No alvorecer de Cáceres, município do pantanal mato-grossense, os primeiros raios de sol trazem um convite irresistível aos sentidos, o aroma inconfundível dos bolos de arroz da Dona Regina. É um cheiro que envolve a cidade, saindo de fornos aquecidos a lenha, anunciando a primeira fornada do dia lá na rua Rangel Torres, 263, bairro São Luiz.
Conhecer a culinária cacerense é se deliciar com a tradicional iguaria, o bolo de arroz de Dona Regina, uma receita que remonta a 1947 e que foi passada de geração em geração. Regina Maria da Cruz, nascida em 1º de junho de 1957, herdou a receita de sua avó, Dona Catarina, com quem foi criada. Desde os 12 anos, Regina se dedica à produção desse quitute artesanal que se tornou um símbolo de Cáceres.
A história do bolo de arroz de Dona Regina é mais do que uma simples receita, é um legado de sabor e tradição que atravessa e conquista gerações.
Ela conta que sua avó, Dona Catarina, a ensinou não apenas a preparar o bolo, mas também a importância do cuidado e da paixão em cada etapa do processo.
"Minha avó sempre dizia que o segredo não está apenas nos ingredientes, mas na maneira como você os combina com amor", recorda Dona Regina. Essa filosofia é evidente em cada bolo que sai de seus fornos. A simplicidade dos ingredientes contrasta com a alquimia dos sabores e a riqueza da história por trás de cada fornada.
Embora a essência da receita permaneça inalterada, Dona Regina adaptou alguns métodos ao longo dos anos.
Regina relembra os tempos em que socava o arroz no pilão para fazer o fubá que sua avó usava na receita. Hoje, o processo se modernizou um pouco. "Primeiro eu faço o fubá, não uso mais o pilão, utilizo um triturador, mas sem comprometer a qualidade e o sabor autêntico dos bolos. Depois tem que cozinhar a mandioca ralada e o segredo cozer no ponto certo. Aí começo a preparar a massa, e para que cada bolo mantenha a textura e o sabor, ela deve ser bem misturada. Acrescento margarina, queijo ralado, canela, erva doce e um condimento muito especial, amor”, ensina a boleira.
As madrugadas na casa de Dona Regina são movimentadas. Benjamin, seu esposo, desempenha um papel fundamental no processo. Ele acorda diariamente às duas da manhã para acender os fornos. "É um trabalho duro, mas ver as pessoas felizes e apreciando nossos bolos faz tudo valer a pena", diz ele.
Dona Regina e seu marido Benjamin também são conhecidos por suas práticas sustentáveis. Utilizam madeira de aproveitamento para os fornos a lenha, minimizando o impacto ambiental e contribuindo para a sustentabilidade da produção. "A natureza nos dá tanto, e devemos retribuir cuidando dela. Outra coisa, como ganhamos a lenha o produto sai mais em conta", afirma Benjamin.
O aroma dos bolos de arroz assando nos fornos a lenha é inconfundível e percorre as ruas de Cáceres, atraindo moradores e turistas que não resistem a esse prazer matinal. "O cheiro do bolo misturado com a lenha queimada é algo que as pessoas esperam e reconhecem de longe", comenta Regina.
Com uma produção que alcança 500 bolos diários, Dona Regina encontrou maneiras de levar essa delícia para além de sua casa. Vendedores ambulantes, em bicicletas, percorrem as ruas de Cáceres, levando os bolos a diferentes cantos da cidade. Essa distribuição permite que mais pessoas experimentem o sabor único do bolo de arroz, mantendo viva a tradição e aumentando seu alcance.
A venda dos bolos de arroz também tem um impacto positivo na economia local. Os vendedores ambulantes, que circulam pela cidade, encontram nesse comércio uma fonte de renda importante.
Os bolos são vendidos rapidamente, e muitos cacerenses já sabem onde encontrá-los a qualquer hora do dia. " Todos os dias saio de bicicleta e vendo rapidamente minha carga, 100 bolos de arroz, e isso ajuda eu pagar meu aluguel, minha comida. É meu sustento", reconhece o vendedor ambulante Alexsandro Santana de Oliveira.
Para o jornalista João Arruda, um propagador da cultura pantaneira, o bolo de arroz da Dona Regina é uma experiência inesquecível e deve ser provado. "Cada vez que como um desses bolos, lembro-me da minha infância e sinto no paladar o carinho com que são feitos", diz João.
“Para quem visita Cáceres, provar o bolo de arroz de Dona Regina deve ser uma experiência obrigatória. É mais do que um bolo, é uma experiência cultural", afirma o secretário de Turismo e Cultura, Cláudio Henrique Donatoni.
Dona Regina continua a ser um exemplo de dedicação e paixão pela culinária tradicional. Sua história e seu bolo de arroz não apenas alimentam, mas também inspiram, lembrando da importância de preservar as tradições cacerenses e de compartilhar o amor através da comida.
O bolo de arroz de Dona Regina é mais do que um quitute, é um pedaço da história e da alma da cidade. Visitar Cáceres e não provar essa iguaria que conquistou gerações é perder a chance de conhecer um pouco mais sobre a rica cultura e a calorosa hospitalidade desse lugar encantador.