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Médico fala sobre a importância do exame de próstata
Por Midianews/ Thaiza Assunção
07/11/2016 - 09:42

Foto: Maria Claudia Reis

"O câncer de próstata é uma doença silenciosa, traiçoeira, que mata. É uma doença mais comum do que as pessoas pensam", afirma especialista

 

Entramos em novembro e, com a virada do mês, muda também a cor. Após o Outubro Rosa, uma campanha destinada à prevenção do câncer de mama, o Novembro Azul chega com uma alerta para a conscientização sobre o câncer de próstata.
 
Mas por que destinar um mês exclusivo ao tema? A resposta é simples: a doença é a segunda mais comum entre os homens no Brasil. Fica atrás apenas de um dos tipos de câncer de pele. E, conforme o médico urologista Alex Tafuri, é o câncer que mais mata a população masculina.
 
Além disso, o preconceito com o exame de toque retal, único, até então, eficaz para constatar a doença faz muitos homens “correrem” do consultório.
 
“O câncer de próstata é uma doença silenciosa, traiçoeira, que mata. É uma doença mais comum do que as pessoas pensam. Não acontece só com o nosso vizinho. Por isso, essa campanha é muito importante, porque conscientiza os homens de todas as classes sociais a fazer o exame”, disse, em entrevista ao MidiaNews.
 
Tafuri é formado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e especialista em urulogia pelo Hospital Vera Cruz de Belo Horizonte. Ele atende desde 2009 no Hospital de Câncer de Mato Grosso e no Hospital São Mateus.
 
Na entrevista, ele falou sobre “temor” criado pela sociedade a respeito do exame, as “piadinhas” em torno do toque e deu dicas para viver uma vida com saúde.
 
Confira os principais trechos da entrevista:
 
MidiaNews - Qual a importância de se dedicar um mês todo a um tema como o câncer de próstata?
 

Alex Tafuri – Essa ideia foi muito feliz. Foi criada depois do Outubro Rosa, com o objetivo de conscientizar os homens de todas as classes sociais. Não é todos que têm acesso à informação. Então, quando se faz uma campanha desse porte - que é divulgada em todos os meios de comunicação e com famosos falando a respeito do tema -, acredito que acaba atingindo a todos os homens de que é preciso fazer o exame. O câncer de próstata é uma doença que mata. É uma doença que é mais comum do que as pessoas pensam. Não acontece só com o nosso vizinho. Por isso, essa campanha é muito importante porque conscientiza muitos homens.

 
MidiaNews - Quais são os primeiros sinais de que a pessoa pode estar acometida pela doença?
 
Alex Tafuri – Esse é o grande problema do câncer de próstata. Não há sintomas na fase inicial. Quando a doença apresenta sintomas, já é de forma quase tardia. Então, como é uma doença muito silenciosa, traiçoeira, que mata, o preventivo é fundamental.
 
MidiaNews – Com quantos anos o homem tem que fazer o exame?
 
Alex Tafuri – Hoje é preconizado a partir de 50 anos para a população masculina em geral e 45 anos para a classe de risco, que são aqueles homens com histórico de câncer na família e negros.
 
MidiaNews – Então esses dois grupos são os mais propensos à doença?
 
Alex Tafuri – Estudos comprovam que os homens com histórico de câncer na família e os negros têm 10 vezes mais chance de ter o câncer de próstata do que a população masculina em geral. Tudo isso é baseado em estatísticas, evidências. Por isso esses dois grupos têm que fazer o exame cinco anos mais cedo.
 
MidiaNews - Há alguns cuidados que os jovens podem tomar para evitar a doença no futuro?
 
Alex Tafuri – É difícil ter uma prevenção. Existem alguns dados que falam que o consumo excessivo de carne vermelha poderia estar relacionado à doença, mas isso ainda não está comprovado. Mas o consumo excessivo da carne vermelha está relacionado a outros tipos de câncer, como o de intestino, por exemplo. Então é importante ter uma alimentação saudável, para evitar qualquer tipo de doença. Porém, com relação ao câncer de próstata, ainda não há um estudo sobre prevenção.
 
MidiaNews - Vida sedentária, estresse, fumo também são fatores que contribuem?
 
Alex Tafuri – Para vários tipo de câncer contribuem. Acredito que para o de próstata também. Essa vida estressante, sedentária, sem atividade física, excesso de peso, contribui, além do câncer, para várias outras doenças. Mas não dá para relacionar isso especificamente ao câncer de próstata. Como urologista, eu enxergo o homem como um todo. Eu não posso só tratar o câncer de próstata. Quando o paciente chega ao consultório, eu faço uma série de perguntas que não está relacionada só ao câncer de próstata. Eu preciso saber como está a saúde sexual, a saúde do corpo. Se identifico que está mais gordinho, com colesterol alto, encaminho para as especialidades que possam cuidar dessa área. Então, eu enxergo o homem como um todo. E, dentro desse todo, há esses problemas, do sedentarismo, a obesidade, isso tudo acabo orientado para prevenir outras doenças.
 
MidiaNews – Por isso a importância da atividade física e alimentação saudável?
 
Alex Tafuri – Importantíssimo. A atividade física previne uma série de doenças como as cardiovasculares, por exemplo. Ela [atividade física] libera a endorfina, que faz bem para o cérebro. É fundamental não só para os homens, mas para todas as pessoas. A alimentação saudável também é fundamental. Hoje nós vivemos uma era que temos tanta informação que não justifica mais se alimentar mal se você tem condições de se alimentar bem. Não tem desculpa: todo mundo sabe o que faz bem. Come mal de teimoso.
 
MidiaNews - Neste ano, estima-se que 61 mil brasileiros terão o diagnóstico de câncer de próstata. Em Mato Grosso, qual é a estimativa?
 
Alex Tafuri – A região Centro Oeste é a segunda do país com mais registros. Ficamos atrás apenas da região Sul. A estimativa de Mato Grosso é muito parecida com a média nacional. A gente faz uma proporção em relação à população. Isso eu posso falar de carteirinha. Atendo no Hospital do Câncer e a gente faz muito diagnóstico de câncer de próstata lá. Às vezes nem sempre no estágio que a gente gostaria, que é o mais precoce, até pela dificuldade da população chegar até a gente, principalmente a mais carente. A gente sabe que algumas coisas não funcionam muito bem. Essa lei que o paciente tem que ser operado até 60 dias depois do diagnóstico, a gente não consegue fazer isso com todos, mas o câncer de próstata, sem dúvida nenhuma, é o mais comum no homem, tirando o câncer de pele, é o que mais mata a população masculina.
 
MidiaNews – Existe uma porcentagem a respeito de morte por câncer de próstata em Mato Grosso?
 
Alex Tafuri – Eu não saberei dizer essa porcentagem, mas é uma das doenças que mais mata no sexo masculino em todo o Brasil, com certeza.
 
MidiaNews - O senhor acha que o preconceito e o temor com o toque ainda são grandes ou têm diminuído?
 
Alex Tafuri – Ainda é grande. Como eu te disse: se o homem faz o diagnóstico precoce, a chance de cura é muito grande. Mas para fazer esse diagnóstico, é preciso que os homens façam o exame como é preconizado, mas isso não acontece. Chegam homens aqui com 60, 65, 70 anos e muitas vezes carregado pela mulher. É difícil o homem tomar a iniciativa de vir sozinho.
 
Mas eu tenho que ser otimista também. Está mudando um pouco sim. Com as campanhas de conscientização, em novembro, o consultório fica mais cheio por conta disso, devagarzinho estamos caminhando. Porque essa coisa cultural a gente não consegue mudar do dia para a noite. Isso demora às vezes anos. Os pacientes mais velhinhos, com 70 anos, têm mais resistência, mas com 50 já conseguem chegar com menos receio, menos preocupação. A grande maioria, quando chega e faz o exame, até fala que é simples.  Eles até assustam achando que a coisa era mais complexa - e não é nada disso.
 
MidiaNews - Ainda existem aqueles pacientes que se sentem atacados em sua masculinidade?
 

Maria Claudia Reis
Alex Tafuri
O médico explica que o exame de toque renal é mais tranquilo do que se pensa
 

Alex Tafuri - Com certeza! Existem aqueles que chegam contrariados no consultório. Eu tento explicar a situação o máximo possível. Abro o computador, falo as porcentagens de quantos pacientes podem desenvolver a doença, quantos vão morrer, a importância de fazer o exame. A maioria acaba cedendo quando vê esses dados estatísticos. Então, às vezes, é falta de informação, associada a essa cultura nossa de achar que vai perder a masculinidade se fizer o exame. O exame ginecológico talvez seja muito mais agressivo. A mulher fica mais exposta, e elas todas vão. Então não justifica o homem não querer fazer o exame de próstata. Ele só estará cuidando da saúde. É melhor do que depois correr atrás do prejuízo, tratar algo que não tem cura.
 
MidiaNews - A falta de educação formal do brasileiro contribui para a baixa procura pelo exame?
 
Alex Tafuri – O maior problema que enfrentamos no país é a falta de educação. Porque quando você tem desconhecimento, acaba levando à ignorância e aí a pessoa acha que nunca vai acontecer com ela, enfim. Acho que a grande reforma no Brasil hoje seria a parte de educação, que é a que dá a base para tudo.  Eu não me tornaria médico se não fosse educação, mas não são todos que têm a mesma oportunidade. E aí a gente chega onde chega: políticos corruptos, como estamos vendo aí diariamente, e isso tem um efeito cascata. O dia que esse país tiver educação, acho que melhora tudo: saúde, política, economia.
 
MidiaNews - As piadas que existem em torno do exame do toque mais atrapalham ou ajudam a conscientizar os homens sobre a importância do exame?
 
Alex Tafuri – Acaba que atrapalha porque é aquele negócio: cutucar na ferida. O cara já não está muito a fim. Se ele ouve uma piadinha dessa no serviço, por exemplo, acaba nem fazendo o exame. Por isso que muitos nem comentam que vão fazer o exame porque senão sofrem bullying. Canso de ver isso. Mas eu acredito que já foi muito pior. Com essas campanhas, tem diminuído cada vez mais essa resistência de fazer o exame. Mas é cultural e cultura não se muda do dia para a noite. Passa de pai para filho. E, para mudar essa cultura, demora, demanda tempo, sacrifício, campanha. Mas um dia a gente chega lá.
 
MidiaNews – Como que é feito o exame do toque?
 
Alex Tafuri – É um exame super rápido. A próstata faz divisa com o reto. Através do toque, que é feito com um dedo só, a gente consegue apalpar toda a superfície da próstata. Dura cerca de 30 segundos. A próstata é lisa. Se identificamos uma nódulo, uma área mais endurecida, não quer dizer que seja câncer, é apenas uma área suspeita. Mas daí é feito uma biópsia de próstata que vai confirmar ou não a doença. Então o diagnóstico dever ser sempre  pelo PSA, que é um exame de sangue associado ao toque. Porque cerca de 15% dos pacientes que têm o câncer de próstata confirmado pela biópsia, ele tem o exame de sangue normal.  Por isso, o fato do exame de sangue estar normal não exclui a possibilidade do paciente ter o câncer de próstata. Por isso é importante fazer sempre os dois exames.
 
MidiaNews - Chegará o dia em que teremos um exame mais eficaz que o toque para diagnosticar o câncer de próstata? Há estudos avançados sobre o tema?
 
Alex Tafuri – Sempre há estudos. Já tentaram ressonância magnética. Existem outros estudos, mas até agora nada conseguiu substituir o toque. Acho que um dia a gente vai chegar lá, mas estamos bem longe disso ainda. Talvez a minha geração não veja isso.
 
MidiaNews - Por que o chamado exame PSA não é suficiente para constatar a doença?
 
Alex Tafuri – Cerca de 15% dos pacientes que tem câncer de próstata têm o PSA normal. Então o PSA não é 100%. Primeiro que ele não é específico para o câncer de próstata. Ele altera em outras condições também. Por exemplo, se o paciente tem infecção urinaria aguda, o PSA sobe, se o paciente tem uma proposta crescida, o PSA também pode subir.
 
MidiaNews - Em que estágio da doença ainda é possível a cura e uma vida normal para o paciente?
 
Alex Tafuri – O paciente que é diagnosticado precocemente, dependendo da idade, passa por uma cirurgia, onde é retirada a próstata e ele acaba tendo uma vida tranquila. Alguns ficam com algumas sequelas da cirurgia, como por exemplo, impotência sexual. Mas são todas tratadas. Então esse pacientes diagnosticado precocemente tem uma chance grande de ser curado e ter uma vida normal. Já os pacientes diagnosticado com a doença mais tardia, a qualidade de vida fica muito comprometida. Às vezes a cirurgia é mais agressiva, tem que fazer uma castração com a retirada dos testículos, para se tentar dar uma qualidade de vida melhor. Esses pacientes costumam ter muita dor, ficam em cadeiras de rodas. No final chegam a tomar morfina em altas doses, porque não aguentam a dor. Por isso que eu falo: quem conhece e já viu um paciente sofrer ou chegar em fase terminal de câncer de próstata, não tem vergonha de ir ao consultório de urologia.
 
MidiaNews - Estudos mostram que homens são menos preocupados com a saúde do que as mulheres.  Isso também contribui para as mortes por câncer de próstata? Aliás,  como fazer com que os homens se preocupem mais com a própria saúde?
 
Alex Tafuri – Geralmente os homens são mais relaxados. A grande maioria dos homens vem carregados pelas mulheres. Chega aqui, eu pergunto qual o motivo da consulta e eles respondem: pergunta para minha mulher. Canso de ouvir isso. Ainda bem que tem mulher que cuida, mas tenho a convicção que isso vai mudar.

 

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