2014 não é para sempre
Por por Rodrigo Vargas
08/01/2014 - 04:37
Sempre fui avesso à ideia de uma Copa no Brasil com 12 sedes. Uma vez decidida a questão, porém, nunca tive a menor dúvida sobre qual capital deveria assumir a missão de levar ao mundo o emblema da Copa do Pantanal.
E a população cuiabana, resultado de uma épica história de resistência em meio ao isolamento, abraçou verdadeiramente a causa, como quem recebe uma merecida, embora tardia, recompensa.
Ao perceber esta mobilização genuína, os esquadrões de propaganda de Blairo Maggi e depois, com mais ênfase, Silval Barbosa, logo trataram de cooptá-la a seu favor.
O amor por Cuiabá, compartilhado por tantos que aqui vivem, passou a ser ardilosamente traduzido como obrigação de dizer "Sim" e "Deus lhe pague" a qualquer ideia surgida da cabeça dos comandantes.
Achou que Land Rovers equipados com radares russos era uma ideia de Jerico? Infiel! Afirmou que o cronograma do VLT era uma peça de ficção? Você é contra Cuiabá! Não entendeu até hoje o caso do lobista que foi parar em um alto cargo no governo? Traíra!
Reduzida a este nível, a oportunidade de discussão sobre o presente e o futuro da cidade se perdeu em meio aos gritos e à correria. Era inevitável, dizem alguns, ou não seria possível aproveitar a oportunidade única que se abriu.
Não se recordam que a maior parte dos investimentos está sendo feita com recursos estaduais, oriundos de impostos e de empréstimos que serão pagos, adivinhem só, com mais impostos.
Se o dinheiro era majoritariamente nosso, portanto, caberia a nós determinar o ritmo do que seria feito, sob o amparo de um planejamento cuidadoso e tendo a excelência como objetivo.
Como a população tem percebido, porém, nestes primeiros dias de sonho tornado (em parte) realidade, o resultado final está num padrão muito abaixo do prometido e do imaginado.
Por todos os cantos, os usuários das novas "obras de arte" têm se manifestado, denunciando, apontando falhas e cobrando correções. Fazem isso não porque sejam contra a cidade, a FIFA ou o Ronaldo Fenômeno. Mas porque não se contentam com discurso e foguetório.
Cuiabá não corre mais risco de ficar fora da Copa, como ditava a doutrina do medo patrocinada pelo governo. Chegou, finalmente, a hora de colocar a discussão em seu devido lugar.
Gostar de Cuiabá não obriga ninguém a achar competente o atual governador. Querer mais qualidade de vida não significa aceitar goela abaixo obras com acabamento precário e durabilidade duvidosa.
A Copa de 2014 não é “para sempre”, como insiste o slogan oficial. Cuiabá é para sempre. A cidade e seus moradores merecem mais consideração.
RODRIGO VARGAS é repórter do DIÁRIO (rodrigovargas.cba@gmail.com)