O estudante do curso de formação de soldados do Corpo de Bombeiros (CB), Rodrigo Patrício Lima Claro, de 21 anos, que estava internado após passar mal em uma aula de instrução da corporação, na Lagoa Trevisan, em Várzea Grande, morreu na noite da última terça-feira (15).
O corpo do aluno foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) da capital durante a madrugada, mas até às 9h30 da manhã de ontem (16) a família ainda não tinha previsão de velório ou sepultamento, porque estariam faltando formol, álcool e até luvas cirúrgicas estéreis. A Secretaria de Segurança Pública (Sesp) negou a falta dos insumos.
Rodrigo Claro estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular desde o último dia 10. Durante o treino, ele passou mal e foi dispensado ao final, após reclamar de dores na cabeça e exaustão. Segundo denúncias, o jovem teria, supostamente, passado por uma sessão de afogamentos, conhecido como “caldo”.
“Estamos e vamos apurar o que realmente aconteceu. Mas, há depoimentos de colegas dizendo que houve uma sessão de afogamentos”, informou o advogado Júlio César Lopes da Silva, que a pedido da família da vítima acompanha o caso. “O que tudo indica é que houve excesso e tortura, algo muito semelhante ao que aconteceu com Abinoão”, completou.
O advogado se mostrou preocupado com o fato de que, temendo possíveis retaliações, já que estarão adentrando a corporação, os colegas, que possivelmente presenciaram o ocorrido, tenham receio de falar sobre o que realmente aconteceu. Mas a intenção é colher e analisar imagens e vídeos que possam ajudar a esclarecer os fatos.
Durante a realização das aulas, Rodrigo queixou-se de dor de cabeça no momento da instrução de salvamento aquático. Ele realizava uma travessia a nado na lagoa e, quando chegou à margem, informou à instrutora de que não estava bem e foi liberado.
Horas antes do treino, ele teria ligado para mãe, Jane Claro, e se mostrado preocupado com o fato de ser “pego para Cristo”. Os abusos teriam sido cometidos por uma tenente e um sargento. A tenente foi afastada das funções até que o caso seja esclarecido.
Júlio Cesar, que já fez parte da corporação e pediu exoneração para seguir a carreira de advogado, informou que, mesmo passando mal, Rodrigo Claro, ao invés de ser devidamente assistido e transportado em uma ambulância, que não havia no local, saiu pilotando uma motocicleta até a unidade do CB, que fica no Verdão, e somente depois seguiu para a policlínica, que fica nas proximidades.
Depois, ele foi transferido para o hospital particular. Inicialmente, os médicos diagnosticaram um quadro de aneurisma cerebral. No entanto, uma nova tomografia foi feita e teria descartado o aneurisma.
Ontem pela manhã, extremamente consternados, a família e amigos de Rodrigo Claro, incluindo o pai dele, que também faz parte da carreira militar (CB), aguardavam a liberação do corpo do aluno, que seria transladado para Tangará da Serra (240 km ao Norte da capital).
INQUÉRITO – Por meio da assessoria de imprensa, a Sesp garantiu que não faltaram insumos no IML. Informou que, devido às circunstâncias da morte, havia a necessidade de um exame mais criterioso para identificar a causa; por isso, a necropsia foi mais demorada do que o normal.
A Sesp lembrou que o Corpo de Bombeiros abriu inquérito para apurar os fatos e que todo o processo é acompanhado por um oficial da corporação.
Ontem à tarde, o CB emitiu nota de falecimento, lamentando a morte de Rodrigo. Informou que, de acordo com um laudo preliminar da Politec, a causa da morte é indefinida e um novo laudo será emitido no prazo de 15 dias.
O CB garantiu que presta todo o apoio ao militar e sua família e que se colocou à disposição para prestar outros esclarecimentos, se necessário.
Segundo a nota, o velório aconteceu ontem à tarde, em Cuiabá, no 1º Batalhão de Bombeiros Militar. Em seguida, o corpo seguiu para Tangará da Serra, onde será velado até às 7h de hoje. E, por fim, levado para Sinop, onde ocorrerá o sepultamento.
Em nota anterior, a corporação informou que, “de acordo com o instrutor da matéria de salvamento aquático, o aluno vinha apresentando os mesmos tipos de sintomas quando era submetido aos esforços exigidos para os treinamentos, não só na matéria especifica, mas também em outras atividades que demandavam esforços”.
CASO ABINOÃO – Soldado da Força Nacional da Polícia Militar do Estado do Alagoas, Abinoão Soares de Oliveira, 34, faleceu durante um treinamento da Polícia Militar (PM), no ano de 2010, no Lago de Manso. Em março de 2011, 29 policiais militares foram denunciados pelo Ministério Público por prática de tortura contra 19 alunos do 4º Curso de Tripulante Operacional Multi-Missão (TOM-M) e pela morte do soldado alagoano Abinoão. Em março deste ano, 11 militares tiveram a prisão decretada pela morte do soldado.