Interessante notar como os textos resumidos nos têm chamado mais atenção que aqueles produzidos com maior racionalidade e profundidade. A vida corrida que levamos, sem tempo para quase nada, a não ser para a busca de sobrevivência própria e dos familiares, nos relega à inferioridade intelectual.
Com a teoria da relatividade, Einstein recria a dialética e a necessidade da reflexão constante, não só na física, mas igualmente em todos os ramos do conhecimento. O ‘resuminho’ ficou com os dias contados. Tanto isso é verdade, que a sociologia jurídica alemã avançou, ainda antes da segunda grande guerra, no descobrimento da essência do debate político antecedente ao resultado positivado, ou seja, da lei. Posteriormente, tal relatividade passou a ser inquietação da filosofia do Direito, tendo como expoente o pensador alemão Robert Alexy, com a sua renomada teoria da ponderação.
Hoje, por ironia tecnológica, até pela facilidade da internet, lemos o resumo do resumo e ficamos satisfeitos por estarmos ‘bem’ informados. O tempo, de aliado, virou vilão num mundo sem peia e freio. O ócio reflexivo não nos é permitido. As manchetes falam pelo conteúdo, apesar de que nem sempre o retratam com fidelidade.
De relatividade, passamos ao absoluto vindicado pelo rolo compressor da informação de massa, deseducadora e mentirosa, serva fiel de quem lhe paga as contas e farras. Inquérito de polícia virou peça acusatória. Denúncia virou fato subsumido à decisão final da verdade, processual ou não. Do necessário trânsito em julgado, somente remotas lembranças de um sistema de justiça que já teve seu momento e tempo.
Somado a isso, e já tivemos a oportunidade de expor neste espaço, temos a falta de regulamentação das atividades das bibliotecas virtuais, em especial do Google. O efeito dessa libertinagem é devastador, como, por exemplo, o direito ao esquecimento. Apesar de ter sido debatido recentemente na comunidade jurídica europeia, com o apoio integral pela sua incidência sob a perspectiva dos direitos humanos, com a ferramenta de consulta universal, esquecer algo sobre alguém, ainda que inocente, virou poeira ou fumaça cibernética.
Como voltar no tempo nessa temática? Como ensinar, apesar dos ‘resuminhos’, a relatividade das coisas e a necessária ponderação antes do julgamento da ‘mass media’? Como o estado mental das pessoas, projetado atualmente pela busca de facilidades, resumos, manchetes etc, pode ser trabalhado em busca de uma maior dialética política e social?
Não tenho as respostas; as daremos considerando a relatividade de tudo e o pensamento reflexivo de cada qual. Aliás, perguntar não ofende - já amou a teu próximo como a si mesmo? Já julgou a teu vizinho com a medida e peso com que julgas seu filho? -. Cuidado, não basta a igreja e a confissão, o buraco da agulha é muito pequeno para a pata do camelo. É por aí...
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO escreve aos domingos em A Gazeta (email: antunesdebarros@hotmail.com)