Mato Grosso foi o segundo estado que mais produziu milionários no país na primeira metade desta década. O dado faz parte de um estudo realizado pelo Barings Investments, banco com sede nos Estados Unidos especializado em financiar e oferecer soluções em agronegócio. O Diário teve acesso aos dados com exclusividade em Mato Grosso.
Entre 2010 e 2014, nada menos que 697 mato-grossenses passaram à condição de milionários, totalizando 2.132 pessoas. O número é 48,57% superior aos 1.435 contabilizados no início da década. Em números absolutos, somente o Estado de São Paulo teve maior incremento, com 1.013 novos milionários no período.
A diferença é que, em termos relativos, o crescimento em São Paulo foi de apenas 1,59%, já que o número de milionários saltou de 63.398 para 64.411.
Ainda em números relativos, o Estado que mais viu crescer a quantidade de milionários foi Roraima, com salto de 67,85% (de 28 para 47), seguido de Mato Grosso do Sul, com 53,75% (de 1.211 para 1.861). Em percentual, Mato Grosso é o terceiro.
O Barings Investiments considera milionária a pessoa que tenha renda anual de US$ 240 mil e US$ 1 milhão em ativos. O cálculo dos ativos exclui imóvel de moradia e dois veículos. Em reais, para se enquadrar na categoria de milionário conforme os parâmetros do banco, é preciso ter renda anual de R$ 691 mil e R$ 2,8 milhões em ativos.
O agronegócio é responsável por quase a totalidade dos milionários mato-grossenses. “O crescimento [no número de milionários] em áreas ligadas ao agronegócio é exponencialmente superior às grandes capitais que têm a indústria como base”, explica Emerson Pieri, sócio do Barings Investment. “Quando falamos de agornegócio, o produtor compra maquinário em Cuiabá, sementes, insumos... Isso gera uma demanda de empresas que vendem estes produtos a se instalarem na cidade”, explica o executivo. “Aí ele gasta parte dos lucros comprando carros, imóveis... Isso faz com que a cadeia vá muito além do campo, gerando negócios e renda em quase todos os segmentos”.
E o cenário futuro para o surgimento de novos milionários no Estado parece não sofrer influência da crise econômica do Brasil, cujo PIB deverá ser negativo este ano, conforme projeções do mercado.
“A crise impacta diretamente os grandes centros, que terão com certeza uma queda no número de milionários. Este impacto será quase nulo nos centros produtores de soft commodities”, avalia Pieri, referindo-se às mercadorias agrícolas. “Mesmo com uma queda no preço, e falta de mercado interno, os produtores têm lastro e mercado externo para vender a produção”.
Os dados estatísticos do banco norte-americano são corroborados pela realidade local. Nos últimos meses, conforme o Secovi, sindicato que reúne imobiliárias e incorporadoras, de cada 100 imóveis vendidos em Cuiabá 13 eram de alto padrão.
Esta semana o Secovi comemorou a chegada a Cuiabá de um novo tipo de empreendimento imobiliário, o complexo multiuso, semelhante ao Parque Cidade Jardim de São Paulo, que reúne apartamentos, salas comerciais e um luxuoso shopping center.
Apesar do mercado apostar neste segmento, Pieri explica que os novos milionários mato-grossenses são os mais conservadores no que diz respeito a gastos com produtos de luxo. “Em contrapartida, gastam muito em tecnologia de ponta, como maquinário, sistemas de semeadura, irrigação, monitoramento via satélite e pesquisa. Estão na vanguarda em termos de pesquisa de híbridos e são os mais atentos a novas ferramentas de plantio”.