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CÁCERES - Em audiência sobre feminicídio, jornalista expõe assédio em emissora de TV
Por Rojane Marta/VGN
20/09/2025 - 09:23

Márcia Pache relatou episódios de violência psicológica e perseguição no trabalho — Foto: Reprodução TV ALMT

Durante audiência pública realizada em Cáceres, nesta quinta (18.09), para debater a alta dos casos de feminicídio em Mato Grosso, a jornalista Márcia Pache denunciou episódios de violência e assédio que sofreu em uma emissora de TV onde trabalhou. Durante sua fala, ela apresentou um laudo psiquiátrico recente que comprova os impactos da última agressão sofrida, ocorrida em 19 de março deste ano.

Segundo Márcia, a violência no ambiente corporativo não deixa marcas fatais imediatas, mas compromete a dignidade e destrói a autoestima das mulheres. “A gente não tem notícia de morte, mas ela mata sonhos, ela destrói a autoestima da gente enquanto profissionais”, afirmou.

A jornalista contou que já enfrentava episódios de assédio desde 2010, quando sofreu perseguições e importunações de colegas de trabalho, sem receber apoio da empresa. Ela recordou que, em uma ocasião, ao procurar a direção, ouviu que deveria ter paciência por ser mais velha que o agressor. “Dois anos depois, quase fui agredida fisicamente dentro do estúdio, e nada aconteceu. O agressor virou vereador e segue em cargos públicos”, relatou.

Márcia revelou ainda que, neste ano, dentro do carro de reportagem, quase foi agredida novamente e chegou a gravar os xingamentos. Mesmo assim, foi demitida por WhatsApp. “Parece que com as agressões eu deixei de ser competente, mas não. As empresas precisam assumir responsabilidade com a saúde mental das suas colaboradoras”, disse.

Durante o depoimento, a jornalista destacou que muitas mulheres continuam trabalhando em ambientes hostis porque dependem financeiramente do emprego. “Quantas mulheres saem do trabalho engolindo uma lágrima e voltam no outro dia porque precisam sustentar uma família?”, questionou.

Ela também defendeu a criação de uma legislação específica para tratar da violência corporativa. “Assim como a violência doméstica, a violência no trabalho também reflete dentro de casa, porque muitas vezes a criança cresce vendo o pai desqualificar o trabalho da mãe”, afirmou.

Ao encerrar sua participação, Márcia reforçou que não pretende se calar diante do que viveu. “Enquanto abaixarmos a cabeça, a violência vai continuar. O nosso lugar é onde nós quisermos”, concluiu.

 

 

 

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