'Cirurgia plástica não salva casamento', diz especialista
Por Midianews/Lislaine dos Anjos
08/12/2013 - 13:59
Foto: Pedro Alves/MidiaNews
Na busca pelo corpo ou pelo rosto perfeito, é cada vez mais comum verem-se pessoas – principalmente mulheres e adolescentes – recorrendo aos benefícios da cirurgia plástica, muitas vezes sem tomar os devidos cuidados com alguns requisitos que tal intervenção cirúrgica exige, como procurar por um especialista e realizar o procedimento em um hospital com a tecnologia adequada.
Há 33 anos como especialista em cirurgia plástica, o médico Joacir Carvalho, 70, alerta para os cuidados que devem ser tomados antes de optar pelo procedimento bem como para a “existência de pseudo-profissionais” no mercado.
“Já tirei próteses de silicones que estavam praticamente saindo. E pior: próteses de silicone que você não sabe nem de onde vem, porque não tem marca, não tem nada”, disse.
Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e membro da Sociedade Brasileira e Americana e da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, Carvalho conta que já atendeu 9.552 pessoas em seu consultório em Cuiabá.
Ele diz que já perdeu a conta do número de cirurgias que já realizou nos 12 anos em que atua na Capital, mas afirma que a procura pela cirurgia plástica aumentou consideravelmente no Estado.
“Para se ter uma ideia, quando eu cheguei aqui, Cuiabá tinha apenas dois profissionais com títulos de especialistas. Hoje já temos um número maior de cirurgiões plásticos credenciados e cinco titulares”, afirmou.
Em entrevista ao MidiaNews, o cirurgião, que passou 20 anos como especialista do time do Hospital Albert Einstein – inclusive chefiando a equipe de cirurgia plástica da unidade – defende que esse campo da medicina é “como um artesanato” e ressalta que o Brasil é um dos países que mais detêm a tecnologia na área.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista feita com o cirurgião:
MidiaNews – Aumentou a procura pela cirurgia plástica em Mato Grosso?
Joacir Carvalho – Aumentou. O Brasil e os Estados Unidos são os dois países que mais fazem cirurgias plásticas e os mais evoluídos. São os dois países que detêm a tecnologia de cirurgia plástica. Há um empate técnico. Tanto aumentou a procura por cirurgias plásticas como também aumentou o número de cirurgiões. Para se ter uma ideia, quando eu cheguei aqui, Cuiabá tinha apenas dois profissionais com títulos de especialistas. Hoje já temos um número maior de cirurgiões plásticos credenciados e cinco titulares.
MidiaNews – A busca pela cirurgia plástica, hoje, é motivada mais por uma questão estética ou reparadora?
Carvalho – A maioria das pessoas busca a cirurgia plástica por questões de estética.
MidiaNews – Quais as principais mudanças procuradas?
Carvalho – A cirurgia mais procurada hoje é para a implantação do silicone de mama. Porque houve, inclusive, um “modismo” disso. A mídia ajudou muito na propagação disso também. Hoje, as mulheres querem ser “turbinadas”.
MidiaNews – Qual a faixa etária que mais procura pela cirurgia plástica?
Carvalho – As mulheres jovens, com até 30 anos.
MidiaNews – Há uma idade mínima para passar por uma cirurgia plástica?
Carvalho – Sim. Nenhum médico em sã consciência vai colocar uma prótese de silicone em uma adolescente de 15 anos, a não ser que ela tenha uma anomalia, o que já torna o procedimento uma cirurgia reparadora. Se for uma cirurgia puramente estética, deve-se esperar a formação do corpo da mulher ficar bem resolvida, o que acontece a partir dos 17 ou 18 anos. Então, se uma menina não alcançou uma projeção mamária até os 17 anos, ela é uma candidata a passar por uma cirurgia estética. Mas aí cabe uma análise de cada caso. Existem cirurgias que possuem o tempo certo para serem feitas.
MidiaNews – Há diferença de idade para a realização de cirurgias plásticas reparadoras e estéticas, então?
Carvalho – Sim. As cirurgias reparadoras se posicionam na idade do desenvolvimento corporal. Plásticas de nariz, por exemplo, você não vai fazer com 15 anos, quando ele está em formação. Agora, se entra no meu consultório uma paciente com essa idade sofrendo de rinomegalia [aumento das dimensões do nariz], percebe-se que o nariz já cresceu tanto que passou do tamanho. “Orelhas de abano”, por exemplo, você procura operar aos 8 anos, porque evita que a criança sofra “bullying”.
MidiaNews – A cirurgia plástica é vista, por alguns, como uma forma de melhorar a autoestima. O senhor concorda ? Isso realmente ajuda?
Carvalho – Concordo. Esse é um dos motivos mais comuns. Hoje, ontem e sempre, você deve buscar um equilíbrio físico e emocional. Esse é o binômio da vida. A nossa felicidade depende desse equilíbrio. E a cirurgia plástica estética consegue dar as duas coisas. Por exemplo, uma mulher linda e jovem se casa e, ao engravidar, engordou demais e, durante a amamentação, os seios caíram. O que acontece? Ela não se vê bem fisicamente. E o físico acaba com o emocional. Isso é uma realidade. Você vai comprar uma roupa, ela não cai bem; vai colocar um biquíni, ele não fica bom; vai tirar a roupa na frente do marido, apaga a luz. O que é isso? O emocional está lá embaixo. Você não faz a cirurgia para ninguém. Você faz a cirurgia plástica para você. A paciente não faz a cirurgia para agradar o marido, o namorado, ninguém. Isso não existe e não resolve nada. Cirurgia plástica não salva casamento. Agora, quando você se equilibra, o seu parceiro sente e tudo melhora.
MidiaNews – Como saber se a cirurgia plástica é a solução mais adequada a ser tomada?
Carvalho – É aí que entra o médico. Essa é a importância da consulta, da avaliação séria, feita por gente competente e honesta, por um profissional que não queira fazer da cirurgia um mercantilismo.
MidiaNews – Tem que dizer não, também?
Carvalho – Sim, tem que saber dizer “não”. “Não” também é resposta. As pessoas acham que negar não é resposta, mas é. Porque tem gente que chega para o profissional e fala o que é que quer fazer. Isso é comum. Tem paciente que já entrou aqui e falou: “doutor, vim aqui fazer um silicone de mama”. E eu respondi: “Não, você veio aqui para ser examinada. Quem vai achar se você tem ou não quer fazer a implantação do silicone de mama sou eu, que sou médico”.
MidiaNews – Mas, essa é a ideia de que se tem atualmente, não?
Carvalho – Sim. Essa é a ideia que se propaga. Ficou parecendo uma coisa fácil, quando cirurgia plástica é uma coisa séria. E, por outro lado, temos a mercantilização da cirurgia plástica, porque infiltraram nesse campo um bando de pseudo-profissionais que estão fazendo barbaridades, como aplicar produtos com injeções no rosto das pessoas, e tentando fazer coisinhas de cirurgia plástica. Esse é o grande perigo. Hoje você vê movimentos e coisas de cirurgia plástica em curso de Medicina Estética, por exemplo. Mas Medicina Estética não existe. O Conselho Federal de Medicina não aceita essa especialidade. E hoje você vê no mercado institutos de beleza, por exemplo, associados a essas coisas. Aqui em Cuiabá, mesmo, tem um monte. Isso é um perigo.
MidiaNews – Então, em relação a anos atrás, as cirurgias plásticas estão mais acessíveis?
Carvalho – Está muito mais acessível do que no passado, razão pela qual inspira muito mais cuidado, porque existem muitos pseudo-profissionais na praça.
MidiaNews – Há muitas adolescentes recorrendo à cirurgia plástica? Quais as razões que elas mais apresentam para isso?
Carvalho – Sim, muitas, principalmente por indução das amigas, para colocar silicone. Às vezes, ela tem uma mama bonita e do tamanho certo para a idade dela, mas ela quer ter uma igual à da amiga. Então, cabe ao cirurgia ter o bom senso de dizer “não”, explicar que ela é bonita e que o seu corpo está em desenvolvimento. Dizer que a mama que ela quer hoje com silicone será a mama dela quando ela estiver com 17 anos, sem silicone.
MidiaNews – Então, o senhor não recomenda?
Carvalho – Não. É uma questão de bom senso. O adolescente está com seu corpo em desenvolvimento. A não ser que ele tenha algum defeito, alguma coisa que extrapole a normalidade, aí tudo bem.
MidiaNews – Algumas pessoas recorrem à lipoescultura para emagrecer. Essa é a função definitiva dessa cirurgia?
Carvalho – Esse é um conceito errado. Lipoescultura não é sinônimo de emagrecimento. Se a paciente procura a mim ou a outro cirurgião com o intuito de emagrecer, ela deve ser encaminhada para um endocrinologista. Depois, ela volta. Lipoescultura é para combater depósito de gordura localizada. Existem nas mulheres e nos homens regiões diferentes que acumulam gordura. São essas gorduras que você combate com a cirurgia. Porque essa gordura localizada não obedece ao tratamento clínico. Por exemplo, você pode pegar uma mulher magérrima, mas que tenha culotes.
MidiaNews – Mas, a cirurgia garante que você não vá acumular gordura naquele local novamente?
Carvalho – É muito difícil isso voltar a acontecer. Pode, mas é difícil. Depende muito da paciente.
MidiaNews – Essa gordura localizada, então, não é algo que pode ser desaparecer com séries na academia ou com ginástica, por exemplo?
Carvalho – Não. Não existe nada para isso, só cirurgia.
MidiaNews – Há também quem recorra a cirurgias para permanecerem ou aparentarem serem mais jovens. Isso, realmente, é uma forma eficaz de deter o envelhecimento?
Carvalho – Não existe nada que tenha sido inventado pela medicina ainda que detenha o envelhecimento. Mas é uma forma de você se manter mais jovem. Tem a lipoescultura, que cuida do corpo, tem o rejuvenescimento facial, com as plásticas de face, tem os tratamento de pele, enfim, você tem uma série de arsenal para você combater as intervenções na superfície do corpo, desde a cirurgia até procedimentos menos invasivos. Mas você não retarda o envelhecimento. Mas eu pego uma paciente de 60 anos, com o rosto envelhecido, faço um “lifting” bem feito e trago o rosto dela para uma aparência de 48 anos. Eu rejuvenesci a paciente, mas não parei seu envelhecimento. Não parei o relógio cronológico dela. Agora se essa mulher também tem um corpo bonito, bem cuidado, eu vou dar à ela uma gasolina azul no sentido dela “se turbinar”, se cuidar. Ela passa a fazer mais exercícios físicos, ela vai cuidar da pele, do cabelo. Ela ganha uma jovialidade física e emocional. Ela encontra seu equilíbrio. E isso reflete no "Lipoescultura não é sinônimo de emagrecimento" relacionamento familiar, nos amigos, nos filhos, no marido, na vida inteira dela. Você levanta a autoestima dela. Você não mexeu só no rosto dela, mas na vida toda.
MidiaNews – A cirurgia plástica sofre influência da chamada “ditadura da moda”?
Carvalho – Nós não gostaríamos que fosse assim, mas isso é real, em alguns segmentos do corpo, como a mama, por exemplo. A moda induz o cirurgião a fazer. Vejamos o bumbum, por exemplo. As brasileiras são famosas no mundo inteiro porque têm uma projeção de nádegas bonita. Então, hoje, os silicones de nádegas são perfeitos, tanto em altura, em modelos e formas para você fazer uma nádega perfeita. Por quê? Por modismo.
MidiaNews – E qual é o número de cirurgias plásticas que uma pessoa pode fazer? Há um limite para intervenções na mama, no rosto ou nos glúteos, por exemplo?
Carvalho – Não. Por segmentos do corpo, não. O limite é o bom senso. Você não faz o nariz ou a “orelha de abano” duas vezes. Mas você pode trocar o silicone de mama. Ou você pode colocar o silicone em uma paciente, ela engravidou, amamentou e o seio caiu. Aí você pode faz a cirurgia novamente. "Não existe nada que tenha sido inventado pela medicina ainda que detenha o envelhecimento" Isso existe: uma mesma paciente procurar por cirurgias diferentes.
MidiaNews – Quais os riscos que a cirurgia plástica oferece?
Carvalho – Cirurgia Plástica, como em qualquer outra intervenção cirúrgica, você tem o risco. Resta saber o tamanho desse risco. Quando você opera com um especialista de experiência e em um hospital com tecnologia adequada, com anestesista especialista, o nível de complicação não passa de 0,2%. É nada. Quando se fala que alguém morreu [fazendo cirurgia plástica], tem que saber como morreu e em que circunstância morreu. Em 2008/2009, fizemos um levantamento estatístico no Hospital Albert Einsten, que até no início dos anos 2000 então era o ponto central de complicações da Grande São Paulo. Se um paciente complicava, mandavam para o Einstein. Hoje, o Sírio-Libanês divide essa função. O levantamento apontou que 98% dos pacientes que recebíamos vinham de clínicas. Clínica não é lugar de operar. Pessoalmente, em quase 33 aos de carreira, nunca uma paciente minha passou perto de uma semi-intensiva.
MidiaNews – Há uma expectativa muito grande do paciente em relação à intervenção ao chegar ao consultório?
Carvalho – Sim, existe. Aí entra a competência do médico, que tem explicar à paciente o objetivo da cirurgia e qual é o resultado que será alcançado. Às vezes, a paciente quer ficar com o nariz igual ao da Catherine Deneuve (atriz francesa) e isso não dá. Existem pacientes que trazem fotografias de revista para o cirurgião ver como ela quer. Mas às vezes não pode nem operar. É raro, mas há casos de pacientes que para você operar você precisa do apoio de um psicólogo. Não é o comum, mas acontece. Hoje, nem tanto, mas na minha formação profissional, você precisava ter conceito de psicanálise e psicologia, exatamente para tratar disso. Por isso, é importante que o médico tenha noção disso.
MidiaNews – Então, há risco do paciente se sentir frustrado com o resultado?
Carvalho – Corre esse risco, sim. Porque se a paciente pensa muito alto e o médico não percebe isso, ela pode sofrer frustração pós-cirurgia, pensar que não deveria ter operado. Daí o médico vai perceber e pensar que deveria ter encarado com mais profundidade a problemática dela, ter levado ela antes para um tratamento psicológico. Não é comum, mas acontece. Às vezes a paciente projeta uma mama muito grande, igual à da amiga por quem ela sente admiração. Daí, você precisa mostrar para ela que o corpo da amiga é diferente, que a estatura dela é diferente, assim como o conteúdo mamário. Você precisa mostrar que ela não pode ser igual à amiga. Ela tem que ser ela mesma. São raros os casos, mas às vezes você leva um tempo maior conversando, porque médico e paciente precisam chegar em um denominador comum. Ela precisa entender muito bem o que será feito.
MidiaNews – Há alguns cirurgiões mais preparados para algumas intervenções do que para outras?
Carvalho – O cirurgião é preparado para fazer tudo. Essa coisa de dizer que “tal cirurgião só faz plástica de nariz” ou que operou com um médico especialista em cirurgias de silicone de mama” é mentira, não é verdade. Se ele disse isso, fez para angariar pacientes. Porque o residente aprende tudo. Aliás, as cirurgias estéticas porque elas são muito mais simples, mais fáceis. É muito mais difícil eu reparar um queimado, um politraumatizado ou uma fratura de face, que são complexas, do que eu fazer uma plástica de nariz. Existem, por exemplo, especialistas em cirurgias de mãos, porque é um órgão complexo, e esse médico não faz outra coisa. Mas pegar um cirurgião plástico que é especialista em pálpebras, não.
MidiaNews – Como são divididos os níveis dos cirurgiões plásticas?
Carvalho – Quem dá título ao cirurgião plástico – e só ela dá – é a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Ela é quem faz os testes, exames, enfim, a situação curricular profissional. Tudo começa assim: o médico termina o curso de Medicina, faz dois anos de cirurgia geral e depois faz três anos de residência em cirurgia plástica. Ou seja, ele faz cinco anos além do curso regular. Se você somar, são 11 anos. Só assim ele passa a ter direito a fazer cirurgia plástica. Ao terminar a residência, ele é um membro associado. Aí ele vai passar por um tempo de experiência e faz seu primeiro concurso. Isso dentro da Sociedade. Isso é onde ele apresenta trabalhos, apresenta uma estatística de pacientes operados por áreas estética e reparadora e faz um exame escrito e oral. Passou? Ele passa a ser membro especialista. Aí, no quinto ano de exercício da profissão – não menos – ele faz o título mais ou menos parecido com isso, que leva ele a ser membro titular, que é o título máximo.
MidiaNews – Mas, quando é que ele está apto para realizar cirurgias plásticas?
Carvalho – Logo que ele termina a residência de cirurgia plástica. Claro que ele não experiência. Em geral, ele vai se associar à sociedade e vai crescer com outros especialistas. Mas ele já é um cirurgião credenciado. Agora, o conhecimento, a habilidade e a segurança, vem com a experiência.
MidiaNews – Quais são as recomendações que o senhor faz para quem quer encontrar um cirurgião adequado?
Carvalho – Essa é uma escolha em que tem se tomar muito cuidado. Primeiro, você deve procurar alguém com título de especialista e que o tenha de forma visível para o paciente, como a Sociedade manda os médicos fazerem, não somente falar que é especialista. E tomar cuidado, porque tem existe gente que falsifica os títulos, também. Em segundo lugar, deve-se ser levado em conta a experiência, porque você, às vezes escolhe alguém com cinco anos de formado que já fez 10 narizes, enquanto o outro já fez 200. Quanto mais experiência ele tem, mais seguro ele é. Porque cirurgia plástica é um artesanato. É diferente de outras cirurgias. Terceiro: operar em hospital. Eu conheço clínicas do mundo inteiro e não conheço nenhuma que tenha UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Não existe segurança em uma clínica. O que você faz em uma clínica? Intervenções de dois minutos, com anestesia local. Agora, operar, fazer cirurgia plástica? Aqui em Cuiabá todos sabem quantas pessoas já morreram por isso. E não adianta você alertar essa pessoa para que ela não faça isso, porque ela vai lá e faz. Seja movida por dinheiro, diabo, sei lá por quê. É uma questão de índole. E em cirurgia plástica, as pessoas não param para pensar, principalmente as mulheres. Algumas decidem operar na Bolívia. Agora, me diz, o que tem na Bolívia? Lá não tem nem um índice de Medicina medianamente razoável. É um país pobre de tudo, onde a cirurgia plástica não existe. Eles estão ali na divisa da Bolívia com o Brasil tirando dinheiro de pobre, de bobo. Eles arrumaram um jeito de ganhar dinheiro. Mandam até ônibus para buscar mulheres que pagam de R$ 2 mil ou R$ 3 mil por uma cirurgia plástica e morrem.
MidiaNews – O senhor conhece casos de pessoas que passaram por isso?
Carvalho – Já atendi um monte aqui no meu consultório que fez e ficou com sequelas. Já tirei próteses de silicones que estavam praticamente saindo. E pior: próteses de silicone que você não sabe nem de onde vem, porque não tem marca, não tem nada. Agora, eu não sou responsável pela saúde pública do país, mas alguém tem que fazer alguma coisa, porque a quantidade de gente com sequelas que morrem por causa disso e ninguém fica sabendo. Por outro lado, essas pacientes não podiam ter pensado um pouco mais? Hoje, quando você vai comprar alguma coisa, você não acessa a internet e pesquisa tudo a respeito? Por que não faz a mesma coisa com o médico? E não falo só do campo de cirurgia plástica, não. O mundo mudou. E as pessoas não tomam esse cuidado. Qualquer pessoa que entrar no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, pode conhecer o “pedigree” de cada cirurgião plástico brasileiro.
MidiaNews – Qual o primeiro passo para quem quer fazer uma cirurgia plástica? Há algum cuidado ou exame especial que deve ser tomado antes do procedimento?
Carvalho – Em questão de exames e preparação, entra no campo médico. Cada caso é um caso e é o médico quem vai definir os exames que são precisos. Mas você tem que procurar, principalmente, um especialista com o qual você sinta empatia, que é a tradução da confiança. Você também deve procurar saber quem é quem. Além dos títulos e das credenciais que o profissional apresenta, a pessoa deve procurar a experiência, saber quem ele já operou, como foi a evolução, o pós-operatório.
MidiaNews – E, sem entrar no campo médico, doutor, como é o pós-operatório? O paciente sente muita dor?
Carvalho – Não. Hoje temos uma variedade muito grande de recursos, de tecnologia e de medicamentos. Evoluímos muito nesse campo. Hoje é muito raro você ver alguém se queixar de dor.
MidiaNews – E quanto tempo dura esse pós-operatório? Qual a importância do acompanhamento após a cirurgia?
Carvalho – O acompanhamento deve ser sempre. O pós-operatório varia de cirurgia para cirurgia. Mas uma paciente nunca deixe de fazer o pós-operatório de pelo menos um mês, vindo toda semana. Isso numa cirurgia de média complexidade. Em cirurgias maiores, o pós-operatório pode durar até três meses. O segmento pós-operatório é o ponto mais importante da cirurgia. É o que vai garantir que o resultado que você conseguiu na cirurgia, prevaleça. Você precisa cuidar para garantir que isso aconteça. As cirurgias hoje são bem mais simples, não leva mais do que 15 dias para a paciente retornar ao trabalho. Isso mudou muito.