Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Queima de arquivos
Por por Onofre Ribeiro
28/05/2012 - 06:15

A política de Mato Grosso não tem projeto para Mato Grosso. Quando muito, projetos momentâneos de grupos de última hora, que duram, no máximo, uma eleição. Neste momento, não é diferente. As eleições para 141 prefeitos e mais de mil vereadores estão sendo costuradas em cima de coligações de curtíssima duração. Vamos lembrar alguns episódios nesse sentido. Quando Mato Grosso foi dividido, em 1979, perdeu todos os seus líderes históricos. Começou do zero. Todos que emergiram ali, exceção do deputado federal Julio Campos eleito em 1978 para o primeiro mandato, todos os demais foram descartados nos arranjos políticos e partidários posteriores. Nisso Júlio Campos teve participação ativa. Ninguém “queimou” mais líderes do que ele. Exemplo mais forte foi o senador Roberto Campos, eleito em 1982, junto com Júlio a governador. Ambos se chutaram civilizadamente por debaixo da mesa por quatro anos e Campos desistiu de Mato Grosso e foi ser deputado federal pelo Rio de Janeiro. O ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e na Inglaterra, foi eleito com um sustentáculo da fragilizada política econômica do governo militar no Congresso Nacional, e uma voz ouvida de Mato Grosso, estado insignificante naquele momento. Eleito governador em 1986, o deputado federal Carlos Bezerra detonou tudo que veio antes dele na política com um slogan de repúdio: “O passado nunca mais!”. A verdade foi que em 1994 elegeu-se governador de Mato Grosso Dante de Oliveira, ex-PMDB e um os mais fortes militantes da esquerda opositora aos militares. Fez reformas importantes no governo fraco e pobre de então. Reelegeu-se e foi derrotado para o Senado em 2002. Elegeu-se o empresário Blairo Maggi, que repetiu a fórmula de Júlio Campos e contribuiu expressivamente para jogar Dante e seu grupo do PSDB no lixo da História. De fato, Dante morreria politicamente sozinho em julho de 2006, depois de ter sido o autor da emenda das Diretas-Já, que mobilizou massas e determinou a data a partir da qual o regime militar não mais se sustentaria. Em 2010 Blairo Maggi deixou o governo, depois de eleito em 2002 e reeleito em 2006, com alta aprovação popular. Hoje as atuais lideranças e grupos políticos trabalham permanentemente para a sua “queima”, mediante o único projeto de ocuparem o seu espaço, sabendo que daqui a quatro anos também estarão na mesma lata de lixo da História, ao lado dos anteriores. O mais cruel é que neste momento, Mato Grosso se consolida depois das reformas de Dante de Oliveira e da gestão Maggi, diante de um futuro em que o mundo olha para o Brasil e pra cá por conta da produção e da transformação de alimentos. A leitura crua disso tudo, é que as lideranças mato-grossenses não são sustentáveis a longo prazo, vitimadas pela falta de projeto delas mesmas. A população despolitizada e mansa aceita os discursos de “renovação”, sem perceber que na verdade, esses discursos são apenas “queimas de arquivo” entre concorrentes ao poder. Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso onofreribeiro@terra.com.br
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