Mato Grosso terminou 2019 com mais de 20,1 mil novos processos de violência doméstica. Novos processos de feminicídio também aumentaram em 279% entre os anos de 2016 e 2019, saindo de 29 para 110. Os dados estão no Painel de Monitoramento da Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgados nesta segunda-feira (9).

Coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública, Rosana Leite afirma que o aumento de processos representa que o Estado é grande atuante no enfrentamento à violência doméstica e familiar, por cumprir integralmente a Lei Maria da Penha. “Existe certa confiança do gênero feminino fazendo com que os números apareçam. O aumento no número de estatísticas mostra que as mulheres estão conhecendo a lei e confiando em sua efetividade”, salienta.

Entretanto, a defensora ressalta que o único aumento real de violência contra as mulheres, e que é assustador no Brasil inteiro, são os feminicídios. Para ela, a única explicação para o crescimento desse delito é a falta de compreensão dos homens quanto à independência do gênero feminino. Rosana frisa que o homem ainda não consegue conviver com a independência financeira da mulher. E, por outro lado, a mulher independente financeiramente não aceita viver violência doméstica e familiar. Assim, quando ela se vê sendo agredida, acaba com o relacionamento amoroso. Já os homens não se conformam com o término do relacionamento e comentem feminicídios.

“Não há motivo para o cometimento do feminicídios. Entretanto, os agressores estão assassinando as suas parceiras por não aceitarem o rompimento do relacionamento. Assim, a meu ver, não houve aumento no número de outros delitos, apenas dos feminicídios”, complementa.

Presidente do Conselho das Mulheres em Mato Grosso, Glaucia Amaral também atribui ao crescimento de processos o fato das mulheres denunciarem mais. “A violência doméstica está presente em muito mais lares do que podemos contar”, diz.

Já em relação aos feminicídios, Glaucia diz que o crescimento significa que todas as ferramentas de luta deram errado e que perdemos para a violência. “A violência em Mato Grosso está batendo recorde. Precisamos de ações imediatas de todos os poderes para não perdermos esta luta”, avalia.

O Brasil terminou o ano de 2019 com mais de um milhão de processos de violência doméstica e 5,1 mil processos de feminicídio em tramitação na Justiça. Nos casos de violência doméstica, houve aumento de quase 10%, com o recebimento de 563,7 mil novos processos.

Em 2016 foram 13,4 mil novos casos de violência doméstica na Justiça de Mato Grosso. Naquele ano o Estado tinha 833 casos a cada 100 mil mulheres. Registrou ainda 29 novos processos de feminicídio, 1,8 a cada 100 mil. Em 2019 foram 20,1 mil novos processos de violência doméstica, 1.184 casos a cada 100 mil. O ano fechou com 110 novos de feminicídio, 6,4 por cada 100 mil mulheres.