A Polícia Federal começa a investigar crimes de assassinatos, estupros e torturas cometidos, supostamente, por fazendeiros contra remanescentes de escravos, da comunidade quilombola do Pita Canudos, em Cáceres (225 km a oeste de Cuiabá). A orientação é do Ministério Público Federal (MPF). A determinação é para que sejam investigados todos os crimes ocorridos desde 1988.
Em depoimento à Polícia Federal, representantes do antigo quilombo Pita Canudos informaram que pelo menos cinco pessoas, entre elas uma mulher, foram encontradas mortas, de forma misteriosa, na referida comunidade, e que até hoje nenhum caso foi elucidado.
A suspeita é de que os atos de violência foram praticados na época da “grilagem” da terra, supostamente por fazendeiros, numa forma de intimidar e expulsar os moradores do local. As informações são de que os resistiam eram torturados e até mortos. “Infelizmente não temos como provar. Mas, as notícias da época eram que eles morreram em decorrência da violência que sofreram visando suas expulsões da comunidade”, disse em depoimento à Polícia Federal a presidente da Associação Quilombola do Pita Canudos, Joana de Oliveira Campos.
Ela diz que procurou a Polícia Federal por estar sendo ameaçada desde que assumiu a presidência da associação que luta pela retomada da terra. Joana relatou que as ameaças foram feitas por telefone. “Um deles me dizia que se eu não parasse iria pagar caro por isso”, disse afirmando que registrou ocorrência policial, onde consta, inclusive, o número do telefone da pessoa que lhe fez a ligação. A PF não confirma.
Porém, as informações são de que os primeiros a serem ouvidos serão as pessoas que atualmente ocupam a comunidade. Eles terão que esclarecer como adquiriram a terra.
De 373 hectares, Pita Canudos está localizada em uma região montanhosa, a 48 km de Cáceres. É grande a esperança dos quilombolas em reaver a terra de onde foram praticamente expulsos nas décadas de 80, 90 até o ano 2000. Presidente da associação informa que o MPF já determinou ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) fazer a demarcação das terras, para em seguida dar início à titularização.
“As informações que temos é que o MPF já determinou a demarcação da terra. Acredito que o nosso sonho de voltar para nossa terra será realizado. Se tudo certo, cerca de 50 famílias remanescentes de escravos serão beneficiadas”.
Quilombolas é designação comum aos escravos refugiados em quilombos, ou descendentes de escravos negros cujos antepassados no período da escravidão fugiram dos engenhos de cana-de-açúcar, fazendas e pequenas propriedades onde executavam diversos trabalhos braçais para formar pequenos vilarejos chamados de quilombos.
Mais de duas mil comunidades quilombolas espalhadas pelo território brasileiro mantêm-se vivas e atuantes, lutando pelo direito de propriedade de suas terras consagrado pela Constituição Federal desde 1988.1
Tais comunidades estão dispersadas pelo território brasileiro nos estados de Pernambuco, Paraíba, Pará, Bahia, Maranhão,Amapá, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
Comunidades quilombolas junto com outros movimentos sociais camponeses articulados conquistaram nas últimas décadas o direito à Educação Básica do Campo. Trata-se de uma educação com características diferenciadas do ensino escolar tradicional, particularmente em relação ao regime de alternância.
O termo quilombola vem do tupi-guarani cañybó e significa «aquele que foge muito»(wikipédia)