Depois de sete anos e três meses no governo Blairo Maggi transmitiu o poder ao seu vice-governador Silval Barbosa. Deixou o Paiaguás em 31 de março de 2010 para enfrentar um desafio e um reaprendizado.
Com 1.073.039 votos para senador Blairo venceu o desafio, derrubou o tabu de que nenhum ex-governador imediatamente após deixar o cargo se elege ao Senado em Mato Grosso e foi o primeiro a alcançar a casa de um milhão de votos do eleitorado mato-grossense em um só pleito.
O reaprendizado foi demorado. Na longa permanência no governo Blairo foi afastado das coisas simples do cidadão comum. Não entrava mais na fila para o cinema, não carregava pasta, não abria maçaneta, com seguranças ao seu lado não tinha privacidade, não sentia o gosto de acelerar seu carro numa subida ou de fazer boa manobra para estacionar. O poder o blindava, o isolava. O ouvi dizer que fora do Paiaguás se sentia solto, mais próximo dos seus.
Pode até parecer paradoxal, mas o reaprendizado também se deu sobre palanques, com Blairo pedindo votos. Em nome de seus compromissos administrativos e da continuidade do grupo suprapartidário que o cercava em 2010 o ex-governador manteve um olho nas urnas e outro na escolinha da vida para voltar a ser o empresário e produtor rural que ficou hibernado enquanto seu governo transcorria.
O Senado é o parlamento da serenidade. Desde o Império Romano, no mundo inteiro, com as exceções de praxe, o cargo de senador é exercido por homens maduros, mais em busca de entendimento do que atiçados pelo fogo do contraditório. Acredito que Blairo tenha pensado com seus botões que legislando continuaria útil a Mato Grosso e que teria tempo disponível para cuidar de seus negócios e abrir a porta de seu possante. Também creio que não foi isso o que ele encontrou em Brasília, a cidade de clima seco e sem calor humano, onde a largura do sorriso na hora do cumprimento é ditada pela relevância do cargo do cumprimentado. Na capital federal o empresário e produtor rural que hibernou em Mato Grosso enquanto seu lado político era cercado pela pompa ficou isolado pelo poder que a senatoria confere.
Aos 57 anos, esbanjando vitalidade e disposição para o trabalho Blairo está sob o cerco de políticos interessados em sua terceira candidatura ao governo. Essas figuras teimam em desconsiderar que esse assunto não está na pauta do senador, que apesar de manifestar apreço pelos manifestantes bateu o martelo botando ponto final no assunto.
Não creio que Blairo recue. Não vejo nada atípico em sua recusa. É seu direito estabelecer limites entre a vida pública e sua individualidade. Enquanto governador sua visão revolucionou Mato Grosso com a interiorização e a descentralização. Citar exemplos desses atos é chover no molhado e, portanto, totalmente dispensável.
Não é preciso conviver com Blairo para saber de seu distanciamento da classe política. Desde o fim da campanha eleitoral em 2010 o senador é figura ausente nos eventos, nas reuniões e nos debates políticos.
Sem criar áreas de atritos Blairo distanciou-se do cenário político mantendo ao seu lado somente seu primeiro suplente Cidinho dos Santos. Ao silêncio sobre política o senador junta seu “não” ao pedido de candidatura. Acho que é preciso respeitar seu posicionamento e ao mesmo tempo observar que mesmo ausente a força de seu carisma pode iluminar candidaturas que receberão suas bênçãos. Todo tipo de insistência no “Volta Blairo!” soa oportunista, como voz de quem busca sobrevivência na sombra de uma figura que nasceu predestinada também para viver do modo que mais lhe convém.
Obrigado Blairo também por sua lição de estabelecer limite para a vida pública. Termine de cumprir seu mandato. Há muitas maçanetas na estrada da vida para serem abertas com a palma da mão de quem sabe.
*EDUARDO GOMES é jornalista