“Eu pressenti que ela queria fazer alguma coisa contra ela mesma. Ela me mandou ir embora, disse que queria ficar ali, mas eu voltei e quando voltei consegui evitar que ela pulasse do Portão do Inferno”. Essas palavras são de Rodrigo Flávio, 35 anos. Trabalhando há 15 anos como motorista de caminhão e há pouco mais de um ano como taxista, a data de 4 de maio de 2017 será marcada em sua vida como o dia em que ele impediu um suicídio.

Rodrigo é o homem que conseguiu evitar que Kedma Oliveira, 23 anos, estudante de arquitetura, pulasse do Portão do Inferno. Na terça-feira (3) ela deixou uma publicação em  seu Facebook pedindo perdão aos pais por erros passados. Disse, ainda, que esta seria a última vez que eles chorariam por ela. A estudante também é mãe de uma bebê, e pediu para que a criança fosse cuidada pelos avós. 

 

Falando em suicídio, a jovem sumiu de casa. Nesta quarta-feira (4) a polícia, amigos e todos seus familiares começaram a procura pela jovem, que pouco depois das 14h entrou no taxi nº 062 da Rádio Táxi Bandeirantes.  

 

“Foi coincidência. Eu estava abastecendo meu carro e fui surpreendido por um grito. Era um rapaz perguntando se eu estava de serviço. Eu respondi que sim e logo uma moça saiu do carro e disse que queria ir para Chapada”, relatou o motorista.

 

“Eu disse que levaria e o preço seria R$ 300. Ela (Kedma) disse que estava caro, então eu disse que a levaria por R$ 250. Ela quis mais desconto e pediu para leva-la por R$ 200. Eu aceitei e logo fomos. Ela entrou em meu taxi por volta das 14h20h na região da Estrada do Moinho”, detalhou Rodrigo.

 

Segundo o taxista, no caminho ela estava muito abalada. “Estava com cara de choro e bastante aflita. Mas não falou nada comigo. Chegando perto do Portão do Inferno ela inventou uma história de que os parentes dela estavam lá e por isso ela teria que descer. Eu insisti para não parar, mas mesmo assim ela disse que eles estavam lá e até mostrou um carro que estava parado. Ela dizia que os familiares dela estavam esperando por ela”.

  

Rodrigo continuou a tentar convencer a moça de que ela tinha pago uma viagem até Chapada, então eu a levaria até Chapada. Mas ela insistiu e logo pagou e desceu do carro.

  

 

Aquivo Pessoal

Taxicista Rodrigo 

 

“Ela falou que eu poderia ir embora. Então manobrei o carro e logo voltei para Cuiabá. Mas eu pressenti que ela queria fazer alguma coisa ruim com ela mesmo. Não andei nem 200 metros e manobrei o carro de volta. Nisso já vi ela do lado de dentro do parapeito que define o limite entre a pista e o penhasco. Então eu desci correndo e gritando do carro, mas ela pulou. Eu peguei o cabelo dela, só a ponta do cabelo, mas os fios arrebentaram. Por conta do meu puxão, ela caiu na berada do barranco e quando ela colocou a mão para se apoiar, eu peguei os braços dela e pensei: agora ela não cai mais”, relatou Rodrigo Flávio, com bastante emoção.

  

Após segurar a estudante, o taxista gritou para outros carros que passaram para ajudar a tirar a moça do local. “Eu gritei: 'tentativa de suicídio! tentativa de suicídio!' Alguns carros pararam e logo um morador de Chapada me ajudou. Tiramos ela do despenhadeiro. Nisso ela chorou muito e nós falamos palavras de emoção e de Deus pra ela, mas ela foi levada bem para a casa lá de Chapada e eu segui. Vi ela bem e também o dono da casa que a levou disse que o pai dela iria buscar a moça, então eu voltei embora. Mas com o coração feliz por ter ajudado alguém que eu nunca vi. Isso nunca aconteceu comigo. Acho que foi Deus que me colocou na vida dela. Evitei um suicídio. Evitei uma morte. Na verdade, nem estou acreditando nisso”, concluiu o homem.

 

Rodrigo Flávio estava na casa da mãe quando conversou com a reportagem. Ele ainda não havia falado com Erasmo, pai de Kedma, mas sabe que diretamente ajudou uma família. Ajudou a salvar uma vida e ajudou a marcar sua história entre os bons.