As Nações Unidas classificaram os países membros em seis categorias quanto a disponibilidade média de água per capita, sendo que o Brasil foi considerado como um país rico em água. Como nosso país é eminentemente formado por rios, com raros lagos verdadeiros e naturais, o Ministério do Meio Ambiente dividiu o país em 12 regiões hidrográficas, sendo que as principais nascentes dos rios que formam as regiões hidrográficas Amazônica, Paraguai e Tocantins-Araguaia estão, em sua maioria, situadas em Mato Grosso, entre os biomas de floresta amazônica, cerrado (savana) e o Pantanal.
Estas nascentes fluem tanto para o norte-nordeste como para o sul. Para o norte, formam os principais afluentes da margem direita do rio Amazonas, como o Xingú e o Tapajós, e o rio Araguaia e afluentes, em direção nordeste. Para o sul, formam os rios Paraguai e seus principais tributários, que fluem para a maior planície alagável contínua do mundo, o Pantanal Mato-grossense, localizada nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O conhecimento existente sobre os rios de Mato Grosso, especialmente das regiões hidrográficas Amazônica e Araguaia-Tocantins, ainda é escasso. Existem mais estudos e levantamentos na região hidrográfica do Paraguai, cuja ocupação pós-indígena historicamente é a mais antiga e cujo território concentra a maior parte da população do Estado, o que inclui os mais antigos centros de pesquisas e universidades e a existência de usos da água mais diversificados e conflitantes.
Historicamente construímos cidades e plantamos onde existe água e nesta região do Brasil não seria diferente. Tanto no passado, quanto nos dias atuais, a água superficial nos rios e córregos destas três regiões hidrográficas e os mananciais subterrâneos interligados desempenham funções que sustentam a economia e as populações locais, tratando-se de um recurso estratégico e de vital importância para o Estado, mas que raramente é reconhecido como tal. Ao mesmo tempo que é um privilégio ter uma rica e densa rede de drenagem em nosso território, também é uma grande responsabilidade no que se refere a garantir que a água seja concomitantemente utilizada e conservada pelas gerações atuais e futuras, ou seja, que tenha um uso sustentável. O conceito de sustentabilidade aplicável aos recursos hídricos está diretamente relacionado a conservação dos ecossistemas aquáticos, única forma de garantir água em quantidade e em qualidade aos diversos usos que fazemos nas atividades humanas. Inclusive a sustentabilidade do agronegócio no Estado de Mato Grosso está diretamente relacionada à utilização de práticas ambientalmente adequadas, nas áreas destinadas a essa finalidade. Daí a necessidade de enfatizar que a adoção de práticas sustentáveis de produção é um dos caminhos a percorrer, não apenas para a proteção da natureza, mas também e, principalmente, com vistas à conservação de dois elementos fundamentais para essa atividade: água e solo, conforme mencionado no Plano Estadual de Recursos Hídricos elaborado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (2009).
Eis o desafio para Mato Grosso: administrar os atuais usos da água nas diferentes atividades humanas, que se desenvolvem e aumentam quase que continuamente, e planejar os usos futuros, conciliando com a conservação dos ecossistemas aquáticos.
Inspirado no princípio essencial de que não é possível realizar uma gestão e um planejamento sustentáveis da água sem conhecimento e que este conhecimento deve ser difundido para que mais pessoas participem e atuem como profissionais, foi criado o Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal de Mato Grosso. Em quase 10 anos de existência, 123 mestrandos foram formados desenvolvendo trabalhos nas principais áreas e projetos desenvolvidos pelo programa: monitoramento de quantidade e qualidade da água superficial e subterrânea, hidrogeologia, hidrologia e hidrossedimentologia, organismos aquáticos e bioindicadores, técnicas de reuso, controle e tratamento de água e esgoto, avaliação de impactos ambientais de obras hidráulicas, educação ambiental, gestão e planejamento dos recursos hídricos, entre outras áreas afins. Destes formandos, 45% atuam em diversas instituições públicas e privadas de ensino superior, técnico, médio e fundamental, 20% em secretarias de meio ambiente, 9% em consultoria ambiental e os demais atuam em diversas empresas públicas, privadas e do terceiro setor ligadas as áreas de saneamento, indústria, turismo e saúde. Além da formação de profissionais, o desenvolvimento de projetos nestas diferentes subáreas subsidia ações dos gestores públicos e privados e estudos de pesquisa acadêmica, alçando este Programa de Pós-Graduação em revistas científicas nacionais e internacionais.
O papel social, ambiental e econômico dos profissionais que atuam em recursos hídricos, deve portanto, ser sempre pautado pelo uso sustentável da água, conhecendo as condições e problemas atuais, buscando soluções e planejando o futuro, para que as gerações atuais e futuras tenham água em quantidade e em qualidade adequadas aos diferentes usos múltiplos da água nas várias atividades humanas.
Autores:
Daniela Maimoni de Figueiredo (Professora colaboradora do PPGRH/UFMT - Capes/PNPD)
Eduardo Beraldo Morais (Coordenador e professor do PPGRH-UFMT)
Zoraidy Marques de Lima (Professora do PPGRH-UFMT)