'O que foi feito não pode ser desfeito'
Por por padre Jair Fante
23/04/2013 - 07:02
Fala na tribuna da Câmara Municipal de Cáceres – 22 de abril de 2013.
Sobre as informações contidas em cartilha de orientação para Copa 2014
“O QUE FOI FEITO NÃO PODE SER DESFEITO”; é com esta frase de um grande mestre que por aqui passou, Dom Máximo Biennés, Bispo desta Diocese por várias décadas, que me reporto ao fato hora em pauta.
O ato de VIVER, na verdade, comporta três elementos indispensáveis: PASSADO: sem o qual ninguém existe, porém, impossível de ser mudado; o PRESENTE: com os valores e as incongruências próprias do seu tempo; e o FUTURO: sujeito de expectativas e projetos a serem realizados. É neste quesito que devemos atentar, quando falamos, escrevemos ou ensinamos alguém, pois as gerações futuras entrarão em contato com o nosso pensar, expresso no falar, no escrever ou no viver.
O respeito pela história e o trato amigável, mesmo de quem pensa diferente, devem compor o ensinamento principal de uma pessoa e serem, ao mesmo tempo, uma escola de erudição para o viver com qualidade.
Ao nos referirmos à História é preciso ter cuidado com dois elementos principais que a compõem:
A REALIDADE GEOGRÁFICA – o habitat: sua localização no tempo e no espaço; caso da nossa cidade mais que bi-centenária e localizada às margens do Rio Paraguai.
A REALIDADE CULTURAL de um povo; isto é: o seu Modus Vivendi; o Seu jeito de viver culturalmente. Nossa cidade tem uma cultura a ser, não só apreciada, mas acima de tudo respeitada.
Portanto, quando alguém vai falar sobre a história é preciso uma grande responsabilidade educacional. Educar um povo é também ensina-lo a reconhecer e respeitar quem construiu a história. A Igreja Católica tem uma história ilibada nestas terras amazônicas. Se observarmos como começou a maioria das nossas cidades do MT, veremos uma sequência natural de atos e fatos: as famílias se reuniam para rezar, logo solicitavam a presença de um padre ou religiosa para acompanhar o grupo; construía-se uma igreja, e ao redor desse núcleo religioso, fazia-se todo o resto: moradias, escolas e hospitais. A Igreja Católica tem participação decisiva na história de cada cidade do MT.
A cidade de Cáceres, cujo centro religioso, a Catedral, é cartão postal da cidade e referência para a região, não foi diferente. No campo estudantil, a igreja esteve na base da fundação da UNEMAT, através de Dom máximo, seu maior incentivador. Não podemos esquecer o Colégio Imaculada Conceição e o Instituto Santa Maria, referências na formação da juventude cacerense. No campo da saúde não foi diferente: Hospital São Luiz, Hospital Bom Samaritano e tantos outros espalhados pelo Estado do Mato Grosso.
Portanto, é preciso aprender, aí incluso as autoridades, a reconhecer e respeitar a história desta instituição religiosa, assim como todas as outras que também contribuíram e contribuem para o bem viver humano, nestas terras do Mato Grosso. O resultado do desrespeito às instituições é a perda dos valores essenciais do bem viver, trazendo em seu bojo, enfrentamentos e conflitos sociais. O que, o bom senso indica, devemos evitar.
É em nome desta própria história que pedimos aos descuidados - ou mal intencionados - na elaboração desta mal fadada cartilha, o reconhecimento do erro e a retratação pública, a mudança de atitude e a reparação do dano moral causado. Destarte, espero que as instâncias sociais aqui representadas façam o mesmo uso deste critério e exijam uma apreciação histórica mais cuidadosa e responsável, para o bem das gerações futuras, os nossos próprios filhos.
Pe. Jair Fante
Coordenador da Diocese de Cáceres - MT