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O que diz o Google?
Por por Rosana Leite Antunes de Barros
16/02/2021 - 10:08

Os dicionários estão a nos dizer a forma que as mulheres são tratadas no país — Foto: arquivo

E quem vive sem ele, que atire a primeira pedra. Falo do bom e fiel Google. Sem dúvida são para ele direcionadas perguntas de todos os cantos do mundo, e a todo momento. Às vezes, gostamos das respostas que nos sãos trazidas, e outras nem um pouco.

Com o intuito de saber se estamos crescendo ou caminhando positivamente no enfrentamento à violência de gênero, direcionei a ele qual seria o sinônimo de mulher. A resposta foi a seguinte: fêmea, senhora, dona. adulta, mulher-feita, maior, maior de idade, madura,moça, mocinha,esposa, cônjuge, consorte, patroa, dama, madame, parceira, caso, amante, companheira. Já a resposta para o sinônimo de homem foi um pouco diferente: pessoa, indivíduo, sujeito, ser, criatura, gente, adulto, varão, humano, homem-feito, humanidade, ser humano, arranjo, soldado,  mortal, macho, másculo, viril, marido, esposo, cônjuge, companheiro, amante, amásio, amancebado, concubino, praça,   operário, empregado, subalterno, subordinado,  militar, oficial, tropa.

Os dicionários estão a nos dizer a forma que as mulheres são tratadas no país. Enquanto para os homens os adjetivos são, em sua maioria, para os elogiar, para elas a recíproca não é, e nunca foi verdadeira.

 

E toda essa construção histórica faz parte da sociedade em que vivemos e formos criadas, criados, educadas e educados. Quantas civilizações antigas assassinavam as suas meninas ao nascerem? Quantas civilizações ainda mutilam mulheres? Há quanto tempo as mulheres eram vistas apenas como instrumento de reprodução? Não é à toa que elas não serviam, sequer, para serem amadas por alguém.

 

As famílias, e os tempos não tão remotos assim, vibravam com a chegada do menino, do varão. Na minha última gestação gerei um menino. Lembro-me que recebemos em casa um casal, um primo e uma prima, cuja mulher se encontrava gestante também. Estávamos contemporâneas na gravidez. Perguntaram-nos de que sexo seria o nosso bebê, e respondemos que seria um menino. O homem então, com muita tranquilidade nos afirmou: “Puxa, que sorte a de vocês, pois nós teremos outra menina! ”

 

A intelectualidade feminina foi questionável por muito tempo, e até na atualidade, por terem sido restringidas ao ambiente doméstico, e pelo corpo significar para eles o objeto destinado a satisfação sexual. O homem deveria provar a virilidade e a inteligência. E a mulher, a doçura e a perfeição. Quer falar de algo importante: busque por um homem. Quer tratar de casa, assunto doméstico:  procure por uma mulher.

 

A pecha as acompanha, tal como a falta de sinceridade intelectual e desonestidade com a história delas. Destruir muralhas e icebergs solidificados ao longo de uma trajetória de contos pessimamente narrados, maledicências, discriminações e preconceitos leva muito tempo. É muito mais fácil se conformar com o que está posto, sem sair do comodismo. Se indispor por algo que, inclusive, necessita de raciocínio com justiça é muita função para acomodados e acomodadas.

 

O dia em que buscarmos por sinônimos de mulher e de homem nos dicionários físicos e virtuais e encontrarmos a verdadeira paridade de vocábulos, quem sabe o enfrentamento pela violência contra as mulheres tenha ficado apenas para o conto...

 

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.

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