A violência doméstica e familiar acontece em várias famílias, não é segredo para ninguém. Aliás, ela, essa violência, ocorre onde se espera, e, também, onde menos se espera. Não há raça, credo, condição financeira, religião e grau de escolaridade que possam a conter. E, porque, muitas mulheres resolvem não seguir à diante, quando procuram ajuda?
O diagnóstico do gênero feminino que passa a sofrer violência doméstica é visível. A mudança de comportamento delas é um sinal mais que evidente. Mesmo assim, muitos e muitas presenciando a alteração repentina da vítima, resolvem se omitir. Percebe-se que elas estão sendo premidas de muitas situações, porém, a sociedade é cruel nessas situações. “Ora, vou intrometer, e depois eles ficam juntos?” E tem mais a famosa: “Briga de marido e mulher...”. “Ruim com ele, pior sem ele”.
É... Triste... As frases acima tem deixado mulheres serem vítimas de cruéis assassinatos todos os dias. A taxa de feminicídio no Brasil é a 5ª maior do mundo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde. Foi um dos crimes que mais aumentou no ano de 2019. A maioria deles incide dentro de casa. De dez mulheres mortas, oito advieram diante de filhos e filhas.
E elas morrem dentro de casa, em delitos cometidos por seus “Amores” ou “Ex-amores”. E aqueles e aquelas que podiam fazer algo para evitar essas mortes, sintam-se culpados e culpadas, quando sabem da existência de relacionamento abusivo, e nada fazem. Acham que estão a ajudar em não se intrometer. Todavia, vidas poderiam ter sido salvas, com conselhos e demonstrações a elas de que vivem de maneira tóxica os relacionamentos. Óbvio que a vontade da mulher em continuar o relacionamento é opção dela, pois, essa é insubstituível. No entanto, mostrar que está vivendo perigosamente é obrigação de todos e todas.
Existe grande desafio em fazê-las entender, muitas vezes, que estão vivendo a violência doméstica. Entretanto, a omissão é muito grave. A imprensa noticiou, dias atrás, a agressão que a vítima Milena Bemfica foi submetida. Ela é esposa do jogador de futebol do São Paulo, conhecido como Jean. Ele foi preso nos Estados Unidos por referida agressão, em que oito socos foram desferidos no rosto dela diante das filhas. Pelo noticiado midiaticamente, a mulher preferiu não seguir com a ação, dizendo que isso acontece mesmo em família. Pelo visto, Milena deixou de representar formalmente contra o jogador, ainda que gravemente ferida na face. Várias razões, dentre algumas: para não prejudicar as filhas e a carreira do jogador.
A realidade de Milena não é diferente de tantas outras mulheres. Diariamente elas resolvem desistir das medidas protetivas de urgência, ou, ainda, renunciar ao direito de representação. No Brasil, em havendo lesão corporal, o processo criminal seguirá, independentemente da vontade delas. Parece mentira, mas elas são coagidas por diversas pessoas conhecidas dele e dela para manifestarem a vontade de extinção do processo. A compreensão é pequena de que atitudes como essa podem ocasionar feminicídios.
O enfrentamento é primordial! Frases a desencorajá-las nutrindo o ciclo da violência doméstica e familiar pode custar a vida de muitas.
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual.