A Arte de Sorrir Cada Vez que o Mundo diz "Não"
Por por Nestor Fernandes Fidelis
06/04/2016 - 13:50
São várias as pérolas de amor e beleza trazidas por Guilherme Arantes. Ao compor a canção “Brincar de Viver”, em parceria com John Lucien, talvez o músico não tenha se dado conta do rico material que ofertava para a reflexão profunda de todos quantos fossem alcançados e tocados.
Chama a nossa atenção a proposta de sorrir cada vez que o mundo diz “não”, pois muitas vezes tudo a nossa volta, ou, ao menos, projetos e expectativas que construímos, nos chegam em forma de respostas negativas. Justamente por isso, somos convidados a reflexionar sobre o que a vida quer nos mostrar e ensinar com tantos “nãos”.
“A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não” não é autoengano. Muitas pessoas gostariam de viver num mundo de pura ventura e deleite, sem provas diárias, sem experiências desagradáveis, deixando de perceber que são os desafios que nos impulsionam a fazer melhor aquilo a que nos propusemos, sobretudo no tocante ao relacionamento interpessoal, eis que somos seres essencialmente sociais.
Assim, é natural que existam conflitos, porque cada pessoa é um universo de experiências, de sentimentos e desejos. Logo, cair em queixa improdutiva diante de um resultado não esperado e frustrante não agrega valores positivos para nossa caminhada; ao contrário, configura-se como um desperdício do tempo que temos por empréstimo divino para evoluir. Impossível deixar de reconhecer que nas relações sociais as frustrações ocorrem quando criarmos expectativas quanto à escolha e à conduta do outro; porém, o outro também tem liberdade de pensar, sentir e agir como queira, ou seja, somente temos controle real sobre as nossas próprias escolhas.
Quedar em autoengano não é, portanto, uma postura ideal na busca pela felicidade, razão pela qual a consciência nos convida a sorrir, aceitando, oportunizando, agradecendo, vivendo em otimismo e fazendo o que nos cabe, mesmo convidando o outro a fazer melhor, desde que seja a partir da força do exemplo.
“A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não” não é acomodação. Há pessoas que elegem ficar na inércia como uma forma de evitar conflitos. Mas o tempo passa e toda chance de crescimento desperdiçada é contabilizada pela consciência de cada um; e uma hora, quando o indivíduo cair em si, ela nos cobrará “com juros e correção”. Aceitar-se, repisamos, é diferente de acomodar-se. Na primeira situação reconhecemos nossa limitação, aprendemos e podemos nos superar. Na segunda, abrimos mão de viver. Desta maneira, sorrir diante das experiências-desafio é sentir-se filho de Deus, capaz de fazer melhor a cada situação.
“A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não” não é hipocrisia. Aquele que se habituou à postura hipócrita sofrerá, cedo ou tarde, os efeitos da dissimulação dos seus sentimentos, porque um dia a máscara da falsidade cai e quem mais sentirá os efeitos da escolha indevida? Aquele que viveu em hipocrisia, que sentirá a dor do remorso.
Disfarçar os reais sentimentos não é bom para ninguém: nem para quem sente, tampouco para quem convive com aquela pessoa. É importante discordar, não aceitar tudo, não se anular nas relações, porquanto tal atitude não traz felicidade para quem assim age; e o que é pior, não auxilia o outro a se perceber e, se quiser, procurar se melhorar. Sorrir perante situações negativas é sentir-se aprendiz da vida.
“A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não”, portanto, é agir com a fé raciocinada, sentida e operante, que nos convida a nos entregar por inteiro aos ideais, às relações, confiando, unindo, amparando, enfim. Assim, não haverá o peso da frustração, pois sempre será possível colher aprendizado e leveza no tocante à experiência que não alcançou o resultado almejado.
“A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não” é aceitação amorosa de si mesmo, gerando a aceitação do outro da forma como este se apresenta, sem exigir nem impor posturas que pensamos ser as mais adequadas, facultando, portanto, ao próximo, o direito de eleger seu próprio caminho, de crescer de acordo com seu esforço próprio.
Quem vive neste estado de otimismo e gratidão adoece menos; ama mais; procura mais compreender; não vive ilusões nem contos de fadas; mas se sente muito mais integrado com Deus e capaz de construir sua própria felicidade, pois as rédeas de seu destino estão em suas mãos.
Tudo isso significa dizer que devemos esperar o “sim” sempre, ou jamais dizer o “não”?
Vale a pena pensar nisso, o que faremos em próximo ensaio.
Muita paz!
Nestor Fernandes Fidelis