Centenas de bicicletas apreendidas e sem destino lotam delegacia
Por Kelly Martins Do G1 MT
03/01/2014 - 21:57
Foto: Kelly Martins Do G1 MT
Cáceres, conhecida como “cidade das bicicletas”, enfrenta um problema atípico por conta do hábito dos moradores em pedalar. O número de bicicletas apreendidas supera o de veículos e elas superlotam a delegacia da cidade, que já não tem mais espaço para abrigá-las. São mais de 500 bicicletas espalhadas pelo local e que foram apreendidas em ações de combate a furtos ou que foram abandonadas pela cidade. De acordo com a polícia, algumas delas também serviram de moeda de troca para o tráfico de drogas na região, que faz fronteira com a Bolívia.
Ao serem recolhidas pelos policiais e levadas para o pátio do Centro de Integração de Segurança e Cidadania (Cisc), os proprietários das bicicletas não foram buscá-las, não procuraram e, com isso, grande parte delas se encontra amontoada fora e até dentro da unidade policial. Outras duas delegacias já estão servindo como abrigos pela quantidade de bicicletas, que tem aumentado
O delegado Alex Cuyabano contou ao G1 que diversas bicicletas estão apreendidas há mais de 15 anos ao passo que inúmeras estão na unidade policial apenas há um mês. “Parece mais um museu de bicicletas. Tem modelos das décadas de 70, 80, 90 e não param de chegar. O problema é que não temos mais espaço e algumas se transformaram em sucatas e estão se deteriorando”, observou.
Em cima uma da outra, muitas bicicletas já se misturam ao mato que cresce no pátio do Cisc e estão expostas diariamente ao sol e à chuva. Algumas se encontram em bom estado de conservação, faltando apenas reparos e peças para circular pelas ruas da cidade, como guidão, pneus, aro e correntes. Por outro lado, as que viraram sucatas podem ter as peças reaproveitadas.
Alex Cuyabano explica que a medida encontrada para que a situação seja resolvida é realizar um leilão de bicicletas. A intenção é transformar as sucatas em objetos utilitários por empresas e destinar as bicicletas em boas condições de uso para organizações sociais. Além disso, doar para crianças da zona rural da cidade que enfrentam dificuldades para chegar até a escola.
“A melhor alternativa encontrada é fazer esse leilão para utilizar essas bicicletas que estão se perdendo aqui. Muitas empresas e organizações sociais podem ter o interesse em participar e reverter as peças para o uso de macas, por exemplo, construção de cadeiras de rodas”, avaliou. No entanto, segundo o delegado, o projeto está sendo debatido com a Justiça local e autoridades do setor, mas ainda não há data prevista para que o leilão seja lançado.
Enquanto isso, Cuyabano destaca que tem montado uma força-tarefa na tentativa de fazer com que os donos das bicicletas furtadas se desloquem até a delegacia para levá-las para casa. Porém, admite que a medida não está sendo eficaz. “É um processo fácil. Basta identificar e estar com a nota fiscal, que a bicicleta será entregue. Sei que muitas pessoas não possuem mais o documento de compra, então o processo pode ser feito também de forma testemunhal. Está sendo difícil o morador fazer isso, entretanto, estamos teO juiz da Vara de Execuções Penais de Cuiabá, Geraldo Fidélis, que no último ano atuou na Comarca de Cáceres, declarou ao G1 ter conhecimento da problemática na região e que está elaborando um projeto sobre o assunto. De acordo com o magistrado, trata-se de um modelo desenvolvido em outras regiões que destina bicicletas para setores da educação, saúde e até turismo.
Uma opção, cita Fidélis, é transformá-las em bicicletas exóticas para o turismo local. O objetivo, conforme o juiz, é expandir o projeto por diversas comarcas para que todas participem de forma integrada e que as bicicletas tenham um destino útil para a sociedade.
Pedaladas
A estimativa é que existam pelo menos 130 mil bicicletas circulando por Cáceres. Número bem maior que o de habitantes, que é de 89 mil, conforme o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O hábito dos cacerenses em pedalar é motivado pelas condições que a cidade oferece: o lugar é plano e facilita o deslocamento. Milhares delas circulam pela cidade. Nas ruas, para qualquer lado que se olhe tem alguém pedalando”, observou.