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Ativistas falam de mudanças e lutas, 11 anos após sanção de Lei de combate a Homofobia em Cáceres
Por Folha 5
17/05/2022 - 13:42

Foto: reprodução

entrevistou ativistas do Movimento LGBTQIA+ de Cáceres para falar o que cada integrante viu de avanços após 11 anos da sanção da Lei que criava o Dia Municipal de Luta Contra Homofobia na cidade. 

Raul Camilo que é gay conta que 11 anos após ainda acredita que o fundamentalismo e racismo ainda prevalecem na cidade e que a lei é um ato político importante.

"Para responder esta pergunta, é muito importante entendermos o quão prejudicial é o fundamentalismo. E que a homofobia, assim como o racismo e outras formas desestruturantes de preconceito e estigmatização social gera prejuizos em vários aspectos, principalmente para o ser biopsicossocial. Compreendo esta problemática, posso afirmar que ainda existe homofobia em todos os cantos do país. E que em Cáceres, a lei resgata com muita importância um ato político de respeito e inclusão. Mas ela não se basta por si só, pois o simples fato dela existir, não foi suficiente para que no ano passado a mesma casa de lei que outrora incluía, manifestasse contrário a inclusão do Dia Municipal de Orgulho LGBTQIA+, por exemplo. Com argumentos cruéis de defesa da família e da fé, como se pessoas lgbtqia+ não tivessem famílias ou não acreditassem em Deus", conta Raul.

Ano passado tentamos aprovar um dia para o orgulho LGBT dentro da câmara. Mas fomos mal recebidos, a comunidade religiosa, principalmente evangélica foi em peso para fazer pressão contra, e por fim, não foi aprovado.

"Como gay, posso testemunhar a dor e o sofrimento da exclusão que sofri no meu desenvolvimento,pelo simples fato de não me manifestar na cultura heteronormativa. Lembro das vezes que tentava engrossar a voz, das vezes que acordei de madrugada para brincar de boneca, entre outras... e afirmo que "não ser aceito, pelo que somos" é cruel e desumano. Sofri e demorei muito para parar de sofrer e acreditar que eu poderia ser amado, sendo quem sou. Isto, pq diferentemente de muites, não sofri outras violências, como a física e a sexual... então, sem sombra de dúvidas ainda há homofobia em Cáceres, e isto só mudará com políticas públicas inclusivas", pondera o ativista.

A travesti Josy Thayllor Souza que milita na causa desde os 14 anos e é a primeira travesti que adotou um menino na cidade contou que se sente mais livre e segura na cidade.

"Ontem(15) tivemos um ato na Praça da Sicmatur, e eu pude notar que a gente pode sentir mais livre nos locais. Antes éramos discriminados até por crianças, quando ouvíamos vindo delas palavras pejorativas. Hoje, vemos que as crianças não têm mais esse comportamento. Mudou muito. Estávamos num local e fomos bem acolhidos, tiramos fotos e isso é fruto da nossa luta. Antes não podíamos andar sozinhas que éramos agredidos. Hoje sentimos mais seguros. O racismo e a homofobia ainda existe mas agora é praticada por poucas pessoas e precisamos continuar ocupando os espaços", conta.

Já o homem trans, Felipe Behrends Rodrigues  que mora em Cáceres há cerca de cinco anos conta que continua vendo crimes graves contra a Comunidade. Felipe mencionou o desaparecimento da travesti Samantha e a falta de informações sobre o desaparecimento da cabeleireira. Felipe também citou que a Câmara de Vereadores da cidade tem cedido as pressões de conservadores.

LEIA: "Atrás de todo homofóbico tem um encontro sigiloso", diz líder da prefeita em Cáceres 

"Eu moro em Cáceres desde 2017, antes disso não tenho como avaliar....Porém dentro desse período que moro no município, eu continuo vendo crimes graves e impunidade frente a esses crimes. Desaparecimento de Samantha e o pouco caso com o crime, a morte do jovem que era trans. Esse descaso com a população LGBTIA+ continua sendo forte dentro do município. Ano passado tentamos aprovar um dia para o orgulho LGBT dentro da câmara. Mas fomos mal recebidos, a comunidade religiosa, principalmente evangélica foi em peso para fazer pressão contra, e por fim, não foi aprovado", explica o homem trans.

A lésbica Jocineide Maciel também reforçou que ainda existe um ambiente de violência e de medo e que é necessário que a Comunidade LGBTQIA+ ocupe espaços.

"Nascer nesse pedacinho do Pantanal e poder ter a liberdade de ser o que somos, de termos as nossas escolhas respeitadas, sempre foi um grande sonho. Reconhecemos que ao longo dessa trajetória muitas mãos construíram esse solo que hoje pisamos. Ainda vivemos um ambiente de violência e medo, com crimes a comunidade LGBTQI+ sem soluções. Porém, podermos ocupar um espaço público para fazer um ato em defesa das nossas vidas, poder caminhar com nossas parceiras em diferentes contextos da nossa cidade é o resultado de muita luta. Ainda precisamos avançar e continuaremos na luta por dias melhores", finaliza a ativista.

O jornalista Antoniel Pontes em artigo especial para o 

fez um breve relato histórico dos desafios do Movimento LGBTQIA+ depois que a Lei foi sancionada na cidade. Para ler, clique aqui.

Em 17 de maio de 2011 em Cáceres, o ex-prefeito Túlio Fontes sancionava no Cine Xin, o projeto de lei nº 2.283 de 17 proposto pela vereadora Lúcia Gonçalves(PT). 

 

 

 

 

 

 

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