A web e as redes sociais viraram grandes aliados dos relacionamentos casuais e até exclusivos. Histórias de amor ao primeiro clique se tornaram mais comuns graças aos sites especializados em encontros e aplicativos de namoro para smartphones. A interação online, no entanto, pede precaução, já que as partes dividem uma suposta intimidade sem ao menos ter o contato ao vivo.
Namoro online: uma estratégia para não ser enganado é fazer várias perguntas e ver se as histórias encaixam
Por trás de um monitor e um teclado, muitos transformaram a internet em um meio popular para a experiência amorosa. Para a coach de relacionamento e terapeuta EFT (Técnicas de Liberdade Emocional, em inglês), Margareth Signorelli, a prática é uma tendência principalmente entre os mais velhos, que se sentem mais inibidos de exercitar o flerte em bares e outros lugares públicos.
“Antigamente as pessoas se aventuravam nos blind dates (encontros às cegas), arranjados por amigos e família e, por isso, menos arriscados. Hoje, manter um relacionamento online exige uma constante desconfiança”, explica Margareth. A profissional conta ainda que a mesma abertura que a web oferece para conhecer pessoas dá oportunidade aos que buscam criar um personagem.
Uma estratégia para testar os pretendentes é fazer várias perguntas e notar se as histórias encaixam. “Os mentirosos costumam cair em contradição. Podemos encontrar vários personagens, como pessoas normais, más e os psicopatas”. Para se proteger, segundo Margareth, todos deveriam seguir as três leis seguintes: não esquecer os riscos, seguir a voz da intuição e entender que a internet não garante intimidade. “Conversar durante meses com alguém não é sinônimo de intimidade e nem significa que você já pode confiar naquela pessoa”.
Vilões: idade e estado civil
Aplicativos de namoro - como o Tinder e Hot or Not - oferecem um perfil enxuto dos pretendentes, o que aumenta as chances de pequenas mentiras e infelizes surpresas. O estudante Bruno*, de 23 anos, já passou por duas situações constrangedoras usando o aplicativo Scruff, especializado em relacionamento gay. “Conversei um tempo com um cara de 32 anos e marcamos um bar. Chegando lá, vi que ele tinha pelo menos 20 anos a mais do que tinha falado”.
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Surpreso, Bruno não confrontou e ainda seguiu com o encontro até perceber que a conversa não acompanhava a faixa etária. “Ele começou com uns papos da época da minha mãe. Depois de negar várias vezes, confessou que tinha 52”. Para o estudante “a mentirinha” faz parte da dinâmica do online, mas o exagero pode comprometer toda a relação.
Já a professora Alice*, de 40 anos, não aceitou tão bem a real aparência do usuário do OKCupid. Entre os dois meses que conversaram, o casal migrou para as mensagens de texto. Confiante, Alice decidiu marcar um jantar. Chegando ao restaurante percebeu que o homem era bem mais velho do que pensava. “Ele usava fotos de uns dez anos atrás, já estava com cabelos brancos e até calvo. Na hora, pensei: ‘se mentiu a idade, imagina o resto’”.O episódio virou piada interna entre os amigos.
Alice acredita que estado civil e idade são as informações mais distorcidas no mundo virtual. “Ao longo da vida você vai criando filtros melhores e consegue sacar alguma enganação. Muitos ficam valentes e se tornam as pessoas que gostariam ser”.
Já a estilista Cristina, de 32, abandonou os aplicativos após as péssimas experiências. Ingênua, ela aceitou um encontro após ver apenas uma foto da outra pessoa. “Ele falava que não tinha outras porque a ex-namorada era muito ciumenta. Topei mesmo assim. Chegando lá não tinha nada a ver com a foto”. Encontros agora só com pessoas conhecidas, garantiu ao Delas.
Vítima de um “catfish”?
O termo “catfish” é usado para situações mais extremas e virou sinônimo para pessoas que se passam por outras na web. Foi usado pela primeira vez em um documentário em 2010 e virou reality show de sucesso na MTV americana. No programa, os apresentadores Nev Shulman e Max Joseph dão dicas sobre como fugir de emboscadas amorosas.
Conheceu alguém? Veja os toques e descubra se está sendo enganado:
1º Leve o papo para outras plataformas
O primeiro teste é estender o papo para outras plataformas na web, como chamadas em vídeo, adicionar no Facebook e ter conversas ao telefone. Normalmente, impostores recusam qualquer outro contato via webcam e voz. Se acontecer isso deve ser o primeiro sinal vermelho.
2º Analise a página do Facebook
A página da rede social mais popular pode conter respostas importantes e detalhes da vida pessoal. Um usuário ativo, segundo os apresentadores, deve ter ao menos 100 amigos na rede. Para verificar a confiabilidade da página, analise se há interação entre os adicionados. Estranhe se não há amigos marcados nas fotos. Isso é um grande sinal de que as imagens podem ser falsas.
Amor virtual: conversar por meses com uma pessoa não significa conhecê-la a ponto de poder confiar cegamente nela
3º Profissão: modelo
Ele te fala que é modelo e bem sucedido na carreira. Tudo muito bom para ser verdade? Pode ser. Escute, mas com cautela e redobre a atenção. Uma forma de verificar a informação é salvar em seu desktop uma foto do pretendente e arrastá-la no campo de busca do Google Imagens. A ferramenta buscará o uso da mesma foto na web. Muitos descobrem assim que os seus candidatos são na realidade modelos estrangeiros e até atores pornôs.
4º Force uma conversa por webcam
Ele recusou o pedido de amizade no Skype? Não tem problema. Insista em vê-lo pela webcam. “Faça chata e cobre sempre. Se a pessoa realmente estiver interessada, ela vai procurar agradar”, orienta a terapeuta Margareth. A cada nova investida rejeitada um passo a mais de desconfiança.
5º Comprove informações no Google
Atualmente é quase impossível não deixar nenhum rastro na web. O Google pode ser um útil e revelar se você está conversando com uma pessoa real ou um perfil fake. Pequenas informações como a faculdade que cursou a graduação, cidade de origem e trabalhos podem ser facilmente descobertos. Uma inofensiva investigação que pode prevenir grandes dores de cabeça.
6º “Vamos nos conhecer?”
Tome iniciativa e proponha um encontro. “Principalmente as mulheres têm muita sensibilidade para identificar a mentira”, explica Margareth. Durante conversas por telefone, por exemplo, vale fazer perguntas mais íntimas e diretas como ‘você é casado?’ ou ‘tem filhos?’ e observar o tom da resposta. Para a terapeuta é importante sentir o tom de voz e ver como a pessoa recebeu a pergunta.
7º Peça fotos recentes e imediatas
Se estiver trocando mensagens instantâneas, como no aplicativo Whatsapp para smartphones, aproveite para pedir uma foto recente. Vale provocações engraçadas como “duvido você tirar uma foto sua e mandar”. Apelar para a espontaneidade pode ser uma boa saída para esconder a sua insegurança.
8º Desconfie de interrogatórios sobre questões pessoais
Questões pessoais como endereço de casa, informações sobre a família e local de trabalho devem ser evitadas. “Não tenha vergonha de recusar dar a informação. Depois do primeiro ‘não’, ele saberá que você não é boba”, diz a terapeuta. Desconfie se a pessoa insistir até mesmo durante um encontro a dois. A relação na web não é a mesma no mundo real. “Não importa se já estão conversando há meses. Decidiu encontrar? Tudo começa do zero”.
*Nomes fictícios usados para preservar a identidade dos personagens.