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Tudo, menos estudo
Por Diário de Cuiabá
17/05/2012 - 06:17

Foto: TCHELO FIGUEIREDO/DC
“A escola perdeu a função dela em relação à formação cientifica. Hoje em dia ela parece mais um depósito de alunos onde devemos dar a educação que eles não receberam em casa”, é assim que a coordenadora Márcia Jamil, da Escola Estadual Mariana Luíza Moreira, define as instituições públicas de ensino. No cargo há quase um ano, ela diz que a vida escolar está cada vez mais difícil devido ao comportamento displicente dos alunos, que muitas vezes se envolvem em brigas no perímetro da escola localizada no bairro Tijucal, em Cuiabá. Ao todo, 950 estudantes do ensino fundamental compõem o quadro estudantil nos períodos matutino e vespertino. De acordo com a coordenadora, as meninas têm se envolvido muito mais em confusões que acabam em agressão. Exemplo disso aconteceu no último dia 9, quando duas garotas iniciaram uma briga tão ferrenha que quase não terminou nem com a ajuda de policiais que passavam nas redondezas e foram chamados para conter o desentendimento. Alguns estudantes chegam a filmar as agressões e postam na internet. “Parece que as meninas se sentem atrizes famosas no vídeo. Elas mesmas vêm me mostrar as gravações, sem receio algum”. Para tentar sanar o problema, a equipe responsável pelo colégio solicitou a presença do juiz responsável pela Vara de Execução Penal da Comarca de Várzea Grande, Abel Balbino Guimarães. O magistrado ministrou uma palestra aos 30 professores participantes do projeto “Sala do Educador”; todos receberam orientações focadas em como lidar com alunos problemáticos. “A solução para o infrator não é a cadeia, porque esse é o fim da linha, mas a educação”, observou o juiz. Em 2001, a mesma apresentação foi feita, porém com a grande rotatividade de funcionários do local, houve necessidade de mais uma. Atualmente o corpo docente possui cerca de 40 membros. Entre os educadores estava Calixtrata Nogueira de Sales Lopes, que também está há quase um ano na instituição. “Eu acredito muito no que o juiz disse. Se nós estamos dentro da sala de aula, o comando é todo nosso. Cabe ao aluno nos respeitar. No entanto, na minha concepção, enquanto não houver participação ativa da família na vida escolar do aluno, nada será resolvido”. FALTAS - Além do problema de mau comportamento, as faltas são outro motivo de preocupação no colégio. Em uma turma de 20 alunos, por exemplo, seis estão com ausência excessiva e consecutiva. Os pais são comunicados no final de cada bimestre por meio de um documento que devem devolver assinado. Em muitos casos os pais são pegos de surpresa por não saberem das aulas ‘cabuladas’ pelos filhos. Os casos extremos chegam a computar mais de 37 faltas somente em um bimestre, que possui praticamente 60 dias. “Nós vemos que muitos pais se preocupam de verdade. Já outros nos dizem para entregá-los ao Conselho Tutelar porque não sabem mais o que fazer com os adolescentes”, conta Márcia. O próximo passo é agendar uma palestra agora direcionada aos responsáveis, com o intuito de conscientizá-los e mobilizá-los em prol de melhorias. As atividades são parte do projeto “A Justiça é a Esperança”, de iniciativa da Organização Não Governamental (ONG) Escola Mundo Azul, da qual o juiz Abel Guimarães faz parte. O magistrado atua na área há 20 anos mesmo antes de existir o programa Poder Judiciário na Escola. Estima-se que 15 instituições públicas de ensino façam parte da iniciativa somente no primeiro semestre deste ano, levando a estudantes da rede pública noções de cidadania, direitos, deveres e igualdade de oportunidades.
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