chata que fica enchendo meu saco o tempo todo” (risos). A minha mãe é minha inspiração maior, é a pessoa que faz com que eu queira mais e mais. É a pessoa que me incentivou a continuar na arte, que não me desencorajou, apesar de lá atrás ela falar: “Não meu filho, leva como um hobby, faz direito que você quer”, hoje ela me liga ou manda mensagem: “Meu filho eu fui parado na rua, ‘você que é mãe do Henrique’, eu não acredito nossa”, toda orgulhosa. Vai no mercado, “a mãe do Henrique”, esses dias teve um show do Nico e Lau em Cáceres e eles fizeram brincadeiras com o público, “a gente sabe até que tem mãe de cantor famoso aqui na plateia”, ela ficou acuada, apontaram, “é ela aqui, a mãe do Henrique”, toda feliz. Ela mora em Cáceres e agora ela tem vindo mais frequentemente à Cuiabá por causa do Venâncio. Aqui somos só eu e a Isa, não temos rede de apoio aqui, temos os nossos amigos, mas não adianta, rede de apoio é vó e vô. Mas é uma inspiração. A vida da minha mãe me inspira a buscar sempre mais. Uma mulher que a vida inteira trabalhou como empregada doméstica e que com 50 anos foi buscar estudo, fez um curso técnico de enfermagem, hoje é cuidadora de idosos além de ter o trabalho de venda de bolos de queijo, a “Cantina da Mãe Chica”. Então é uma inspiração para mim, de buscar sempre mais e mais. Às vezes não respondo o WhatsApp dela, mas acho que é meio padrão o filho não responder o WhatsApp de mãe, né? Mas é uma inspiração.

Conheça um pouco mais do trabalho do Henrique Maluf acessando as redes sociais e o perfil no Spotify do artista.

 

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