Primeira entrevista
Por por Gustavo Oliveira
05/05/2013 - 05:45
Na redação do jornal, quase toda semana aparece algum estudante de jornalismo. Esta semana foi a vez de um jovem estudante aparecer, angustiado com a tarefa de entrevistar um especialista em Economia. O rapaz me pergunta:
– O que eu vou perguntar para ele?
Antes de responder, volto no tempo.
Uma das primeiras entrevistas que fiz, quando jornalista iniciante, foi com um assaltante, no bairro do Porto. Meu personagem era metido com esportes e nem me lembro mais o que queria saber dele. Só lembro que fui para o embate verbal absolutamente despreparado. E o homem não cooperou em nada, ainda por cima partiu para cima de mim, pois não queria ver seu nome estampado em um jornal. Lembro-me de que ele me xingava enquanto respondia com grunhidos inaudíveis às três ou quatro perguntas que consegui articular.
Voltei para a Redação do jornal desiludido e transformei aquele indigente diálogo num texto de meia dúzia de linhas, de pouco interesse para os leitores, como bem me avisou Gabriel Papazian, meu primeiro editor - que não era nada sutil em demonstrar sua contrariedade quando se deparava com algo que não o agradava.
Culpa minha, aprendi com o tempo.
A entrevista é a essência do jornalismo. É desse contato entre o entrevistador e sua fonte que saem as informações surpreendentes e inéditas, geradoras das melhores notícias. Mas perguntar não é tão simples quanto parece. É um mito aquela história de que perguntar não ofende. Pelo contrário, um perguntador despreparado ou uma pergunta malfeita podem levar qualquer entrevista ao fracasso.
Aprendi, também, que para conquistar a confiança do entrevistado o repórter deve se preparar adequadamente, munindo-se previamente do máximo de informações sobre ele. Com as facilidades tecnológicas atuais e com os bancos de dados disponíveis, o entrevistador não tem mais justificativa para chegar diante de um entrevistado sem conhecê-lo. O ideal é saber tanto sobre ele, que a entrevista quase se torne desnecessária.
Um bom entrevistador não induz o entrevistado a responder o que quer ouvir, nem aceita tudo o que ouve como verdade insofismável. Sua função é perguntar com objetividade, observar com atenção, registrar com precisão e depurar o que merece ser levado ao conhecimento do público. A entrevista é a modalidade de reportagem pela qual o profissional de comunicação mais se expõe, pois possibilita ao público avaliar tanto quem pergunta quanto quem responde. Independentemente do veículo utilizado, as pessoas percebem quando um repórter age como cúmplice da fonte ou como seu oponente – posições igualmente equivocadas, pois o mais honesto é perseguir a neutralidade.
O assunto rende um tratado, mas, sem a pretensão de saber mais do que ninguém, simplifico com a resposta que dei ao jovem aspirante ao meu ofício:
– Pergunte o que o seu público gostaria de saber.
* Gustavo Oliveira é diretor de Redação do Diário. Gustavo@diariodecuiaba.com.br