O Brasil registrou nos dois primeiros meses deste ano 6.948 focos de incêndio. Trata-se do maior número de queimadas já registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em janeiro e fevereiro desde 1999, quando os satélites começaram a captar os focos de calor pelo país ao longo de todo o ano.
O número de 2015 é 66% maior que o verificado no ano passado (que teve 4.182 focos) e quase 100% superior à média histórica para o período.
Responsável pelo monitoramento de queimadas no país, o pesquisador Alberto Setzer, do Inpe, diz que a alta pode ter relação com o aumento da taxa de desmatamento naAmazônia Legal. A taxa de desflorestamento (corte raso) aumentou 40% entre novembro de 2014 e janeiro de 2015 em relação ao mesmo trimestre de 2014, segundo o Inpe.
O Ibama nega esta relação e afirma que tem reforçado o monitoramento.
O Mato Grosso é um dos maiores responsáveis pela estatística. Só no Estado do Centro-Oeste, foram registrados 1.502 focos nos dois primeiros meses deste ano (mais de 1/5 de todos os registros). Pará, com 833, e Roraima, com 748, aparecem logo atrás.
Maranhão é quarto que mais registrou queimadas, com 589 focos, seguido de Bahia, com 399, e Mato Grosso do Sul, com 374 pontos de calor.
Desmate e queimadas: aliança de risco
De acordo com Alberto Setzer, ainda é cedo para avaliar se o restante de 2015 seguirá a tendência do primeiro bimestre. Ele alega que uma das causas prováveis do aumento das queimadas é o maior desmatamento da Amazônia Legal.
Dados do Sistema de Detecção em Tempo Real, o Deter, também divulgados pelo Inpe,contabilizaram aumento de 40% do corte raso (desflorestamento total) no bioma entre novembro de 2014 e janeiro de 2015 em relação ao mesmo trimestre anterior.
“O crescimento de focos na região amazônica corresponde à elevação do desmate, já que o fogo é utilizado para eliminar as árvores”, explica Setzer.
Ele afirma que todas as queimadas registradas são resultantes da atividade humana, alegando que menos de 0,1% dos incêndios ocorrem por causas naturais, número considerado por ele como “desprezível”.
Ibama nega aumento no desmate
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais, o Ibama, nega aumento do desmatamento na Amazônia Legal, alegando que os dados divulgados recentemente, o Deter, não são usados como medida, já que são gerados em imagens de baixa resolução.
“O desmatamento é medido anualmente através do Prodes (Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite). [O Deter] serve para orientar as operações de conservação da floresta”, explica a nota enviada ao G1.
“O que tem sido observado pela fiscalização do Ibama é que o cenário atual está semelhante ao do ano passado, onde foi constatada uma queda de 18% do desmatamento do bioma”, complementa o instituto.
Sobre uma maior fiscalização das queimadas, o instituto diz que foca na contenção de focos em áreas de proteção federais, como terras indígenas, projetos de assentamentos e apoio na defesa de unidades de conservação federais.
O órgão alega que tem reforçado o monitoramento em Roraima e no Sul da Bahia, consideradas regiões críticas atualmente, e prevê a contratação de 1.400 brigadistas ao longo do ano, que serão divididos em 70 equipes por todo o país.