A maior discussão, tanto filosófica quanto teológica, desde a origem, é sobre a própria vida humana. O que é de fato viver? Para que se vive? Haverá vida após a morte? Para onde se vai depois?... Aqui no Brasil, integrando o perfil humano do planeta, podemos acrescentar uma questão extra: Como fica a vida após o Carnaval? Acompanhei, de relance, os preparatórios para a “maior festa popular do Brasil”! As manchetes dos jornais e noticiários destacavam e incentivavam as doações de sangue! PM vai para as ruas no Carnaval, assegura outro informativo! O governo coloca à disposição mais de 100 milhões de camisinhas! Com sinceridade, cheguei a pensar que nos preparávamos pra uma terceira guerra mundial, dado a quantidade de sangue que se pedia aos doadores! Que me desculpe o caro leitor, mas pela quantidade de preservativos distribuidos pelo Estado (correspondente à metade da população brasileira), dá pra pensar no país como “uma grande casa de prostituição”. Verdade seja dita, vendo os resultados nas páginas dos jornais, não foi muito diferente: milhares de mortos nas estradas, corredores de hospitais lotados de “acidentados da festa”, e por ae vai! Todo o sangue doado por pessoas bem intencionadas acabou nas veias de gente acidentada com a incentivada “empolgação carnavalesca”. Bom seria recordar, àqueles que administram a “coisa pública” sobre a razão primeira de ser do Estado: educar seus cidadãos para uma vivência social equilibrada e sadia. Já dizia o velho Aristóteles: “virtus in medium” (a virtude está no equilíbrio), e o equilíbrio se fundamenta na temperança e no bom senso. Educar uma pessoa é usar todos os recursos disponíveis para extrair o melhor que ela pode oferecer, para si mesma e para o seu entorno. Se o que os nossos “líderes” têm a oferecer é isto aí, estão prestando um deserviço à população.
Mas uma boa parte do povo brasileiro não compactua com estes desafortunados delírios. Vi também pais de família, jovens e crianças participando em inúmeros grupos de retiros espirituais e encontros religiosos de vários credos; Cáceres, Jauru, Pontes e Lacerda e dezenas de outras localidades. Passei também pelo Vinde e Vede, em Cuiabá... “Minha alegria vem de Jesus”, estampava a camiseta de um feliz “folião”. Pensei logo: o sangue que corre nestas veias não será desperdiçado com os “acidentados do carnaval”, e seu pensamento não está conectado aos preservativos, mas à preservação da sua dignidade e caráter. Nesta experiência não há espaço para disputas entre “escolas de samba” e nem para o desperdício do dinheiro público. Este “espaço alternativo” não se baseia em descarregar todas as energias negativas acumuladas durante o ano, mas em reabastecer a “vida espiritual” para o período fértil da Quaresma. As músicas são outras, as bebidas são outras, as expectativas são outras; exatamente por que o “conceito de pessoa” é outro. A pessoa está para a vida saudável assim como o sol está para o dia. Não percamos a esperança; ainda há vida após do carnaval!
Pe. Jair Fante
Coordenador da Diocese de Cáceres - MT