Futebol ou guerra?
Por por Gabriel Novis Neves
23/06/2014 - 17:30
Ancelmo Góis informa, em sua coluna no jornal “O Globo”, que para a “Copa das Copas” estão sendo mobilizados cinquenta e sete mil homens das Forças Armadas, cem mil policiais e quinze mil seguranças, num total de cento e setenta e duas mil pessoas.
Como dizia aquele inesquecível Presidente, “nunca na História deste país” se mobilizou tanto soldado em tempo de paz e, principalmente, para “proteger” apenas doze subsedes onde serão realizados os jogos.
Não contando com militares de países estrangeiros, especialmente aqueles que virão trabalhar no Serviço de Inteligência.
Armamentos de última geração tecnológica foram adquiridos para “abrilhantar” o maior evento popular do mundo.
Vejam abaixo alguns dados onde houve guerras com países estrangeiros e lutas internas.
Na Guerra do Paraguai foram mobilizados cento e trinta mil militares no período de 1865-1870.
No conflito de Canudos (1896-1897), no interior baiano, vindo de dezessete Estados, o efetivo foi de doze mil homens.
Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, Getúlio Vargas conseguiu mobilizar cem mil soldados, enquanto o lado paulista tinha uns trinta e cinco mil homens.
O número de brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi de vinte e cinco mil homens.
Para ocupar o conjunto de favelas da Maré no Rio de Janeiro são empregados dois mil e quinhentos soldados das forças militares.
Durante a Conferência Mundial no Rio-92, que reuniu Chefes de Estado, dezessete mil soldados cuidaram da segurança.
Não imagino o custo desse projeto para proteger apenas uma dúzia de cidades por pouco mais de um mês.
A criminalidade deverá aumentar no interior. Os indicadores que hoje nos atormentam tendem a apresentar números mais cruéis.
A “Copa das Copas” é prioridade em um país onde a cada dia ficam mais gritantes as desigualdades sociais?
Turistas, e principalmente jornalistas que vieram de todas as partes do mundo, não estão preocupados com esse super-aparato militar, tampouco, com os gastos da “Copa das Copas” e, muito menos, com as obras superfaturadas e inconclusas.
O que está chamando mesmo a atenção dos nossos visitantes é o nosso atraso social, traduzido por esse fosso da desigualdade social.
Depois da “Copa das Copas” haverá desmobilização da nossa segurança e continuaremos a frequentar as estatísticas dos países mais violentos.
Enfim, o povo vive de pão e circo, e este último, com certeza não nos faltará.
GABRIEL NOVIS NEVES é médico em Cuiabá, foi reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).