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50 anos do Golpe de 64:Clima era de tranquilidade em MT
Por Thiago Andrade/Diário de Cuiabá
31/03/2014 - 06:13

Foto: reprodução

Apesar de algumas prisões, chegada da ditadura militar quase não foi percebida no Estado. Maioria dos cuiabanos não esboçou resistência 

 
Março de 1964. Enquanto o Brasilvivia um momento político turbulento, em Cuiabá o único ato que chegou perto de se tornar uma agitação foi uma reunião da União Nacional dos Estudantes (UNE), que logo foi encerrada antes que os ânimos ficassem mais inflamados. 

Após exatos 50 anos do golpe militar (em 31 de março de 1964 os militares tomaram o poder no país), o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Aecim Tocantins afirma não se lembrar de qualquer resistência naquele Mato Grosso, que tinha aproximadamente 300 mil habitantes. 

A ditadura militar foi recebida com tanta tranquilidade, que não só ele, mas outros entrevistados pelo Diário que viveram na época, não se referiram à situação como um golpe, mas como uma “revolução” contra o comunismo que os conservadores enxergavam nas ideias do então presidente da República João Goulart, o Jango (PTB). 

Apesar disso, algumas pessoas chegaram a ser presas. O advogado Zoroastro Teixeira, um dos presentes na reunião da UNE que acabou suprimida, foi um deles. 

Passou 31 dias no 16º BC (Batalhão de Caçadores), hoje 44º BIMtz (Batalhão de Infantaria Motorizado), à época comandado pelo coronel Carlos de Meira Mattos (já falecido). 

Acusado de comunismo, Zoroastro Teixeira respondeu a processos por seis anos. Afirma, no entanto, que não sofreu tortura. Para ele, a prática não chegou a Cuiabá devido ao tamanho da cidade. Eram pouco mais de 150 mil habitantes e todos, militares e civis, se conheciam. 

Além dele, foram presos naquele ano Silva Freire, Agrícola Paes de Barros, Nilo Pontes e o hoje deputado federal Carlos Bezerra (PMDB), que mais tarde viria a se tornar governador do Estado. 

O peemedebista, que em 1964 atuava como líder estudantil secundarista, conta que foi preso sob acusação de ser agitador e comunista. Passou dois meses na prisão. 

Segundo ele, seu maior sofrimento neste período foi perder uma filha e, por estar detido, não poder fazer nada para mudar a situação. 

Candidato somente 10 anos mais tarde, em 1974, Bezerra afirma que ainda assim sofreu perseguição por parte dos militares. “Tentaram cassar meu mandato”, relata. 

Para o deputado, os 21 anos de ditadura trouxeram inúmeras perdas para o país, das quais, em sua opinião, o Brasil ainda não conseguiu se recuperar totalmente. Entre as marcas que permanecem, segundo ele, que é presidente estadual do PMDB, está a dificuldade na formação de novos líderes políticos. 
 
Presença de índios nas tropas chamou atenção



Embora o golpe não tenha causado grande agitação em Mato Grosso, o Estado se destacou durante o período da ditadura pelo seu exército. Um dos fatos que mais chamavam a atenção para a tropa mato-grossense era a presença de vários índios. 

Gregório Oliveira, que esteve entre os quase 400 soldados que saíram do Estado para ajudar na “revolução”, lembra que os índios eram muito assediados pelos programas de televisão para conceder entrevistas. 

O coronel Carlos de Meira Mattos, que comandou as duas equipes de Mato Grosso que marcharam rumo à recém-criada Brasília, também se destacou. Na Capital federal, assumiu o comando da Polícia do Exército (PE) e do Batalhão de Guarda Presidencial (BGP), que estavam em atrito por conta de poder. 

Neste período, Gregório Oliveira conta que viveu dias tensos. A ordem era dormir com a farda e armamento. O tempo todo, os soldados precisavam estar de prontidão para entrar em combate. 

Ainda assim, segundo ele, havia acesso à cultura e entretenimento. Segundo ele, vários eventos aconteciam dentro das divisões militares. Festas, shows e peças de teatro garantiam a diversão dos soldados, mesmo vivendo em estado de alerta. 

Em contraponto, ele relata que, por várias vezes, viu ônibus chegarem aos quartéis cheios de presos políticos, pessoas que se manifestavam contra o regime imposto pelos militares. 

VIAGEM A BRASÍLIA – Conforme Gregório Oliveira, a viagem até Brasília durou oito dias. Os quase 400 soldados mato-grossenses se deslocaram em cinco caminhões. 

No caminho, o grupo foi dividido em duas equipes, uma que ficou na região do Araguaia e outra em Rondonópolis, ambas aguardando ordens para se dirigirem à nova Capital federal. 

Mais tarde, parte do grupo fez uma nova parada, em um Batalhão do Corpo de Bombeiros de Goiânia. Esperaram lá uma equipe que viria de Minas Gerais, mas que não chegou a tempo. 

O desembarque mato-grossense em Brasília ocorreu no dia 10 de abril de 1964.
 
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