Dizem que os sonhos não morrem, e nem envelhecem , talvez adormeçam, quando retornam vem mais consistentes, e amadurecidos. A gente aprende a sonhar desde cedo, no colo da mãe, sonhamos com o leite morno, com um pirulito, o algodão doce, sabemos quando o senhor do carrinho está por perto, com seus picolés, e passamos a desejá-lo e a esperá-lo , naquele horário , a nossa memória registra o horário certo que ele vai passar.
Assim vamos crescendo, e os objetos de desejo se modificando, o desejo do primeiro jeans, na minha época a calça jeans era a personificação da quase maioridade, era o sinal de que você tinha crescido, e já não era mais criança, tinha passado da infância para a puberdade já podia sair com os amigos para as festinhas, “brincadeiras”, reuniões em que podíamos dançar em volta de uma vitrola, de rosto colado, ao som de um Bob Dylon, ABBA, Be Gees, Belchior, um Tim Maia, a irreverente Rita Lee e tantos outros compositores que embalaram os anos 70, depois os 80 , muitos continuam a encantar e a embalar até os dias de hoje, a música boa, de qualidade tem o poder de registrar feito fotografia os momentos especiais que ficam guardados na memória, basta ouvir uma melodia somos reportados àqueles instantes que se eternizam feito tatuagem.
Mas como havia de ser, os objetos e sonhos (de consumo), evoluíram, se modificaram com os novos tempos, com a modernidade “líquida”, como Zigmund Baumam registrou. E “o que era novo, ficou velho”, como Belchior observou.
Agora o desejo de consumo dos adolescentes é um celular, um laptop, ou netbook, e quanto mais caro, mais invejado se torna, na minha época bastava uma velha calça Lee, ou Fiorucci , era o máximo de status, ou então um tênis, bamba, conga, claro que aquele que podia se dar o luxo de usar um Nike, ou outra marca importada era sinal que o camarada era bacana.
Hoje os jovens estão bem mais exigentes, e pasmem, alguns chegam a matar por isso! Tudo para poder ostentar e ser aceito por um grupo, comunidade, afinal os valores mudaram, e o que é o pior, distorcidos. Graças a...; que existem os que não entram nessa onda, e sabem sabem dar o devido valor às pessoas e objetos, não necessariamente nessas ordem.
Fico aliviada quando os percebo mais espiritualistas, mais voltados à religião. Antigamente isso não era muito comum, os jovens parecem que se envergonhavam de serem vistos com terços, ou bíblias, ou patuás nas mãos, nesse ponto acredito que houve um aumento significativo, mais igrejas, mais jovens frequentando, ouvindo a palavra de Deus, sinal de que o mundo aos poucos vai melhorando, a religiosidade é essencial para um mundo mais habitável.
Não importa a crença, o que vale é o tamanho da fé, Jesus deu seu exemplo andava com ladrões e prostitutas, contrariando o ditado “Diga-me com quem andas”...nos ensinou: “Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou “, e finalmente mostrou que também podia ser falho, humano, quando confessou que também hesitava, e pediu :””Pai afasta de mim este cálice ! “Mas que seja feita a sua vontade “,claro que existem pecados de diferentes proporções , como um homem que rouba pra comer, e aquele que rouba milhões que poderiam alimentar e tirar da miséria milhares de pessoas, mas deixemos para a justiça,(a dos homens é cega, e falha), a divina! Cada um com seu pecado, todos nós,(me enquadro) temos nossa conta para ajustar, e disso ninguém pode fugir !
Mas enquanto essa hora não chega vamos vivendo e procurando nos adequar a esse mundo, nada justo, e desigual, tentando viver nossos sonhos e desejos, agora um pouco mais complexos, já que acompanhamos a evolução, a modernidade, e o que era mais simples, se tornou mais sofisticado e exótico, antes o sonho era o de somente pisar na lua, agora desejamos habitá-la, e talvez dividí-la em condomínios, ou resorts, já que daqui a algum tempo será impossível mesmo viver na terra.
Cristhiane Ortiz
Formada em Letras pela Universidade do Estado de Mato Grosso/Mestranda em Linguística na Universidade do Estado de Mato Grosso.