Em quadro de desidratação e desnutrição, animais estão desorientados, buscando alimentação e água, segundo observou o senador Wellington
Os incêndios florestais que afetam rigorosamente o Pantanal este ano trará consequências ainda mais graves para a vida na região, entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Um deles, já de imediato, é a ‘fome cinzenta’. O alerta foi feito ao senador Wellington Fagundes (PL-MT), presidente da Comissão Externa Temporária do Pantanal, pela médica veterinária Carla Sassi, que integra uma das equipes de resgate de animais feridos pelos incêndios.
Fagundes esteve nesta quinta-feira, 24, acompanhando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em inspeção ‘in loco’ as regiões mais atingidas pelo fogo. Ele passou praticamente todo o dia conversando com técnicos, especialistas e com equipes operacionais que trabalham intensamente para combater os incêndios.
Os animais que não foram vítimas dos incêndios florestais, de acordo com a médica veterinária do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAS), estão enfrentando dificuldades para encontrar comida e água. “Muitos em quadro de desidratação e desnutrição, estão desorientados, buscando alimentação e água” – ela explicou. Para tentar reverter a situação, foram instalados 80 cochos de água e comida ao longo de 145 quilômetros da Transpantaneira.
O trabalho, segundo relatou a médica, conta com a ajuda de voluntários, que abastecem esses pontos e que garantem subsistência mínima aos animais. “A logística é muito complicada. Tudo é muito longe. Praticamente não tem internet. O trabalho começa cedo, mas não tem hora para parar” – ela enfatizou.
O outro fenômeno que deverá trazer consequências duras ao Pantanal é a ‘decoada’, que prevê a mortandade de peixes em função da deterioração da qualidade da água dos rios e lagoas marginais. Com os incêndios florestais recordes na história da região, a tendência é que a água se torne escura, com muita matéria orgânica e falta total de oxigênio dissolvido. O pH também deverá baixar consideravelmente.
Além disso, o dióxido de carbono livre, gás importante para a respiração dos peixes, deverá aumentar consideravelmente. Em 2011, quando após incêndios relevantes no Pantanal, o CO² teve seus valores aumentados em torno de 10 vezes. Sob altas temperaturas, segundo estudos, essas alterações provocaram a morte e agonia de várias espécies de peixes e arraias, os quais encontravam-se na superfície da água em busca do oxigênio, na interface água-ar. A ‘decoada’ deverá ser registrada com o período mais intenso das chuvas.
“É um quadro desolador, extremamente grave, de muita tristeza” – avaliou o senador Wellington Fagundes, que acompanhou o trabalho das equipes e colheu informações que, segundo ele, ajudarão a subsidiar melhor as ações emergenciais, necessárias neste momento.
Para Wellington, os incêndios florestais chegaram ao nível recorde no Pantanal causando um prejuízo incalculável para o bioma, que é um Patrimônio da Humanidade. “Por isso, é preciso, infelizmente, reconhecer que a situação registrada mostra que se perdeu o controle. Ficou muito claro que faltou planejamento e que as decisões foram tardias” – frisou. Segundo o senador, “se não houver assistência pessoal, de ir lá orientar com técnica, com pesquisa, com cientistas, o Pantanal poderá acabar. E não é isso que a gente quer”.
Equipes de reforço
Apesar da redução na ordem de 80% no número de focos de incêndios comparado à semana anterior, o Pantanal registra o número mensal mais alto de focos de incêndio desde o início da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1998: foram 6.048 pontos de queimadas registrados no bioma desde o dia 1º de setembro até quarta-feira,23, o dado mais recente. O recorde mensal anterior era de agosto de 2005, quando houve 5.993 focos de incêndio no bioma.
Somente no Parque Estadual Encontro das Águas, que abriga grande concentração de onças-pintadas, a destruição alcançou 85% dos cerca de 108 mil hectares, segundo cálculos do Instituto Centro de Vida, que monitora queimadas no País. Fundamental para a preservação do felino, a área atrai milhares de turistas ao Pantanal todos os anos.
Um grupo de 40 militares do Distrito Federal, Goiás, Pará e do Paraná se juntaram na quinta-feira às equipes que já atuam há mais de um mês na região. Foi levado mais um helicóptero para ser usado no transporte de tropa para áreas de difícil acesso.