Contrariando as recomendações dos órgãos de saúde pública, o professor-pesquisador sugere que a população deixe água parada como armadilha para prevenir a reprodução do Aedes aegypti, transmissor da dengue, febre chikungunya e a zika. Esta última vem espalhando pânico entre mulheres grávidas pelo risco de provocar a microcefalia nos bebês, durante a gestação.
André Luís Soares da Fonseca, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), explica que o método é simples, porém eficaz, e pode ajudar na eliminação dos ovos e mosquitos adultos.
A sugestão dele é para que os moradores disponibilizem, em lugares visíveis, onde possam se lembrar com facilidade, um ou mais recipientes com água parada. E que uma ou duas vezes por semana faça a troca, ou seja, jogue aquela água fora, lave a vasilha e a encha novamente.
O doutor em doenças tropicais detalha que o ideal mesmo é fazer a troca da água duas vezes, considerando outro aspecto importante do repertório comportamental das fêmeas: o risco de canibalismo.
Conforme o professor, as fêmeas dessa espécie evitam ovipositar em lugares onde há infestação de larvas em desenvolvimento avançado, perto de virar mosquito, como estratégia de evitar que se alimentem dos ovos.
Ele vê essa maneira como uma ação eficiente para prevenir, especialmente por evitar a dispersão do vetor à procura de outros locais, mais escondidos para fazer a reprodução.
“Seria mais realista considerar que na maioria dos casos o mosquito pode encontrar, ainda que em proporções menores e de acesso mais difícil, abrigo seguro para depositar os ovos e cumprir o ciclo reprodutivo”, avalia.
O esforço atual para limitar a população de vetores através da redução de lugares de reprodução poderia estar estimulando a dispersão de adultos e, consequentemente, do vírus, alerta ele.
Professor da disciplina de Imunologia, ele diz que essa nova metodologia foi testada, e vem sendo difundida extraoficialmente, com base em várias pesquisas internacionais que estudam o comportamento do mosquito desde 1998.
No entendimento dele, o controle de doenças pode estar sendo prejudicado pela falta de aplicação do conhecimento sobre o comportamento dos atores envolvidos na sua transmissão.
ESTRATÉGIA COMPLEMENTAR - O especialista destaca que não está desconsiderando as práticas oficiais, mas, uma vez conhecido este aspecto do comportamento do vetor, apresentando uma estratégia complementar. ”Sem, de forma alguma, reduzir os esforços de eliminação dos focos não controlados de criadouros, e outras medidas em curso”, destaca.
Ele ainda complementa que o controle atual se restringe à eliminação de “todos os focos de criação dos estágios aquáticos” e do mosquito na fase adulto, este último com o fumacê.
Quando esta eliminação dos criadouros é próxima do total, seu sucesso está garantido, porém, como isso não acontece na prática, seriam necessárias outras ações complementares, talvez mais eficazes, diz.
O professor-pesquisador assinala que o fumacê não alcança todos os cantos onde há mosquitos – e seu efeito tem duração máxima de 30 dias, se não chover ou a água levar o veneno.
Quanto ao inseto, o ciclo reprodutivo pode variar de 10 a 400 dias, dependendo do ambiente em que os ovos foram depositados - se terão contato imediato ou demorado com a água.
Ele garante que há anos pratica em casa a metodologia que ensina e, assim, vem conseguindo eliminar o mosquito e a não contrair as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, apesar dos riscos que corre em outros ambientes que frequenta.