O nosso amor de cada dia
Por por Nestor F. Fidelis
27/09/2013 - 08:30
Muitos de nós não podemos ouvir uma música romântica que já ficamos todos empolgados num conto de fadas. Aliás, musicas, cantores, conjuntos que na adolescência considerávamos como sendo o ápice do brega, já assumimos hoje, sem vergonha, que tocam nosso coração, como, por exemplo, as canções do Peninha, do Roberto Carlos (nosso rei), do Roupa Nova, etc.
O fato é que no mundo ocidental, principalmente para nós latinos, somos educados para aprender o apego e não o amor. Somos aqueles que nos apaixonamos com facilidade, e nos desapaixonamos com mais rapidez ainda. E quando isso acontece, nossa tendência emocional é ficar no mundo da ilusão, criando fantasias para nós e vivendo uma vida que não é real, numa busca constante por nova aventuras fugaz, como fazem muitos artistas, que não se comprometem integralmente, apenas se envolvendo sensorialmente.
Muitas pessoas pensam que felicidade verdadeira é a paixão. A paixão é um sentimento importante, aproveitável para nos aproximarmo-nos na fase dos primeiros contatos com uma pessoa, ou com um grupo, com alguma instituição ou situação que servirão como instrumentos para o desenvolvimento do principal, que é são as virtudes, sendo o amor a maior de todas.
Todavia, quando quedamos fixados no sentimento transitório que é a paixão, estamos programando para nós, no exato momento, frustrações futuras ou imediatas. Corremos riscos desnecessários, portanto, todas as vezes que deixamos de olhar para nós mesmos e não nos empenhamos por fortalecer o amor em nossa intimidade.
Também não somos poucos os que, quando assistimos a alguns filmes, romances, comédias românticas, ficamos deliciando as cenas e nos colocando no lugar dos atores, os homens se vendo como os mocinhos, as mulheres se projetando como a bela atriz. E a história é, geralmente, a mesma.
Possivelmente se trate de personagens de mundos diferentes, econômica ou socialmente. Ficam juntos, como que por coincidência... aquela paixão arrebatadora, uma mistura de atração e repulsa. Por um motivo qualquer, eles se afastam.
E a história se desenrola de tal modo que, com muitas peripécias, no fim da película eles se reencontram e decidem que vale a pena viverem juntos, porque pensam que se amam, quando, em verdade, estão apenas se conhecendo, estão apaixonados, porque o amor é construído desafiadoramente pela convivência. Enfim, esses filmes nos fazem crer que os personagens “serão feliiiiizes para sempre”, porém, não passa para o expectador o restante dessa história.
Não sabemos, por exemplo, como foi a vida da Cinderela com o príncipe. Conhecemos um belo princípio de história, quando o sapatinho de cristal coube em seu pé e o príncipe com ela decidiu se consorciar. Mas, e o dia-a-dia? E os momentos de rabugice dele? E as TPMs dela? E as dores das diferenças de personalidade que surgem em qualquer relacionamento interpessoal? E as doenças, às quais todos estamos suscetíveis? E o fim da beleza física? E eventuais crises financeiras? Vale a pena refletir.
Se pensarmos bem, aquele casal que admiramos, pois vivem como “pombinhos”, inobstante já serem casados há décadas, e que continuam gerando admiração em todos, este casal também passa por desafios constantes, muitos deles não expressados publicamente, pois são duas pessoas com qualidades já trabalhadas e outras tantas más inclinações por serem transmutadas, dois seres humanos com desejos individuais de cada um, porquanto o mito “alma gêmea” é muito bonito na letra da música do cantor que, por sinal, já se casou inúmeras vezes.
Ora, somos convidados pela vida a desenvolver o amor verdadeiro por meio da convivência, pelos contatos, pelas discordâncias, concordâncias, consensos (quando cada um cede em seus posicionamentos mais rígidos), porque ninguém faz o amor acontecer de uma hora para outra. O amor é doce, o amor é sede, o amor é água, como diz Plínio de Oliveira.
Enfim, todas as vezes que ficamos idealizando o marido ideal, a namorada perfeita, deixaremos experimentar passar as oportunidades concedidas pela de sermos felizes da forma como é possível, nos aceitamos como somos, procurando ser pessoas melhores, mas também, conseguintemente, empenhados em aceitar o outro da forma como se apresenta, sem impor condição alguma, sem esperar reconhecimento de nossas atitudes, sem expectativa alguma, porque, se a busca de querer somente receber e ser amado revela um estado de infantilidade espiritual, a maturidade emocional surge quando usamos nosso tempo e nossas energias para amar, sem aguardar recompensa, amar pelo prazer de se entregar totalmente nas relações, fazendo uso da oração nos momentos das experiências desagradáveis, e sempre.
NESTOR FERNANDES FIDÉLIS é é secretário Adjunto de Justiça de Mato Grosso