Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Eduardo Gomes escreve um livro revelador
Por JOÃO BOSQUO/DC Ilustrado
18/12/2015 - 16:55

Foto: arquivo pessoal

“Dois Dedos de Prosa em Silêncio” retrata a prática política de passar a perna e cometer fraudes

Em julho passado, conversei com o jornalista Eduardo “Brigadeiro” Gomes de Andrade sobre o livro que estava preparando. Contamos um pouco de sua trajetória, de mineiro, natural de Conselheiro Pena, mais especificamente do distrito Barra do Cuieté e que acabou por estas paragens do Mato Grosso e hoje se considera mais mato-grossense que mineiro. Coisas da vida. 

Pois bem, nessa entrevista, o amigo leitor pode conferir nos nossos arquivos, Eduardo Gomes nos conta como se iniciou nas letras e como se tornou jornalista, um dos mais respeitados na área política, agronegócios e editorialista conciso em suas opiniões, aqui em Mato Grosso. 

O livro que está sendo vendido de mão-em-mão pelo autor é “Dois Dedos de Prosa em Silêncio – Pra rir, refletir e arguir”, edição do próprio autor – sem nenhum apoio institucional – o que não é fácil, traz mais de 140 páginas e 50 casos e causos que o autor vivenciou ou ouviu falar da boca de seus entrevistados, como o lendário personagem político Osvaldo Botelho, o Nhonhô Tamarineiro, considerado o último dos últimos coronéis da política mato-grossense dos velhos tempos. Os coronéis agora são um pouco mais soft usam outros instrumentos mais sofisticados e vão comprando partidos e expulsando seus antigos militantes, como se vê essa semana aqui mesmo em nosso Estado... 

FORA DA ORDEM - Os casos de “Dois Dedos de Prosa” não estão em ordem cronológica dos acontecimentos. Não. Ele abre com Jayme Campos, nos anos 90, quando assume o governo de Mato Grosso e fecha com a crônica sobre a morte de padre Johanes Bertold Hennig, conhecido 'padre João', ativista do cooperativismo um dos fundadores da Comajul. 

Então fica combinado assim. Nesta breve resenha não comentarei também de forma linear, vou começar pela Carta de Michel Temer. Michel Temer? Sim! Pela ridícula carta de menino carente escrita a presidente Dilma, recentemente. O vice-presidente deveria tomar algumas lições de políticas com o ex-vice-governador Chico Daltro. 



Segundo Brigadeiro, véspera da posse, Daltro chamou o secretário Chefe da Casa Civil, Éder Moraes e teria dito que não assumiria a vice-governadoria para ser um ‘vice’ decorativo. Silval Barbosa – ao contrário de Mauro Mendes, que não tem o espírito de negociação política e hoje está sem vice – entregou a Chico Daltro alguns órgãos da administração como AGER, MT Fomento entre outros e o vice assumiu. 

Na minha modesta opinião, Temer teria que ter feito o mesmo ainda antes da convenção do PMDB e não ficar agora neste nhém-nhém-nhém que tá aborrecido e ao mesmo tempo encarnando a triste figura de traidor ao comandar o golpe constitucional para destituir Dilma Rousseff. 

Histórias que envolvem poder e desconfiança, pois o ‘cash is king’, cujo slogan é ‘King is money’, permeiam todo livro. Uma elucidativa é sobre o Vasco da Gama, que ano que vem vai jogar pela terceira vez a segunda divisão, por conta da catastrófica gestão de seu ultrapassado presidente Eurico Miranda. Pois bem. Carlos Bezerra era o prefeito de Rondonópolis e, segundo nosso Brigadeiro, já sonhava com o Paiaguás. Por isso queria fortalecer o União, time de 11 de cada dez políticos da cidade. O Vasco desembarca no Aeroporto de Cuiabá e, de Várzea Grande, ruma de ônibus para Rondonópolis. 

Apesar do contrato assinado ser com a prefeitura, Eurico Miranda, cartola calejado, praticante e conhecedor do nosso espírito caloteiro queria o dinheiro antes de iniciar a partida. Corre-corre nos bastidores, faz-se um limpa na bilheteria e da parte que faltava um cheque pessoal de Hermes de Abreu, secretário municipal. O cheque é descontando antes do Vasco embarcar de volta, bem entendido, e parecia que todos estavam felizes para sempre. Menos Eurico Miranda. 

Acontece que no ato da assinatura do contrato fora dado um cheque caução, só com um pequeno detalhe: tratava-se de um cheque roubado. O funcionário do Vasco da Gama do Rio de Janeiro, claro, com o conhecimento de Eurico Mirada, telefona e cobra o pagamento do referido cheque ameaçando usar a imprensa carioca para detonar o pré-candidato ao governo. 

Eu leio essas histórias com certo gostinho, um pequeno deleite, e saber que isso não é corrupção, pois a corrupção, como todos nós sabemos nos dias de hoje foi criada, inventada, desenhada a partir do governo do ex-presidente Lula da Silva, em 2003, não é mesmo. 

Sim, amigo leitor, o livro também é um pequeno relicário de pequenas fraudes, fruto da nossa expertise política de passar a perna nos adversários políticos, como aconteceu na sucessão do secretário de Agricultura Aréssio Paquer, no governo de Jayme Campos. 

O governador não queria problemas e pediu um nome ao setor. O nome foi escolhido numa eleição na sede da Famato, que tinha como presidente Zeca de Ávila, cujo candidato perdeu nas urnas, mas ganhou na ata de apuração e Érico Piana se tornou o novo secretário. 

E nesse relicário nos conta Eduardo Gomes: “Pra Primavera do Leste foi ótima a nomeação de seu ex-prefeito por Jayme. Afinal, ele canalizou ao município um projeto de viticultura, que criou um ciclo da uva por lá e irrigou muitas contas bancárias de plantadores de soja transformados de uma hora pra outra em viticultores e vinicultores”. 

SOBRE O VLT - O jornalista Eduardo Gomes de Andrade – quase 70 anos, como entoa o Editor deste DC Ilustrado, Enock Cavalcanti – como já disse aqui é um dos mais respeitados (mas nem por isso badalado) jornalista político e econômico, nem por isso deixa de cometer algumas injustiças. 

Vi no Facebook o senador Blairo Maggi e o jornalista confraternizando-se numa churrascada, não sei o que os dois conversaram. O senador, pelo momento, não poderia falar das contradições. Na página 35, falando do VLT do Riva (nisso ele tá certo, pois o pai, mãe, avô e padrinho é o ex-deputado José Riva), afirma que “o VLT era um projeto dele (Riva) e isso bastava. Bastou. Bastou (...) com a submissão da Assembleia Legislativa, a apatia do Ministério Público Federal e do Ministério Público Estadual, com aval do governador Blairo, (...) e as loas da mídia”. 

Ora, o projeto BRT foi abraçado por Maggi e quando ele deixou o governo era esse o modal combinado. Dois ramais – CPA-Várzea Grande e Tijucal-Centro. Ponto. Até março de 2011, conforme registra o saite do governo de Mato Grosso, matéria assinada pelo jornalista Eduardo Ricci, a Agecopa encaminha o projeto do BRT para análise da Caixa Econômica Federal. Até ali, Yênes Magalhães – com seus limitados poderes, vinha tocando o projeto como fora concebido e entregue a Fifa. Logo em seguida o governador Silval Barbosa entrega também à Caixa o projeto executivo do trecho Tijucal-Centro. Assim que terminasse a análise, a ordem de serviço seria dada... Isso era março. 

As forças políticas se movem, inclusive com adulteração de documentos, e em setembro o governo decide mudar a matriz BRT (Bus Rapid Transit) para o de VLT ( Veículo Leve sobre Trilhos) e em janeiro de 2012 (menos de 18 meses para a Copa) o governo assina o distrato e o BRT era enterrado e começava a obra do novo “hospital central” que agora são pontos de interrogação. Riva poderia ter anunciado e a profecia do jornalista, correta, já que ele era “Riva, o homem que fazia relampejar”. 

Por último, sempre vamos deixar por último, na crônica sobre o bicheiro, comendador e homem forte João Arcanjo Ribeiro, em rápidas pinceladas, o Brigadeiro faz um retrato do Estado de Mato Grosso da era Arcanjo. Não era brinquedo, não. Conta o trabalho político do então governador Rogério Salles para desmontar o crime organizado no Estado e o aparecimento mítico do Procurador da República Pedro Taques que, segundo palavras do nosso Brigadeiro, “soube tirar uma casquinha da Operação Arca de Noé, que se mudou para as páginas dos jornais e dos sites e por bom tempo virou manchete crônica das TVs e do rádio”, e veio a se eleger senador da República – cargo que prometeu cumprir até o último dia – mas se candidatou ao governo de Mato Grosso. 

O livro “Dois Dedos de Prosa em Silêncio – Pra Rir, Refletir e Arguir” está sendo vendido pelo próprio autor, que faz questão de entregar em mãos. Mesmo como um dois ou três senões, merece uma leitura. O defeito é que o livro não tem um índice onomástico, que ajudaria localização das personagens e nas relações entre fatos, já que não estão – como disse – em ordem cronológica. Ah!, a crônica que abre o livro, sobre a posse do governador Jayme Campos – baixando o cassetete nos professores – não é coisa do passado, não. O governo do Paraná, Beto Richa, faz isso e o de São Paulo Geraldo Alckmin, mandou dá cacete nos alunos que defendem as escolas. 

Serviço: 

Para comprar: 65.9982-1191 ou pelo e-mail: eduardogomes.ega@gmail.com 

Preço: R$ 50, na capital e, para o interior R$ 60 (inclui a postagem). 

Carregando comentarios...

Política

Frustração com AMM e a ZPE

17/12/2015 - 13:40
Utilidade Pública

SINE comunica vagas para cursos e empregos

16/12/2015 - 14:59