O Papa Francisco e a pobreza
Por por Célio Pezza
08/01/2014 - 04:40
Certa vez, quando o papa Francisco ainda era o Cardeal Bergoglio, um jornalista lhe perguntou qual a sua opinião sobre a pobreza no mundo. O Cardeal respondeu que a pobreza tornou-se algo natural e isso é muito ruim. As pessoas se acostumaram a ela, e muitos políticos e homens poderosos têm se dedicado a endividar as pessoas, criando mais dependência. Para que? Para aumentar o poder sobre essas pessoas. São verdadeiros especialistas em criar pobreza e ninguém os questiona. Disse, na época, que sua luta era contra o agravamento desta situação e que todas as ideologias que produzem a pobreza devem ser denunciadas.
O Cardeal também disse que a educação é a grande solução para o problema e que a religião deveria ensinar as pessoas a salvarem suas almas, mas também a evitar a pobreza. Perguntado sobre a América Latina, foi categórico: “O império da dependência foi criado na Venezuela, por Hugo Chaves, mediante falsas promessas, e deram peixes ao povo, sem lhes permitir pescar”. Foi além: “Se pensarmos que o capital é necessário para construir fábricas, escolas, hospitais e até igrejas, talvez eu seja capitalista”.
O problema grave é quando o governo se apropria do capital para construir obras públicas e para alimentar a burocracia. O correto seria que as pessoas que contribuíram para esse capital fizessem suas escolhas e decidissem o seu destino. O capital investido voluntariamente é legítimo, mas aquele que é investido com base na coerção ou ausência de escolha é ilegítimo. Um Estado assistencialista sem educação perpetua a pobreza, retira das famílias a vontade de crescimento, pois passam a ser meros espectadores e beneficiários. Também as pessoas já não praticam a caridade e veem os pobres como um problema do governo e propriedade dos políticos. O povo não recebe educação, não aprende a pescar, mergulha em dívidas, empobrece e, logo em seguida, vota em quem lhes afundou na pobreza.
Atualmente, já na condição de Papa, Francisco conhece muito bem o cinismo e a hipocrisia desses dirigentes, que acumulam fortunas que jamais serão utilizadas na real melhoria de vida dos menos afortunados. Nesta condição existem capitalistas, socialistas, comunistas e ditadores que cultuam o ouro e por ele matam e morrem. Desde os primórdios da humanidade, a religião destes fomentadores da pobreza é a ganância e a obsessão pelo poder. Na verdade, o problema não é o dinheiro, mas o homem, e o que ele faz com o dinheiro.
A maior tarefa do Papa Francisco será mudar o coração dos homens e não modificar um sistema capitalista ou outro qualquer. Ele deverá introduzir nos corações que sentem amor pelo dinheiro, um pouco de consideração pelos que nada têm. Eles devem entender que não levam suas fortunas quando morrem e sua bagagem será somente suas obras. Quando ele fala estas coisas, também fala para sua igreja e esperamos que em breve seu discurso se transforme em exemplos claros para o mundo.
Precisamos que alguém tome a iniciativa, e pode ser que ela venha do Papa Francisco. Se isto acontecer, será um acontecimento histórico sem precedentes e que poderá salvar este mundo de sua trajetória rumo ao desastre.
* CÉLIO PEZZA é escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete Portas, Ariane, A Palavra Perdida e o seu mais recente A Nova Terra - Recomeço. Saiba mais em www.facebook.com/celio.pezza