O aniversário de 20 anos de Maik Joilson Gusmão Nascimento, em 3 de maio do ano passado, foi o dia mais triste da vida da mãe dele, a comerciante Patrícia Gusmão da Silva, de 40.
Naquele dia, em vez de comemorações ou festas, o jovem era enterrado em um cemitério de Cuiabá. Ele foi assassinado após levar três tiros em uma festa, dois dias antes.
Maik era descrito como um jovem tranquilo e trabalhador pela mãe e vizinhos. Era uma figura conhecida no bairro. Desde a morte do filho caçula, Patrícia cobrou justiça e exigiu que o assassino do filho fosse preso. No entanto, o criminoso fugiu logo após o crime.
Para não deixar que o crime ficasse impune, ela decidiu realizar investigações por conta própria. E suas apurações foram essenciais para que a Polícia Civil conseguisse localizar o acusado Elton Victor Silvestre da Silva, conhecido como “Vitinho”.
Ela entrou em um perfil de Facebook antigo da irmã, localizou parentes do acusado, os adicionou, tornou-se próxima e acompanhou a rotina deles por meio de publicações na rede social, para encontrar pistas de “Vitinho”.
“Eu utilizei um perfil antigo, pois se eu abrisse um novo, eles não iam me aceitar. Então, logo que aprovaram minha solicitação de amizade, comecei a investigar e interagir com a família dele, inclusive com a namorada dele”, contou.
Durante as investigações que fazia por conta própria, ela identificou o paradeiro do acusado: ele havia fugido para o município de Araputanga (a 345 quilômetros de Cuiabá) e vivia escondido, para que não fosse descoberto.
“Eles não sabiam que eu estava olhando cada publicação. Sempre via as interações dos familiares dele, em busca de pistas. Certa vez, uma prima dele postou um exame de gravidez no Facebook e o marcou. Por meio dessa publicação, descobri que ele estava no interior do Estado”, relatou.
Depois de localizar a região onde estava o acusado, a comerciante comunicou a Polícia Civil, que convocou a equipe de Araputanga. Dias depois, Vitinho foi preso.
Conforme a delegada Juliana Chiquito Palhares, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), as apurações feitas por Patrícia foram fundamentais para que o acusado fosse preso pouco mais de dois meses após o crime.
“A mãe da vítima colaborou com as investigações oficiais. Ela correu atrás, por meio das redes sociais e de conhecidos. Acredito que mesmo sem a ajuda dela, conseguiríamos localizar o acusado, mas com certeza a procura dela ajudou para que localizássemos o suspeito com mais rapidez”, disse.
O crime
Maik Joilson foi morto na noite de 1º de maio, enquanto participava de uma festa em comemoração ao aniversário de 21 anos do irmão, no Bairro Residencial Aricá, em Cuiabá.
Na data - dois dias antes de seu aniversário -, ele comemorava também o fim de sua reabilitação, após sofrer um acidente de trabalho em 2015 e ficar cerca de um ano e um mês sem se movimentar direito, pois fraturou o fêmur.
“Era o primeiro evento que ele participava depois que se recuperou. Na sexta-feira, eu tinha feito um bolo para comemorar o aniversário do irmão dele e no sábado eles foram comemorar em uma chácara”, detalhou.
De acordo com a comerciante, o evento era restrito a parentes e amigos do irmão da vítima. Conforme o público do local foi aumentando, os organizadores passaram a cobrar R$ 10 para que as pessoas pudessem entrar. A festa teve início às 13h.
Horas mais tarde, “Vitinho” teria tentado entrar na festa, porém foi barrado, pois estava armado com uma pistola 380, de fabricação argentina. Segundo a mãe de Maik, o acusado não havia sido convidado e pulou o muro depois de ser impedido de participar do evento.
“Ele entrou armado. A gente nunca teve nenhum vínculo ou contato com ele. Quando ele chegou, teve confusão, porque era uma festa reservada a familiares e amigos e tinha muita menina de biquíni, porque tinha uma piscina na chácara”.
Conforme a comerciante, a briga teve início depois que um amigo do acusado mexeu com uma sobrinha dela, que estava de biquíni.
“Um rapaz deu em cima da minha sobrinha. O namorado dela não gostou, foi perguntar o motivo de ele estar fazendo aquilo e disse que foi uma atitude feia, pois era uma festa em que só estavam amigos e parentes”, narrou.
Diante da discussão, Patrícia relatou que o filho foi separar os dois rapazes. “Nisso, o amigo do assassino deu um soco no meu filho, que caiu no chão, porque ele ainda estava se recuperando da última cirurgia que tinha feito”.
A comerciante contou que depois que Maik caiu, um amigo dele saiu em sua defesa e iniciou uma nova discussão com o amigo do acusado. “Esse rapaz achou que a briga era com ele, mas era com o amigo dele, que tinha empurrado o meu filho. Então, ele disparou três tiros contra o meu filho, que estava caído no chão”.
Maik não resistiu aos ferimentos e morreu no local do crime. O amigo da vítima também foi atingido por um disparo, que acertou sua perna. O acusado fugiu logo após balear o jovem e um outro convidado da festa.
A mãe do jovem assassinado nunca aceitou o modo como ele morreu e desde então tem dedicado seus dias à busca por justiça. “Meu filho era um garoto bom, não tinha passagem pela polícia, não bebia, não fumava, era trabalhador e muito honesto. Eu quero que o assassino pague, em vida, pelo que fez”, afirmou.
As investigações da Polícia Civil
Logo após o crime, a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso e deu início à procura pelo então suspeito. “Logo que meu filho foi assassinado, ficamos um tempo sem correr atrás. A Polícia colaborou pouco, havia muitas dificuldades”, comentou Patrícia.
“A Polícia Civil foi muito empenhada, correu muito atrás. Agradeço muito a eles. Mas na cidade onde a gente vive, há muitos casos. Então, como era eu que tinha perdido o meu filho, decidi correr atrás. Ajudei as investigações e a Polícia me ajudou muito”, completou.
A delegada Juliana, que conduziu o inquérito sobre o caso, explicou que a Polícia orientou a comerciante a não tomar nenhuma atitude diante das informações que ia descobrindo nas apurações que fez por conta própria.
“Pedimos para ela apenas trazer os fatos para a delegacia. Ela foi uma figura muito importante na investigação, pois repassava tudo o que descobria para a Polícia Civil. É importante destacar que também houve muito empenho e dedicação dos policiais”.
“Ela depositou muita confiança no trabalho da DHPP. A Patrícia sempre foi muito positiva no sentido de localizar o criminoso”, salientou.
A prisão de “Vitinho” foi realizada em 20 de junho de 2016. Ele foi interrogado no dia seguinte e confessou o crime. Posteriormente, foi encaminhado à Penitenciária Central do Estado, onde permanece preso. O acusado foi indiciado pelos crimes de homicídios qualificado e motivação fútil.
Depois da prisão, a comerciante deu início a uma nova luta. “Eu fiquei acompanhando cada detalhe do caso, para que não pudessem soltar o assassino do meu filho”.
Júri popular
Patrícia acredita que o sofrimento pela morte do filho nunca terá fim. Porém, ela espera que a busca por Justiça se encerre ainda neste mês, pois “Vitinho” será julgado pelo tribunal do Júri.
A mãe revelou que espera que o acusado pegue pena máxima. “Espero que ele pague, na cadeia, pelo resto da vida. O que a gente puder fazer para que ele continue na prisão, vamos fazer. Mas, infelizmente, sei que a Justiça é falha. Ainda assim, quero que ele, se possível, apodreça dentro da penitenciária”, asseverou.
Apesar de querer a prisão de “Vitinho”, ela confessou que teme o resultado que pode ser obtido no júri popular. “O meu maior medo é ele sair, como se não tivesse feito nada, e ainda praticar novos crimes contra outras pessoas. Ele matou o meu filho por diversão, para mostrar que era ‘o cara’, isso não pode ficar impune”.
Ela convive diariamente com a saudade do filho e tenta seguir a vida adiante. Para a comerciante, a condenação do acusado será uma das melhores formas para acalentar o sofrimento que tem vivido desde maio do ano passado.
“Sei que não vou ter meu filho de volta. Sei que vou chegar em casa e ele não vai estar mais lá. Mas se esse assassino pagar na Justiça pelo que fez, isso vai me aliviar muito”.