Em conversa gravada com Sìlvio César Correa Araújo, ex-chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), o deputado estadual José Domingos Fraga (PSD) e o deputado federal Ezequiel Fonseca (PP) demonstram curiosidade em saber quais os deputados já buscaram o valor que seria de propina paga durante a legislatura passada. Na época, Ezequiel ainda era membro da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
O vídeo foi entregue no acordo de delação premiada firmada do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) com a Procuradoria Geral da República. A delação foi homologada no último dia 9 de agosto pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.
O ex-governador relatou 56 eventos criminosos ocorridos durante sua gestão. Um deles é o pagamento de “mensalinho” para deputados estaduais da legislatura 2011 a 2015 para garantir a governabilidade.
Alguns deles foram gravados recebendo dinheiro na sala de seu ex-chefe de gabinete, Sílvio César Correa Araújo. Nas imagens, inicialmente, os deputados discutem a forma de como vão deixar a sala de Sìlvio com os maços de dinheiro.
Ao contrário de outros parlamentares, eles não levaram nenhuma pasta ou mochila. “Oh Zé, vai precisar duma mochila ou levamos lá onde você estiver”, questiona Sílvio Correa.
O deputado estadual pergunta se o pagamento não seria feito em cheque, mostrando surpresa. Diante do imbróglio, Zé Domingos sugere para que o dinheiro dele e Ezequiel fossem colocados num mesmo local para deixarem a sala.
A “divisão” seria feita depois. “Põe os dois juntos. A gente sai com os dois juntos”, diz Zé Domingos a Sílvio Correa.
Segundo Zé Domingos, se ele e Ezequiel deixassem o gabinete de Sílvio juntos “daria desconfiança”. Caso o dinheiro fosse armazenado numa mochila, eles teriam que receber no carro.
Em seguida, Ezequiel faz uma outra “proposta” para sair da sala armazenando o dinheiro. “Põe na meia! Melhor que sair com essa mochila aí”, sugeriu.
Zé Domingos disse que, nesse caso, só sairia da sala acompanhado de um segurança. Logo depois, demonstrando “intimidade” na sala, ele se levanta e pega uma caixa de papelão, onde havia alguns materiais armazenados. “Essa caixinha aqui ó. Só tem porcaria nessa caixinha”, disse.
Sílvio Correa pega a caixa e Zé Domingos ajuda a esvaziá-la retirando de lá CDs e papeis. “Põe o meu e do Ezequiel aqui dentro. Não é não Ezequiel”, pergunta, já recebendo a concordância do “colega” de parlamento.
Após esvaziar a caixa, Zé Domingos volta para próximo de Sílvio e o ajuda a contar o dinheiro. Eles vão contando e colocando dentro da caixa.
São colocados R$ 50 mil para cada um na caixa. Ezequiel brinca com a situação da caixa, que ficou abarrotada de dinheiro. “Tem que arrumar um dinheiro mais trocado aí bicho”, ironiza.
OUTROS DEPUTADOS
Em seguida, Ezequiel e Zé Domingos começam a conversar sobre outros deputados que teriam dinheiro a receber com o ex-chefe de gabinete. “O Wagner (Ramos) já pegou?”, questionam.
Sílvio confirma que sim. O ex-chefe de gabinete afirma que falta o deputado Sebastião Rezende (PSC) e Baiano Filho (PSDB). “Eles não estão aqui (Cuiabá)”, respondem.
O último que não havia pegado, até então, era Airton Português (PSD). “Vou entregar para ele amanhã”, finalizou.
Ao final, eles se cumprimentam e vão deixando a sala. Sílvio Correa atende o telefone e o vídeo é encerrado.
Mesmo com o vídeo divulgado desde a noite de quinta-feira, o deputado estadual Zé Domingos Fraga ainda não se posicionou. Já o deputado federal Ezequiel Fonseca, se manifestou sobre o caso na noite de ontem, por meio de nota oficial.
Ezequiel afirma que tem uma carreira política ilibada, o que lhe garantiu vários mandatos eletivos. "Não entrei no mundo da política para participar de esquemas fraudulentos para enriquecer-me, tal como se propuseram os criminosos confessos, agora ditos colaboradores da justiça".
O progressista diz ainda que nunca recebeu qualquer recurso ilícito para basear suas votações na Assembleia e contestou as imagens que, segundo ele, foram editadas. Ele evita comentar o motivo que o levou a receber dinheiro no Palácio Paiaguas. "Minhas posições, erradas ou certas, como pessoa pública, sempre foram pautadas pela justiça como é próprio de um homem simples e trabalhador. Não vou me manifestar pelos poucos minutos de vídeo veiculados, editados, com imagens deturpadas".
Ezequiel afirma que sua versão será consolidada com o decorrer das investigações. "Acredito na justiça séria e ela será consolidada na medida da apuração dos fatos, com a abertura do inquérito será o momento na qual vou apresentar minha defesa. A verdade prevalecerá", finaliza.
NOTA DE EZEQUIEL FONSECA
Quero manifestar publicamente que em razão das notícias veiculadas recentemente envolvendo meu nome em colaboração premiada, que tem como intenção revelar fatos ocorridos na gestão passada do Governo de Mato Grosso, quero deixar claro que:
1-Felizmente, sempre tive uma vida pública digna e ilibada o suficiente para ganhar a confiança dos que confiam no meu trabalho;
2-Não entrei no mundo da política para participar de esquemas fraudulentos para enriquecer-me, tal como se propuseram os criminosos confessos, agora ditos colaboradores da justiça;
3- Continuo a ser um homem simples e que com muita alegria trabalha dia e noite, aos finais de semana e feriados, muitas vezes me ausentando do seio da minha família em prol do trabalho digno e honesto;
4- Contesto a informação de que na condição de deputado estadual, eu e outros cobrávamos vultosas quantias em troca da defesa do governo. Deixo claro que
nunca solicitei qualquer quantia ilícita de quem quer que seja em troca da minha atuação no parlamento, tão pouco me foi entregue dinheiro para esse fim. As próprias imagens veiculadas pela impressa, mesmo editadas, demonstram isso;
5- Minhas posições, erradas ou certas, como pessoa pública, sempre foram pautadas pela justiça como é próprio de um homem simples e trabalhador. Não vou me manifestar pelos poucos minutos de vídeo veiculados, editados, com imagens deturpadas.
6- Quanto às opiniões de ataques à minha imagem pública, respeito, mas repudio. Acredito na justiça séria e ela será consolidada na medida da apuração dos fatos, com a abertura do inquérito será o momento na qual vou apresentar minha defesa. A verdade prevalecerá!
Ezequiel Fonseca