A gravidez palpita no coração do frio. Com leveza e maestria, o general do tempo toma setembro por assalto – e instaura a floração. De que cor é a noite que esconde a aurora sorridente? No doce voo delirante da névoa limpa da manhã as sombras se vestem de ouro pálido. A terra se enfeita para as festas da perpetuação. No mundo das raízes, arautos sutis acordam o espírito das flores e os habitantes da mata abrem as jaulas do ar azul. Casulos enrolam-se em perfumes e tribos de pássaros afrouxam o véu da tarde, adoçam suas cordas e se irmanam em árias nacionais. A brisa arrepia os olhos da pedra emocionada enquanto a boneca de papel corre com as estrelas bordadas na pintura – até que adormece no jardim. Qual a flor do sonho de onde saltam tantas pétalas? Sobre as lágrimas dos peixes, a deusa incomparável parte agora a bordo do Verão. No porta-retrato, a felicidade continua. *Bauruense, jornalista formado em Londrina/PR, hoje trabalhando em Florianópolis e em São Paulo. Poeta. E dos bons.(marcoscarlson.com)