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Em quem votar ou não votar – Eliene Liberato
Por Blog do Eduardo Gomes
01/07/2024 - 09:05

Foto: reprodução

A Série Em quem votar ou não votar, que aborda aleatoriamente os nomes que estão em pré-campanha para as prefeituras nos principais municípios de Mato Grosso, focalizou oito pré-candidatos. Nesta postagem a focalizada é Eliene Liberato (PSB) de Cáceres, que tentará à reeleição.

A série começou com Beto Farias (PL), de Barra do Garças; e prosseguiu com Lúdio Cabral (PT) e Victorio Galli (DC), ambos de Cuiabá; Mariano Kolankiewicz (MDB), de Água Boa; Teti Augustin (PT) e Adilton Sachetti (Republicanos), ambos de Rondonópolis; Miltão PSOL), de Várzea Grande; e Vander Masson (União), de Tangará da Serra.

 

ELA – Antônia Eliene Liberato Dias, nasceu em 26 de outubro de 1968 na cidade de Campo Grande (RN). É geógrafa especializada em ensino de Geografia e gestora pública. Professora da rede estadual desde sua formatura em 1991, Eliene Liberato começou a carreira no magistério naquele ano, mas em 11994  entrou pelo caminho da geografia política, na Secretaria de Ação Social na administração do prefeito e médico Antônio Fontes e no período de 2009 a 2011 foi titular daquela secretaria, quando o prefeito era Túlio Fontes, filho de Antônio Fontes.

POLÍTICA – Mesmo com tanto tempo militando na vida pública, Eliene insiste em dizer que relutou muito para não ser política, adotando o discurso que é chavão para muitos políticos, como uma espécie de capa protetora contra a classe que mais se envolve em escândalos em Mato Grosso.

Com Francis Maris no começo da trajetória

Em 2012 o empresário Francis Maris (PMDB) queria uma mulher para compor a chapa que encabeçaria para disputar a prefeitura. A escolha recaiu sobre Eliene, então tucana, e figurinha carimbada nos meios políticos. Francis criou a coligação Cáceres no Rumo ao Desenvolvimento com  o seu PMDB, o PSDB de Eliene e PP/PTB/PSC/DEM/PSDC/PHS e o PTC; Francis disputou a eleição com outros dois candidatos e recebeu 21.630 votos (49,18%); seu principal oponente Leonardo Ribeiro Albuquerque (PSD) cravou 21.318 votos (48,47%). Com o resultado Eliene virou vice-prefeita.

Em 2016 Eliene voltou a formar dobradinha com o prefeito Francis, que foi reeleito, mas pelo PSDB, na coligação Trabalho, Transparência e Resultado formada com o PR/PSC/PSD/PTB/PHS e o PROS. Francis recebeu 22.372 votos (62,9%) e seu único adversário, o ex-reitor da Universidade do Estado (Unemat), Adriano Aparecido Silva saiu das urnas com 13.189 votos (37,09%). O Solidariedade tentou disputar o pleito, mas sua chapa foi indeferida. Pela segunda vez Eliene teria pela frente um mandato de vice-prefeita.

O cacique Carlos Siqueira abona a ficha de Eliene

Em 25 de outubro de 2019, com Eliene literalmente vestindo as cores do PSB, aquele partido abriu as portas para ela num ato em Cáceres, prestigiado pelo cacique nacional Carlos Siqueira, e pelo cacique regional e deputado estadual Max Russi.  Sem as amarras de seu antigo partido, Eliene partia para realizar o sonho – que ela mesmo relutando em ser política – mantinha num canto do coração: ser prefeita.

Em 2020, Eliene criou a coligação De Mãos Dadas com Você com o o médico cacerense Odenilson José da Silva (Repubicanos), compondo sua chapa formada pelo seu partido, o de Odenilson e o PP/PDT/MDB/PSL/PODEMOS/CIDADANIA/AVANTE/PROS/PV/PSD/ e o SD. Eliene  recebeu 15.881 votos (38,16%).

Na disputa pela prefeitura Eliene venceu quatro oponentes: Engenheiro Nakamoto (PRTB), com 11.215 votos (26,95%); Paulo Donizete (PSDB), 5.457 votos (13,11%); James Cabral (PT), com 5.088 votos (12,22%) – James é irmão do deputado estadual e pré-candidato a prefeito de Cuiabá, Lúdio Cabral (PT); e Zé Eduardo Torres (PSC), com 3.979 votos (9,56%).

Paraguai, o rio que mexeu com o coração de Eliene

OXENTE – Em julho de 1987, Eliene era pouco mais que uma menininha, quando desembarcou em Cáceres para uma viagem sentimental para reencontrar parentes. Mas, assim que tocou o chão foi tomada por uma paixão arretada por aquela cidade da bexiga, tão antiga quanto sua Campo Grande, porém muito maior e com um diferencial capaz de fazer chorar de emoção até a estátua do Padim Padre Cícero: um rio; um rio, não, o grande rio Paraguai cercado pelo verde, piscoso, sobrevoado por bandos de pássaros em algazarra e de braços abertos recebendo o Sepotuba e o Cabaçal. A menina não teve dúvida: adotou a Terra de Albuquerque como sua, para sempre.

A Unemat estava logo ali e a vontade de estudar era sua parceira inseparável. Mas, nas noites cacerenses às vezes batia a saudade matadeira de Campo Grande, lá pras bandas de Mossoró, distante 270 km de Natal e com uma pequena população de 9.500 habitantes, mas que tem uma coisa em comum com Cáceres: é bicentenária e até mais antiga, pois foi fundada em 1756, portanto 22 anos antes que Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres em 6 de outubro de 1778 lançasse as sementes da agora metrópole regional à margem esquerda do rio Paraguai.

MÃOS À OBRA – A administração de Eliene não é a cereja do bolo. Seus antecessores também não fizeram muito. Cáceres é um município com 24 mil km², maior que Sergipe, mas com demandas pequenas na esfera municipal.

Excetuando-se o transporte escolar municipal, que diariamente percorre 10 mil quilômetros nos dois sentidos  e o desafiador sistema de tratamento e coleta de esgoto, as demais áreas são feijão com arroz, e os grandes gargalos não passam diretamente pela prefeitura.

No transporte a prefeitura é parceira do governo estadual e nenhuma das partes se sente confortável – isso é comum aos municípios – em detalhar o que se passa no setor.

O esgoto, ou melhor, a falta dele, é um tapa na cara do cacerense. Pelo Ranking da Universalização do Saneamento da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), em Cáceres a água chega em 79,50% dos imóveis construídos, a coleta de esgoto é de 5,66% e seu tratamento não vai além de 9,48%. Esta vergonha arrasta-se há mais de quatro décadas. O município não tem disponibilidade orçamentária para a obra necessária, mas bem poderia captar recursos junto aos governos federal e estadual, e por meio das famigeradas emendas parlamentares, porém, Eliene se acomodou, e tudo que diz é que precisa (a prefeitura precisa) de 500 milhões de reais para zerar a poluição que é uma facada nas costas do rio Paraguai.

Cáceres é referência em saúde pública pelo sistema SUS numa vasta região, e recebe pacientes bolivianos de San Matias e adjacências. O Hospital Regional Universitário (da Unemat) Dr. Antonio Fontes e o agora seu anexo Hospital São Luiz prestam a assistência em saúde, mas por se tratar de modelo tripartite a prefeitura responde por uma parcela dos custos operacionais.

O município tem bom desempenho no ensino superior – é sede da Unemat. A prisão permanece abarrotada por mulheres mulas do tráfico de cocaína, mas esse tema não passa pela prefeitura. Pela extensão do município a malha rodoviária é pequena. Recentemente foi inaugurada a Zona de Processamento de Exportação (ZPE), ainda capenga, mas que será muito importante em brave – Eliene não teve participação nesta conquista. A Rota Quadrante Rondon, lançada naquela cidade pela ministra Simone Tebet e outras autoridades do governo federal, criará uma malha internacional no contexto do Corredor Bioceânico Atlântico-Pacífico via Cáceres e Porto Esperidião, e via Vila Bela da Santíssima Trindade aos portos chilenos e peruanos – também sem nenhum mérito de Eliene.

A administração de Eliene não tem enfoque objetivo, como na área empresarial. Há inchaço de servidores e os recursos canalizados para os cargos comissionados dispensáveis poderiam ser utilizados em áreas importantes.

Eliene não tem culpa, mas a Câmara de Cáceres tem um custo elevado para o contribuinte. Via de regra os legislativos municipais são improducentes, bajulam o prefeito ou prefeita, e seu duodécimo fica pela hora da morte.

Município que figura entre os maiores da economia pecuária nacional, com um manancial turístico fabuloso, rota da ligação Acre-Rondônia com o Centro-Sul, com o rio Paraguai navegável até Nueva Palmira, no Uruguai, numa extensão de 3.342 km, com boa qualidade de vida, Cáceres, com 90 mil habitantes, no entanto fica a reboque no comparativo com os outros grandes municípios de Mato Grosso, tendo sido ultrapassado nos últimos anos por Sinop, Sorriso e Tangará da Serra.

HORIZONTE – Eliene é liderada politicamente por Max Russi, que não tem identidade com os municípios da fronteira com a Bolívia, como é o caso de Cáceres. A liderança de Max não se traduz em bons resultados práticos. Além disso, o único deputado estadual da região é Valmir Moretto (Republicanos), domiciliado em Pontes e Lacerda e que começou sua carreira política sendo prefeito de Nova Lacerda. Moretto está para Cáceres tanto quanto o samba para o chinês.

Eliene concorrerá à reeleição, mas o nome de seu companheiro de chapa está em aberto. Tanto alguém cogitado para tal poderá figurar na dobradinha com ela, quanto enfrentá-la nas urnas. Não há definição ideológica nem partidária por parte dela. Tropeços na administração ela não teve, mas terá que se explicar sobre a denúncia formulada ao Ministério Público Estadual por um grupo de vereadores, de que em 2023 a prefeitura teria desembolsado a bagatela de 15 milhões de reais para a realização do FIPe, que segundo o Guinness Book é o maior festival mundial de pesca embarcada do mundo. Denunciantes e denunciada permanecem calados.

Nordestina porreta, há 36 anos cacerense de coração, Eliene é uma peça na construção cacerense como boa parte da população, que é oriunda dos quatro cantos do mundo, e que (no ontem e no hoje) se funde e se confunde com a cidade do saudoso padre Geraldo.

Saber chamar alguém de meu peixe ela sabe tanto quanto o cacerense de berço, mas sem perder seu sotaque nordestino, o que lhe confere um charme especial.

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