Fernanda Gattass Oliveira Fidelis é a primeira juíza federal formada pela Unemat
A egressa do curso de Direito da Unemat em Cáceres, Fernanda Gattass Oliveira Fidelis, foi aprovada no 20º Concurso para Juiz e Juíza Federal do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que engloba os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Dentre mais de 12 mil candidatos inscritos inicialmente no certame, somente 113 foram aprovados.
Os resultados foram divulgados em Sessão Pública, realizada na última quarta-feira (24/04), no Auditório do TRF3. Com o novo cargo, Fernanda Gattass Oliveira Fidelis se torna a primeira juíza federal formada pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).
Ela não esconde a emoção ao ouvir seu nome entre as aprovadas na Prova Escrita
Natural de Cáceres (220 km da capital Cuiabá), aos 35 anos de idade, mulher, mãe, jovem do interior do País, Fernanda ilustra um novo perfil do poder judiciário: com maior diversidade e representatividade nos cargos da magistratura, de forma a responder aos anseios da própria sociedade brasileira.
Da esquerda para a direita, Dr. Paulo Sodré, Ana Carolina Kunkel, Fernanda Gattass, Mayara Tortola (na TV), Dr. Francisco Moura e Dr. Fábio Fiorenza. Os juízes federais sabatinaram as candidatas, em um simulado, na Justiça Federal em Cuiabá. As três candidatas foram aprovadas.
De acordo com dados divulgados pelo TRF3, as mulheres ainda constituem a minoria numérica dentre os candidatos, representando cerca de 30% dos aprovados. Os dados também apontam que mais de 70% do total têm idade entre 31 e 40 anos, quase 80% possuem experiência como servidores públicos e cerca de 30% são analistas ou técnicos dos Tribunais Regionais Federais das diversas regiões.
Em entrevista para a Diretoria de Comunicação Institucional da Unemat, a nova Juíza Federal, Fernanda Gattass Oliveira Fidelis fala sobre os desafios da carreira e como a formação em uma universidade pública e de qualidade contribui para o sucesso profissional.
A senhora é de Cáceres e se formou numa Universidade pública do interior. Quais os desafios para esta conquista?
Desafios sempre existirão. Em maior ou menor proporção. Depois de 10 anos de estudo, posso assegurar que o mundo não espera para que possamos estudar. Somos nós quem criamos as oportunidades. Eu estudava na fila do banco, ouvia podcast enquanto estava no trânsito, estudava na sala de espera de consultórios médicos.
A luta é diária, consigo mesma, para vencer a procrastinação e fazer o que precisa ser feito. Não importa de onde você veio, onde estudou, mas sim onde quer chegar. Eu nunca me achei menos capaz por ter nascido em uma cidade do interior e cursado uma faculdade pública. Sabia que eu poderia estar onde quisesse, e fui atrás do meu objetivo.
Ao lado do seu pai e sua mãe no dia da Colação de Grau na Unemat
As mulheres ainda são a minoria entre os aprovados, representando cerca de 30%. Qual a importância dessa representatividade para a sociedade?
Infelizmente, nós, mulheres, parcela majoritária da população, ainda não ocupamos os espaços de poder na mesma proporção que os homens. Segundo informações obtidas do site do CNJ, embora sejamos 51% da população brasileira, compomos apenas 38% dos cargos de magistrado neste País, sendo 40% presentes no primeiro grau de jurisdição e apenas 21% no segundo grau.
E não porque sejamos menos capazes, não somos. Somos muito capazes, aliás. Acredito que essa baixa representatividade se dê porque para nós tudo é mais difícil. Na maioria das vezes, acumulamos funções, exercemos dupla jornada, sem prejuízo do cuidado com os nossos filhos, com a nossa casa.
Por isso, afigura-me importante um incremento no percentual de mulheres aprovadas, para que possamos, quando do desempenho das nossas funções, ter um olhar diferenciado, sob a nossa perspectiva de mundo, com base na nossa vivência e experiência, que não é igual a dos homens, e que precisa também ser ouvida e levada em consideração.
A senhora considera que a formação na Unemat contribuiu para essa conquista?
Com certeza. Minha formação educacional foi toda feita em Cáceres. Fui aluna a vida inteira do Colégio Imaculada Conceição, na condição de bolsista, já que minha mãe era funcionária da escola. Posteriormente, quando eu decidi cursar direito, morando em Cáceres, não via motivos para cursar outra faculdade que não a do meu Estado, cuja sede se situava na minha cidade natal.
Os colegas de turma compartilharam momentos marcantes pelas mídias sociais
Tive excelentes professores. Certamente não lembrarei o nome de todos, afinal faz 10 anos que me formei, mas guardo com carinho os ensinamentos do professor Fábio de Sá, exímio professor de direito penal e processo penal, com quem aprendi muito. Professor Carlos Alberto Maldonado, tão importante para a Unemat e para o Estado de Mato Grosso, com quem tive o privilégio de assistir aulas aos sábados, sobre humanística. Professores Julio Cesar Bacovis e Luís Jorge Brasilino Silva, que ministraram as disciplinas de Civil e Processo Civil, juntamente com as professoras Rose Kelly e Evely Bocardi. Também me recordo dos “Armandos”, pai e filho, Armando do Lago Albuquerque, com quem tive aulas de Teoria e Filosofia do Direito e Direito Constitucional.
Enfim, a Unemat não deixou a desejar e não está “aquém” de nenhuma outra renomada instituição do País. Temos alunos brilhantes e professores vocacionados. É preciso valorizar nossa casa, nossos professores, nossa instituição.
A senhora se formou na Unemat em 2013. De lá para cá, quais foram os seus caminhos profissionais?
Formei-me na Unemat em 2013. Antes mesmo de colar grau, quando ainda estava no 6º semestre da graduação, passei no concurso público para o cargo de técnico judiciário do Tribunal Regional Federal da 1º Região, tendo tomado posse quando estava no 9º semestre. Então, antes de concluir a graduação, como já era concursada, continuei exercendo meu cargo na Subseção Judiciária de Cáceres. Desse modo, embora aprovada no exame de ordem da OAB, nunca advoguei.
Na Justiça Federal passei por inúmeros setores. Comecei na Secretaria do Juizado Especial Federal, depois fui assessora de gabinete de magistrado, supervisora do setor de expedição e, por fim, diretora de Secretaria.
Logo em seguida, já casada, e morando à distância do meu marido, eu em Cáceres e ele em Cuiabá, cadastrei-me no Processo Seletivo Permanente de Remoção (PSPR) e consegui ser removida para a Seção Judiciária de Mato Grosso, no ano de 2016, onde permaneço até hoje, como assessora de gabinete do Juiz Federal Titular, Dr. Paulo Cezar Alves Sodré.
Qual mensagem deixaria para os acadêmicos da Unemat e para quem sonha em ingressar nessa área?
Não desistam dos seus sonhos. Já dizia o ditado popular: não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez. E é bem por aí. Não há nada capaz de deter uma pessoa determinada. Estudem, se dediquem, e ocupem os espaços de poder que desejem ocupar. O céu é o limite.