Vejo o governador eleito Pedro Taques entrando no cipoal da burocracia pública. Os franceses inventaram a burocracia, os portugueses a adotaram e o Brasil a aperfeiçoou a níveis infernais. O coordenador da transição, Otaviano Piveta, anunciou mudanças na estrutura do governo para os próximos quatro anos. Imediatamente a burocracia se levantou e entrou numa área em que ela domina como ninguém: a do fuxico. Daí para os vazamentos na imprensa foi um pulo, as queimações de nomes, começando do próprio Piveta. A reforma pretendida deixou de ser uma coisa de governo para se transformar em queda de braço da burocracia de um lado, do mundo político de outro, fora setores inconformados como o da cultura, do turismo e outros que serão atingidos.
Governar não é satisfazer a opinião pública, nem a grupos específicos e muito menos a grupos políticos. Não há gestão sem conflito. O governador Silval Barbosa, por exemplo, quis evitar os conflitos e abriu um imenso leque de conversas e de alianças. Resultado: termina sozinho seu mandato, sem lealdade da burocracia, dos grupos políticos e nem dos que tentou agradar. Por isso, gestão pede coragem e capacidade de resolver conflitos. É isso que a sociedade de Mato Grosso espera do governador Pedro Taques.
Coragem pra avançar e pra recuar, mas sempre no comando do protagonismo. Em torno do poder giram interesses republicanos e interesses inconfessáveis. Os protagonistas desses interesses não trazem uma etiqueta na testa. Quem governa precisa ter força de decisão pra lidar com os conflitos que a seleção dos interesses gera na separação dos legítimos e dos moralmente ordinários.
Outra coisa que persegue os governantes: a solidão. Nenhum escapa dela. Chegam-lhe ás mãos com ou sem aviso prévio, questões pesadas e difíceis. A aparência sempre engana. Por detrás, tem sempre interesses. Por isso o governante precisa ter força moral e coragem. Se tiver que mexer na estrutura do governo, mexa! Se tiver que recuar, recue depois obedecendo à lógica e não às pressões antecipadas de quem não quer perder privilégios. Vi governadores bem intencionados avançarem, recuarem pra evitar conflitos e os vi em seguida derrotados e pisoteados pela opinião pública e por esses mesmos grupos.
Onde os conflitos forem justos se resolva dentro da lógica. Onde não forem solucionáveis, da mesma forma. A sociedade está profundamente infeliz e indignada com a gestão pública. Esta é a realidade. Dante de Oliveira optou pelo confronto direto com as estruturas e venceu. Ganhou o estado. Fica o exemplo pra que não se perca a esperança no governador eleito com a promessa de uma boa gestão.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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