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Prevenção à violência: advogada explica fases de um relacionamento abusivo
Por Sabrina Ventresqui/HNT
20/07/2025 - 14:51

Foto: reprodução HNT

Mato Grosso é o estado que mais mata mulheres no país. Enquanto a média nacional é de 0,69, Mato Grosso tem uma taxa de feminicidios de 1,23 mortes a cada 100 mil habitantes, ou seja, quase o dobro.

Se engana quem pensa que a violência é um evento isolado. De acordo com a advogada e pós graduada em Neurociência, Larissa Guêdes, o abuso é um padrão cíclico. A jurista explicou que a violência doméstica se divide em três fases.

A primeira é chamada de ‘fase da tensão’. Nela, o agressor fica irritado, controlador e imprevisível, o que aumenta o estresse e os conflitos na relação. A vítima, por sua vez, tenta apaziguar a situação, mas sente medo e ansiedade. Em seguida, começa o estágio conhecido como ‘explosão’.

É neste ponto que ocorre a violência, seja física, psicológica sexual, patrimonial ou moral. A agressão é direta, intensa e traumática. A vítima sente dor, humilhação e desespero.   

A última fase é a Lua de Mel. O agressor pede desculpas, demonstra arrependimento e faz promessas de mudança. Além disso, há reconciliação temporária e a vítima tem esperanças de que ele mudará o comportamento.  

Entretanto, com o passar do tempo, os estágios de agressão aumentam e a fase de lua de mel diminui. Esse processo violento desencadeia na liberação de hormônios como cortisol (do estresse), adrenalina e noradrenalina.

Isso significa que a mulher agredida enfrenta uma maior dificuldade de regular o medo, o que tem consequências diretas na tomada de decisão. É por essa razão que, por vezes, mesmo orientada, a vítima recua, ou, na grande maioria das vezes, sequer denuncia. Há uma espécie de sequestro da força da tomada de decisão racional por outra área cerebral que ativa o medo. Com isso, a mulher não enxerga saídas para aquela situação como as demais pessoas. 

Fatores sociais como preocupação com familiares, filhos e dependencia financeira são outros elementos que podem fazer com que a vítima de violência doméstica continue no ciclo de abuso.

Estudos também demonstraram que a violência doméstica ativa áreas neurais que impactam a percepção de si, o valor próprio e a autoimagem, com reflexos na autoestima, regulação emocional e autoconceito, especialmente em mulheres que desenvolveram transtorno do estresse pós-traumático.  

Segundo Larissa Guêdes, com a repetição da violência, as situações ruins ficam normalizadas e ocorre uma espécie de dessensibilização. Para quebrar o ciclo é importante permitir e criar novos pensamentos a respeito de si mesma bem como a abertura para novas experiências, pois a conexão neural associada ao trauma e ao autoconceito negativo só perderá força a partir de novas intervenções.

Por isso, é fundamental que a mulher primeiro passe a ter consciência de que existe um quadro neural deficitário, programado para a baixa autoestima, o baixo valor ou a descrença de que uma nova realidade seja possível, mas que isso é reversível. Ou seja, é preciso contestar pensamentos pois, diversamente do que ela pode imaginar, é valorosa, merece ser amada e é possível recomeçar. A partir disso uma nova programação pode se instaurar. 

PROCURE AJUDA

Ligue para o 180 (Central de Atendimento à Mulher – 24h, gratuito e sigiloso); Em situação de emergência, acione o 190 (Polícia Militar); Você pode procurar: a Delegacia da Mulher (DEAM), Delegacia comum, se não houver DEAM na cidade, Centro de Referência da Mulher.

Medidas protetivas de urgência: Podem ser solicitadas rapidamente ao juiz pela delegacia ou Ministério Público: Afastamento do agressor do lar; Proibição de contato com você, filhos e familiares; Suspensão de porte de armas. O pedido pode ser feito mesmo sem boletim de ocorrência formalizado.  

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