Rodovia cruza Porto Estrela, onde 77,4% da população dependem do Bolsa Família
MT-343 (esq.) em Porto Estrela
Seu nome é MT-343, mas podem chamá-la de rota mais curta para os grãos, fibras e o açúcar do Chapadão do Parecis e seu entorno chegarem ao porto de Cáceres. Se pavimentada, mudará a logística de transporte estadual, encurtará a distância de Tangará da Serra, o maior município do Chapadão, aos navios em 220 quilômetros. Além disso, essa rodovia é a tábua da esperança para Porto Estrela, a única cidade em seu trajeto e onde 77,4% da população sobrevivem com o recebimento mensal do programa Bolsa Família.
Risco perdido no mapa margeando pela esquerda o rio Paraguai, esta rodovia vira canudo de poeira na estiagem e se transforma em imenso atoleiro no período das chuvas. A luta pela pavimentação da MT-343 é antiga, mas regionalizada, por se tratar de uma rota quase sem movimentação e pouco conhecida, mesmo tendo sido durante décadas a principal ligação de Cáceres com Cuiabá.
Para se transformar em corredor multimodal de transporte integrado ao porto de Cáceres, no rio Paraguai, a rodovia precisa de pavimentação no trecho de 139 quilômetros, de seu trevo com a MT-246 próximo a Barra do Bugres até o cais.
A pavimentação da MT-343 começou em seus extremos, porém foram executados somente trechos pequenos. No sentido Cáceres, uma parceria público-privada (PPC Caipira) do governo de Mato Grosso com a Usina Barrálcool e produtores rurais asfaltou 8 quilômetros entre Barra do Bugres e Porto Estrela. Em direção oposta, 12 quilômetros receberam asfalto.
Entre Porto Estrela e a MT-246 o governo estadual retomará a obra nos 25 quilômetros sem pavimentação, com recursos do programa Mato Grosso Integrado, Sustentável e Competitivo (MT Integrado). Essa obra faz parte de um pacote lançado no ano passado, para retirar 44 cidades ainda sem acesso pavimentado e integrá-las à malha rodoviária nacional. O prefeito do município, Mauro Businaro (PMDB), revela que a obra entre sua cidade e a MT-246 começará após o período das chuvas. O governo planeja executá-la ao longo deste ano.
Infografia (dir.): ÉDSON XAVIER
Pecuaristas no trajeto da MT-343 e pescadores no rio Paraguai respondem pela movimentação entre Cáceres e Porto Estrela. Moradores nesta segunda cidade garantem o vaivém na ligação com Barra do Bugres, sendo que neste trecho há intenso tráfego de caminhões transportadores de cana durante a safra.
Os veículos que se aventuram pela MT-343 costumam se encontrar com boiadas tocadas por comitivas. Mas, mesmo com pequena movimentação, a rodovia tem função social regional, porque assegura acesso às comunidades em seu eixo, cuja população é atendida por linha regular de ônibus com duas partidas diárias nos dois sentidos entre Cáceres e Barra do Bugres. A subutilização da MT-343 se deve à falta de condições para o tráfego pesado de bitrens e carretas. Se pavimentada, será importante via.
Essa rodovia é estratégica para a logística mato-grossense por ser o elo entre o transporte fluvial e uma importante região que se destaca enquanto polo da agricultura, de frigoríficos e da indústria sucroalcooleira nos municípios de Barra do Bugres, Nova Olímpia e Campo Novo do Parecis. Além disso, a MT-343 é considerada a tábua de salvação de Porto Estrela, que registra preocupantes indicadores sociais por falta de empregos e por não atrair investidores. O município tem 3.354 habitantes e 2.596 são beneficiários do programa Bolsa Família, percentual que corresponde a 77,4% da população, revela o responsável pelo setor, Eduardo Henrique Gaspar.
PORTO
Cáceres tem o porto mais ao norte da Hidrovia Paraná-Paraguai, com 3.342 km entre aquela cidade e Nueva Palmira, na costa uruguaia. Por essa rota fluvial que se estende pelo Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai, encurta-se a distância para se navegar até o oceano Atlântico.
De Nueva Palmira partem navios que cruzam o Estreito de Magalhães, no extremo sul do continente, e alcançam o Pacífico carregados com commodities para os mercados asiáticos.