Muitas pessoas partem do princípio de que, se vitamina não fizer bem, mal também não faz. Mas, no caso dos suplementos vitamínicos, se ingeridos sem necessidade e de forma exagerada, podem, sim, levar até a quadros de intoxicação (hipervitaminose) e aumento do risco de câncer.
As vitaminas são essenciais para manter o corpo saudável, mas as pessoas preferem consumi-las em cápsulas do que em alimentos frescos, segundo a nutricionista e membro da Comissão das Especialidades Associadas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) Renata Rodrigues de Oliveira. “É importante as pessoas saberem que a absorção desses comprimidos não chega nem perto da absorção via oral pela alimentação”, alerta.
Assim como a ausência de vitaminas pode prejudicar o funcionamento do organismo, o excesso delas também pode levar a sintomas semelhantes aos da escassez. O principal risco, diz a nutricionista, é sobrecarregar o fígado – considerado o “maestro do corpo”, pois tudo passa por ele –, além de levar a um desconforto intestinal.
Além desses efeitos colaterais comuns às diferentes doses exageradas, cada composto, se ingerido em excesso, pode levar a reações específicas. No caso da vitamina C, por exemplo, o excesso “pode provocar não só cálculos renais, mas distúrbios gastrointestinais e incômodo na bexiga, porque acidifica a urina e provoca irritação”.
Estudo científico realizado com betacaroteno, um precursor da vitamina A, para prevenir câncer de pulmão em fumantes, apontou que seu consumo fez crescer o número de casos da doença nos usuários. Outra pesquisa, feita com mais de 35 mil pessoas e publicada no “Journal of the National Cancer Institute”, visava investigar se a suplementação de selênio e vitamina E era capaz de prevenir o câncer de próstata, mas teve que ser interrompida antes do previsto. Os resultados preliminares apontaram que a vitamina E aumentava o risco de câncer de próstata, em até 63%, e o selênio também não tinha qualquer efeito protetor.
Multivitamínicos. As maiores preocupações do diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) Rodrigo Lima são em relação à indústria e à “vida de astronauta” desses usuários.
“As pessoas não só perderam a mão por comprar suplementos na farmácia e usar sem prescrição, mas também porque o mercado tomou conta e transformou num produto. Eles têm a mesma comprovação científica de uma garrafada”, diz.
Por isso, Lima garante que os “multivitamínicos são uma mina de ouro, um desperdício de dinheiro”. “Não tenho a menor dúvida de que é placebo, não faz o menor sentido”, garante.
Ingestão. As vitaminas são extremamente importantes, pois contribuem para vários processos químicos no organismo e, por isso, precisam ser mantidas em bons níveis. Pelo consumo de alimentos naturais, uma “overdose” não é possível. Isso poderia acontecer no caso de uma grande ingestão de suplementos vitamínicos. Mesmo assim, é difícil determinar a partir de qual quantidade seria uma superdosagem.
Virou produto
“Temos um mercado sem regulação, que ninguém fiscaliza, e as empresas não são obrigadas a provar o que acontece, pois vitamina não é considerada remédio, ou seja, vende em qualquer canto e fica por isso mesmo. A boa alimentação é sempre a melhor opção.”
Rodrigo Lima
Diretor da Sociedade Brasileira de medicina de família e Comunidade