O longa-metragem “Rondon, O Desbravador” estreia nacionalmente, em pelo menos 20 salas, nesta quinta (1º de setembro). Esta é a primeira vez que uma produção mato-grossense consegue incluir-se no circuito brasileiro de lançamentos mundiais.
Resultado de uma co-participação entre Mato Grosso e Rio de Janeiro, a obra pretende lançar luzes e um novo olhar sobre a trajetória de um dos maiores ícones da história do Brasil, o mato-grossense e mimoseano Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958).
A co-direção e produção contam com o cineasta cuiabano Rodrigo Piovesan, além do também diretor carioca Marcelo Santiago. Fruto de um trabalho construído em três etapas, nasceu após intensa pesquisa da qual foram gerados um documentário, uma minissérie para televisão em cinco capítulos e, por fim, o longa-metragem, explica ao o produtor e diretor Rodrigo Piovesan.
Ele passou por uma travessia de quase dez anos para conseguir apresentar seu trabalho. “Foram dois anos de filmagem, produção e pós-produção, mas de projeto foram quase 10 anos, entre captação, produção e finalização, divididos entre a minissérie, o documentário e o longa-metragem”, explica o cineasta.
Isso se deu por conta de suas escolhas artísticas, para além da administração pura e simples de recursos, sempre escassos quando o assunto é audiovisual nacional. “A princípio era só uma minissérie de vinte capítulos. Preferimos reduzir essa mini para cinco capítulos e tornar o filme um longa”.
A aposta provou ser a mais correta. “Fomos premiados no Los Angeles Brazilian Festival em 2015 e, a partir disso, conseguimos a distribuição da Europa Filmes. Ontem (29) fomos surpreendidos com a notícia do lançamento nacional em ótimas salas, concorrendo com produções mundiais, nas cidades do Rio de Janeiro, Fortaleza, São Paulo, Campo Grande, Dourados, Ribeirão Preto, além de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis, entre várias outras”, comemora o diretor.
E nada de imaginar que a Europa Filmes vai lançar a história na base do velho esquema de distribuição nacional, ou seja: só pra cumprir a tabela da obrigação constitucional de abrir espaço para produções brasileiras, relegando-as às micro-saletas, geralmente as mais chinfrins, dos cinemas. “A sala do Rio de Janeiro é a melhor do Estado, a do Barra Shopping. Em Curitiba, entrou nas melhores salas e shoppings. Isso pra nós justifica uma grande aceitação dos trailers e todo material de divulgação produzido pela Europa Filmes. Eu só tenho a agradecer”, conta.
Produção
Para dar vida ao militar, cujo lema era morrer para não matar e que era chamado pelos ameríndios brasileiros de “O Grande Chefe”, foram escalados dois atores. A Nelson Xavier coube a tarefa de representar Rondon já na velhice, a relembrar a história de como ajudou a criar, simultaneamente, pontes entre os novos e os primeiros brasileiros e a interligar o Brasil das grandes cidades no interstício entre os séculos XIX e XX com o mundo ainda hoje inexplorado da Amazônia, o norte e o centro-oeste do país.
Divulgação
Cineasta cuiabano Rodrigo Piovesan conta que foram dois anos de filmagem
Nessas reminiscências, quem aparece como o jovem Marechal Rondon, a conviver com outros dois vultos históricos de relevo mundial – como o ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt e o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, além das várias etnias de indígenas –, enquanto lidera uma expedição científica e tecnológica em meio ao Brasil profundo, é o ator Rui Ricardo Diaz Muito.
Ele admite que conhecia pouco a trajetória do patrono das telecomunicações brasileiras até ser convidado para o papel. “Descobri uma figura de extrema importância no que diz respeito à proteção e preservação da causa indígena”, conta Diaz.
Para isso, ele recorreu a vídeos, conversas com historiadores, indigenistas e familiares de Cândido Rondon. “E também com o povo de Mato Grosso e os índios. Alguns da mesma etnia da qual descendia o marechal, os Bororos”, lembra. Essa convivência foi classificada por ele como “muito especial”.
Quem também assume ter descoberto novas maneiras de perceber o Brasil e alguns de seus nomes históricos é o ator Marcos Winter, cuja tarefa foi a de traduzir para o cinema a odisséia do classificado por muitos como maior educador de toda a história do país, Darcy Ribeiro. “Acho que o brasileiro conhece pouco a história desses heróis. A gente vive em um país que o grande problema está na educação, onde pessoas são desonestas. Darcy Ribeiro foi um grande exemplo em se tratando da educação no país”.
Reprodução de época
O roteiro retrata um encontro entre um jornalista e Marechal. A partir das memórias revividas pelas entrevistas, começam os relatos das aventuras do homem de Mimoso (distrito hoje integrado a Santo Antônio de Leverger), as dificuldades e a busca por ideais caros aos homens de um tempo em que às idéias do iluminismo eram infundidas preocupações hoje consideradas românticas, como o encontro e convivência pacíficos entre culturas diversas e seus elos possíveis.
Em Cuiabá, o filme será exibido nas principais salas da cidade. Foram utilizados pelo menos 80 atores, entre locais e nacionais. Os figurinos, destacados devido a uma elogiada reprodução de época, foram produzidos por uma figurinista local (Jane Klitzke) e uma nacional, Pati Monteiro, cujo currículo inclui pelo menos um grande momento do audiovisual nacional, o filme “O Quatrilho”.
Uma movimentação de produção arriscada e jamais tentada em Mato Grosso, ao menos não com uma produtora local.
Foram envolvidas 60 pessoas diretamente. Indiretamente, o número chegou fácil a quase 100 pessoas. “Foi um momento único na história do audiovisual mato-grossense, fico feliz porque esse sucesso é acima de tudo centrado no retrato da figura do marechal Cândido Rondon, porque o Brasil carece de um melhor retrato de seus heróis. Há histórias muito ricas dramaturgicamente falando em torno desses vultos”, finaliza Rodrigo Piovesan.