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Sociólogo do IFMT Cáceres realiza estudo sobre a cultura do medo
Por Edna Pedro/assessoria
23/10/2015 - 11:36

Foto: assessoria

"em nome do deus segurança"

 

Realidade cada vez mais diagnosticada no comportamento social do século XXI, a cultura do medo, a recusa do outro, a recusa do diferente e o abandono voluntário dos direitos humanos fundamentais em nome do novo deus da segurança são elementos do estudo realizado pelo sociólogo Paolo Targioni, professor do Instituto Federal de Mato Grosso, IFMT Campus Cáceres.

            Mestre em sociologia pela Universidade de Florença, na Itália e em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), o sociólogo italiano radicado há 13 anos no Brasil apresentou na última semana um recorte de seu estudo com abordagem sobre “Migração e Perda Voluntária dos Direitos Humanos” na III Semana de Direitos Humanos e III Mostra de Cultura e Arte das gentes do Pantanal realizada pela Universidade do Estado de Mato Grosso, em Cáceres.

            Com foco para a relação de direitos exercida a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, o professor destaca as contradições de aplicabilidade do documento entre as camadas mais ricas e mais pobres da população mundial. “Enquanto a parte rica do mundo vive relativamente protegida pelo documento, a outra parte, a mais pobre, a menos favorecida, vive escravizada, em condições sub-humanas”, afirma.

            O estudo apontou para a abdicação de alguns direitos por parte da população rica e bem-sucedida, que vive protegida e com todos os confortos possíveis. “Trata-se de um abandono voluntário que é visto como uma forma de autoproteção, um fechar-se em relação ao outro que acaba privando os que vivem aparentemente bem, de suas liberdades mais básicas como a de caminhar livremente pelas ruas da própria cidade”, explica o sociólogo.

            O motivo deste “abandono” segundo o pesquisador seria a criação de fronteiras e divisões traçadas pelos grupos ao perceberem as diferenças de culturas, visões de mundo, de atitudes e a dificuldade de convivência com o outro em cidades cada vez maiores.

            “A metrópole é o maior laboratório de convivência que os seres humanos criaram. Viver na cidade significa viver juntos e a se relacionar com as diferenças. Ao tomarmos consciência que existem diferenças, que existem pessoas que não são como nós, criamos fronteiras e passamos a sentir um certo perigo e um certo medo em relação ao outro, ao diferente, ao desconhecido.", afirma.

            Um dos exemplos da materialização dessas fronteiras internas da cidade, citadas pelo professor é o Shopping Center. Espaço onde existem pessoas que podem entrar e sair livremente e outras que, simplesmente, não podem como mendigos, moradores de rua, ambulantes. “O shopping exalta a diferença entre nós e o outro. Diferenças que incomodam, que nem sempre podemos suportar. Na verdade é a criação de fronteiras que cria essas diferenças e não o contrário”, destaca Paolo.

            O pesquisador enfatiza que as cidades modernas – onde vive mais da metade da população mundial - são depósitos de lixo dos problemas criados e não resolvidos no espaço global. A migração para Europa, por exemplo, é destacada como consequência de movimentos globais que geram problemas e conflitos que precisam ser resolvidos em âmbito local.

            “A cidade é um refúgio para os diferentes, os estrangeiros, mas sobretudo onde se localizam os problemas criados em nível global. É ela quem tem que se organizar para receber estas novas multidões, os filhos da globalização e de seus desvios”, pontua Paolo.

            Esta realidade, segundo o professor expõe a fragilidade da natureza humana, a precariedade de vidas e de certezas, o que aumenta o medo da perda da posição e segurança social. “Para se salvar da vista e dos contatos com essas pessoas, com esses problemas, nas cidades existe uma tendência geral a construir muros, fronteiras, proteções contra um eventual inimigo externo, além disso, criaram-se espaços proibidos” afirma.

            Um caso extremo desses espaços proibidos, estudados pelo professor, são as residências americanas gated communities, que inspirou os chamados condomínios fechados no Brasil. Segundo Paolo, uma situação que revela a perda voluntária dos fundamentais direitos humanos como o da liberdade, alimentada pelo medo dos outros, em nome de uma tranquilidade aparente e de uma segurança fictícia.

            “É o resultado da aspiração de defender a própria segurança procurando ter só a companhia de seus semelhantes, e deixando longe os diferentes. Uma prisão voluntária da qual, graças às televisões internas, por exemplo, os prisioneiros de si mesmo podem se defender de quem passar por perto, e se defender dos perigos de um mundo no qual não se passeia mais, não se vive mais", conclui.

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