Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Da humanidade coisificada
Por por Gonçalo Antunes de Barros Neto
20/05/2015 - 21:29

Foto: arquivo

Para Aristóteles, nem todo ser dotado de alma é um ser dotado de todas as faculdades da alma. Temos, então, a nutritiva, comum a vegetais, animais e ao homem. A sensitiva, própria dos homens e dos animais. A racional, somente dos humanos.

            A faculdade racional, exclusiva dos homens e mulheres, detém as virtudes, sejam éticas (generosidade/esperança) ou dianoéticas (sabedoria/prudência). Alguém pode ser mais racional que outrem? Ter mais ou menos virtudes? A racionalidade, considerando a classificação aristotélica, é inata?

            Pois bem. Ainda que inata, precisa, penso, ser redescoberta, alimentada, cultivada, num ritual dinâmico de idas e vindas. A cultura, por exemplo, tomada como civilização, e não como refinamento individual ou espírito coletivo (Sapir), pode comportar uma classificação em inferior ou superior, numa progressão histórica ou num esquema evolucionário. Racionalidade e cultura não são processos estanques.  

            Indicado o referencial, como aferir a racionalidade, com maior ou menor evolução civilizatória, de um povo que aceita, livremente e sem qualquer crítica, afirmações discriminatórias de um seu governante?

            O primeiro-ministro britânico, David Cameron, reeleito recentemente, anda as turras com os irmãozinhos imigrantes. Mandou, em campanha de seu governo, que voltassem para casa. Dias atrás, chegou a afirmar que o seu governo está à disposição para encaminhar dinheirama a outros países para resolverem o ‘problema’ imigratório. Mas reafirma, lá para as suas bandas, ninguém entra.  

            A Inglaterra brindou a humanidade com o pensamento de Austin, Bentham, Clarke, Cohen, Wittgenstain, Hartley, More, Williams, Ockham, Bacon, Locke, Hobbes, Mill, e tantos outros, não pode retroceder, humanitariamente e politicamente, com Cameron.

            Pergunta-se, onde seria a casa de todos nós? Diriam alguns, naquele pedacinho de chão, cercado, dos meus em criação e que fui criado. Somos sempre levados pelas necessidades, pensamos com o estômago.

A humanidade tem lar? E depois criticamos os ciganos e os andarilhos... Até aqui, tudo bem, desde que fôssemos honestos e não disséssemos amém ao invocarmos a metafísica. Tudo depende do conceito, do paradigma, que para Platão é a verdadeira realidade. E nela, se insere as doloridas palavras do primeiro-ministro Cameron.

Encerro, por aqui, com as palavras de Herculano Pires – ‘O conceito é uma conquista da evolução psíquica. É o momento em que a mente se liberta do objeto, criando o seu próprio universo. Uma vez compreendida a sua função, conhecido o seu valor, o espírito se livra do peso da matéria. A antinomia existencial se define: de um lado está a coisa, o objeto, a matéria, na sua diversidade, na sua confusão; de outro está o espírito que percebe, que capta, que apreende essa diversidade, na sua confusão; de outro está o espírito que percebe, que capta, que apreende essa diversidade; e no meio, entre um e outro, está o conceito, representação pura do impuro, imagem perfeita do imperfeito, simbologia homogênea do heterogêneo; intermediário do ser e o não-ser, chave de controle de toda a realidade’.

É por aí...

 

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO escreve aos domingos em A Gazeta (Email: antunesdebarros@hotmail.com).

 

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